Uma bola solta na estreia do ano contra o Juventude. Um chute de fora da área que passou no Gre-Nal. Uma saída de gol errada na Libertadores. Três lances que fizeram os colorados voltarem a erguer a sobrancelha da mesma forma como aconteceu na temporada passada em relação à titularidade do gol do Inter. O ciclo vivenciado por Daniel no começo de 2022 se repete com Keiller. O padrão tem longos anos sujando as luvas somente nos treinamentos, ascensão nas primeiras oportunidades e dificuldades para a afirmação.
Por 329 partidas, Danilo Fernandes e Marcelo Lomba se revezaram na meta colorada, o que brecou o espaço da dupla formada nas categorias de base. Daniel passou a ser primeiro nome a aparecer na escalação dos técnicos do Inter somente em 2021, quando tinha 26 anos e 10 apenas jogos como profissional.
O primeiro ano foi de elogios e defesas. Afinal, mostrou agilidade e tempo de reação apurado no Brasileirão. Mas as defesas deram espaço para as falhas na virada da temporada até perder a vaga para Keiller em setembro, após sofrer uma lesão ocular.
Enquanto Daniel brilhava em 2021, Keiller fazia o mesmo emprestado à Chapecoense, já que as oportunidades não estavam no horizonte. A queda do clube catarinense não manchou suas atuações, tanto que retornou ao Beira-Rio.
Foram alguns meses como sombra de Daniel até assumir a titularidade em setembro. Aos 26 anos, vedou o gol colorado nas rodadas finais do Brasileirão. Virou o ano, apareceu a inconstância.
— A parte psicológica é muito importante. Esse é o momento em que o treinador de goleiros e o goleiro precisam conversar. O preparador deve passar sua experiência com outros goleiros em situações parecidas — avalia Giuliano Roxo, preparador de goleiros do Inter por 16 anos, contando base e profissional, e atualmente no Campinense.
Os dois casos estão longe do ineditismo no Beira-Rio. Nos anos 1990, César Silva e Preto viveram situações similares. O primeiro subiu aos profissionais em 1988, mas virou dono da posição em 1995. César tinha 29 anos. Nos sete anos de espera, foi emprestado a Mogi Mirim, Esportivo e Cerro Porteño para ganhar experiência. Após a saída de Sérgio Guedes, ganhou sua chance, mas antes de terminar o Gauchão, Goycochea chegou para vestir a camisa 1.
Não demorou muito para a história se repetir. Em 1999, época de cofres raspados como agora, André Doring foi vendido ao Cruzeiro. Seu companheiro desde os tempos de base, com quem alternou a titularidade, Preto se postou embaixo das traves pela primeira vez como titular da posição aos 26 anos. Foram sete partidas no Brasileirão até lesionar a mão. Quando voltou, a posição tinha novo dono com João Gabriel.
— É frustrante esperar por tanto tempo porque se ganha experiência com os jogos. É difícil o Keiller repetir as atuações do ano passado, pois ele foi muito bem mesmo. A questão, agora, é não perder a confiança. Também depende um pouco do momento do time, já que o goleiro não pode chamar o jogo, o jogo que vai até ele — relata Preto.
O momento do time de Mano Menezes está longe de ser agradável. A equipe joga menos em comparação com o ano passado. Os números de Keiller ajudam a explicar a fase que irrita a torcida. Ano passado, Keiller defendeu 83% dos chutes.
Esse ano, 76%, de acordo com a plataforma de análise Wyscout. O portal apresenta outros índices específicos para goleiros. O mais aprofundado é o chamado "gols evitados". A métrica leva em conta os gols sofridos esperados e as defesas efetuadas pelo goleiro.
Em 2022, Keiller levou 10 gols, com os adversários tendo criado chances para marcar 15,48 gols. Nesta temporada, sofreu a mesma quantidade de gols com os adversários tendo criado chances para marcar 9,07. Um índice negativo.
É essa métrica que traduz em números os lances contra o Juventude, no Gre-Nal e na Libertadores. Coincidência ou não, todos aconteceram quando o jogo estava 0 a 0.
Os números de Keiller
2022
- 13 partidas
- 10 gols sofridos
- 15,48 gols sofridos esperados
- 6 jogos sem sofrer gol
2023
- 16 partidas
- 10 gols sofridos
- 9,07 gols sofridos esperados
- 9 jogos sem sofrer gols
Lances mais contestados
- Inter 2x2 Juventude
Primeiro gol do Juventude sai após ele soltar uma bola fácil. - Grêmio 2x1 Inter
Primeiro gol do Grêmio saiu um chute de fora da área, defensável para muitos - Indep. Medellín 1x1 Inter
Saída errada após cruzamento resultou na abertura do placar