Enner Valencia recebeu uma das maiores provas de carinho possíveis dos colorados a um jogador que nem sequer entrou em campo. O equatoriano de 33 anos foi ovacionado por milhares de torcedores que lotaram o Gigantinho em uma apresentação à altura do terceiro maior goleador da última temporada europeia.
A festa no ginásio antecedeu uma entrevista coletiva realiazada logo depois, na sala de imprensa do Beira-Rio. Foram os últimos atos das primeiras 20 horas do atacante em Porto Alegre. Uma segunda-feira intensa do início ao fim.
Não tinha nem meia hora do dia ainda e uma multidão aguardava o jogador no aeroporto. A madrugada parecia uma tarde de domingo no Beira-Rio. Os colorados que foram ao Salgado Filho, e chegaram cedo, ainda puderam brincar e se divertir com a familia Valencia. A esposa dele, Sheron, estava com os quatro filhos: Beira, Amelia, Annalia e David. Vestidas com camisas do Inter, as crianças deram um show de carisma e simpatia.
A chegada do jogador, no voo do Panamá, conexão de Porto Alegre com Miami, onde ele estava visitando os pais, foi celebrada pela torcida como uma entrada em campo. Música personalizada, aplausos e, do lado de fora da porta, sinalizadores. Boné colorado na cabeça, o atacante entrou em uma van. E teve gente até pendurada na porta do veículo. Uma procissão pela pista.
Ao longo do dia, o jogador cumpriu agendas burocráticas, como exames e testes físicos no CT Parque Gigante. Depois, fez um tour pelo Beira-Rio, acompanhado de assessores do clube e até encontrou um jornalista equatoriano, que postou um vídeo no estádio.
Pouco antes das 19h, a família Valencia entrou no ginásio. A essa altura, lotado (ou bem perto disso). O ator Zé Victor Castiel foi o mestre de cerimônias. Quando anunciou, durante a leitura do currículo do novo reforço colorado, que apenas Haaland e Mbappé fizeram mais gols do que ele em toda a temporada europeia, o Gigantinho irrompeu em aplausos.
Começaram, a partir dali, as apresentações artísticas. Primeiro, a banda da Popular, com os hits das arquibancadas. Na sequência, o telão mostrou um vídeo com recados para Valencia e a torcida. Falaram o bicampeão da Libertadores Rafael Sobis, os jornalistas Luciano Potter e Renata Fan, os músicos Neto e Ernesto Fagundes e várias crianças sócias coloradinhas. Subiram ao palco Thedy Corrêa e sua filha Stella, e cantaram duas músicas.
Mais vídeo, agora com Bolivar, também bicampeão da América, os comunicadores Lelê Bortholacci, Fabricio Carpinejar, mais associados e o comediante Gio Lisboa, que puxou o coro: "Uh, terror, Valencia é matador", seguido pela torcida. Foi a vez, então, de Rafael Malenotti comandar a galera com os sucessos dos Acústicos e Valvulados, e a presença de espírito de mudar a letra: "Espero que o fim da tarde venha com o Enner...".
Para não dizer que houve só festa, o Gigantinho presenciou um certo constrangimento. Chamado ao palco junto a representantes da empresa que patrocina e financia parte do salário do atacante, o presidente do Inter, Alessandro Barcellos, foi vaiado e até hostilizado. Para reduzir o incômodo, Castiel lembrou do jogo de quarta-feira, pediu apoio ao time e logo organizou a chamada. Dividiu o público em três, para que gritassem: "Va", "Len", "Cia". A torcida respondeu. Foi a chamada do povo.
Às 19h50min, Enner Valencia apareceu no palco. Aí veio a catarse. Gelo seco, papel, piroctenia. Com os filhos e a mulher, o equatoriano foi ao centro e abanou ao público. Suas primeiras palavras:
— Muito obrigado pelo carinho, estou emocionado por tudo o que recebi e espero retribuir isso tudo em campo, dar muitas alegrias à torcida colorada.
Crianças da Fundação de Educação e Cultura do Inter (Feci) se juntaram para reforçar o compromisso do atleta com as causas sociais, que lhe dão até o apelido de Superman no Equador. Com o bumbo da torcida na mão, o jogador juntou-se à festa da torcida: "Valenciaaaa, Valenciaaaa, é o Enner Valencia" ladeado pelos filhos que pulavam no ritmo da batida do tambor. O jogador deu um último recado, mas uma das meninas pegou o microfone e falou ainda mais, mesmo que fosse incompreensível o que dizia. Tanto faz, foi aplaudida no final.
A torcida fez a parte dela, mais uma vez. Agora, é tudo com o goleador.