Para marcar o Dia Internacional da Mulher, a reportagem de GZH assistiu a jogos ao lado de torcedoras da dupla Gre-Nal. No Beira-Rio, vimos a estudante de Jornalismo Tainá Costa, 23 anos, vibrar com a vitória colorada sobre o São José por 2 a 0. O jogo válido pela 8ª rodada do Gauchão ocorreu no dia 16 de fevereiro. Mas a alegria de ver o time triunfar em campo não vem sem uma dose de superação. As torcedoras contam sobre as agruras enfrentadas por elas em um ambiente que ainda carrega preconceito contra a presença feminina. Dentro e fora do campo.
Noite quente em Porto Alegre em 16 de fevereiro de 2023, uma quinta-feira. O Inter recebe o São José pela 8ª rodada do Gauchão diante de 15 mil torcedores. O jogo não tem caráter decisivo nem atração especial. Mas, para a estudante de Jornalismo Tainá Costa, 23 anos, todo jogo é uma Copa do Mundo. Isto tem relação com sua infância.
Natural de Belém, no Pará, Tainá mora em Porto Alegre desde os cinco anos com os padrinhos, que ela considera como pais. Mariana e Romualdo Hallberg têm ainda mais três filhos, Diana, Marcos e Silvia. Tainá é a única colorada fanática. A partir dos 13 anos, o clube entrou na sua rotina. Frequenta jogos, assiste pela TV, consome notícias, é sócia. Os pais gaúchos encorajaram ela a estar nos jogos, pagando a mensalidade, comprando ingresso, camisas. Os pais biológicos festejam juntos a distância. Até com o namorado, Gabriel Rucco, 25 anos, o assunto é futebol. Ele é preparador físico nas categorias de base do São José.
O ritual pré-jogo é complexo para ela. Em jogo no meio de semana, Tainá leva seu fardamento para o trabalho, de manhã. Sai de casa, no bairro Jardim Isabel, e atravessa a Capital de ônibus até a Zona Norte, onde trabalha como social media. Ao final do expediente, muda de roupa e vai para o Beira-Rio. Antes da pandemia, seu parceiro de jogo era seu pai adotivo. Por precaução, ele prefere ficar em casa hoje.
Então, os parceiros da Tainá agora são amigos, a maioria da faculdade. Quando a bola rola, a emoção cresce:
— Torço, fico triste, com raiva. Mas não importa, sempre tô aqui.
Na partida contra o São José, que começou às 21h30min, ela assistiu acompanhada de dois amigos, o Pedro Henrique Pinto e o Vinicius Cadó. Normalmente, o grupo que assiste aos jogos juntos é maior. O primeiro tempo terminou em empate sem gols, o que deixou a estudante nervosa, e mais silenciosa do que o normal, sempre mexendo as mãos e inquieta na cadeira. Quando o adversário atacava, Tainá gritava.
Então, aos 26 minutos do segundo tempo, a emoção explodiu, quando Pedro Henrique abriu o placar. Tainá correu para abraçar os amigos. Aos 37, Lucca ampliou para 2 a 0. Tainá festejou e relaxou. O semblante cansado que a social media tinha quando chegou ao estádio, deu lugar a um rosto sorridente:
— Vale a pena, hoje saio daqui feliz.
Depois da partida é mais uma maratona. Quase uma hora de ônibus, às vezes sozinha, até em casa. Até tomar banho, jantar e deixar as coisas prontas para o dia seguinte, é mais uma hora até conseguir descansar.
— No próximo jogo é tudo de novo, tudo pelo nosso time do coração.
E não é só o time masculino que a Tainá acompanha. As Gurias Coloradas também estão presentes na vida dela. A torcedora acompanha o futebol feminino do Inter desde 2019. Ela esteve na partida contra o Corinthians, na ida da final do Brasileirão de 2022, que registrou na época um recorde de público da categoria no Beira-Rio: 36.330 torcedores (o jogo em São Paulo superou esse número na semana seguinte).
— Vejo mulheres e senhoras irem ao estádio com as filhas. Eu quero passar isso pra minha filha, se um dia eu tiver uma. Não é só futebol. É clichê, mas é verdade. Quanto mais mulheres se interessarem, mais fácil será para a gente curtir o estádio.