Esmeraldas é uma das 24 províncias que compõem a República do Equador. No litoral norte, quase na Colômbia, a região se destaca das demais por ser considerada a eterna fábrica de jogadores da seleção equatoriana. A prova é que dela vieram 10 dos 26 convocados de Gustavo Alfaro na última Copa do Mundo. Entre eles, natural de San Lorenzo, estava o atacante Enner Valencia, 33 anos, capitão da Tri e atacante que assinou pré-contrato com o Inter.
Autor de três gols no Mundial do Catar e outros três no do Brasil, em 2014, Valencia sempre revela em entrevistas que teve uma infância difícil. Quando pequeno, ordenhava vacas e vendia leite para comprar chuteiras. Ele começou a carreira nas categorias de base do Caribe Júnior, de Sucumbíos, e duas temporadas depois, com 19 anos, chegou ao Emelec, um dos principais clubes do país.
Morando no estádio e superando uma série de dificuldades, chegou ao elenco profissional pelas mãos do técnico argentino Jorge Sampaoli, que viu no jogador potencial para ser um de seus titulares na Libertadores de 2010. Rival no Grupo E do Inter, que viria a erguer a taça naquele ano, Enner esteve no Beira-Rio na partida de estreia na competição, quando o Colorado venceu os equatorianos por 2 a 1, e também no returno, o 0 a 0 no Equador.
— Cheguei a morar no Estádio Capwell, e muitas vezes não tinha o que comer, mas sabia que era preciso demonstrar amor pela profissão. Com Sampaoli, aprendi a ter caráter, a seguir sempre em frente e a não me dar por vencido — disse o jogador em entrevista do jornal El Universo.
Foram quatro temporadas no Emelec, ascendendo do status de jovem promessa ao de principal jogador do time, contribuindo para título equatoriano de 2013 e ganhando o prêmio de artilheiro da Copa Sul-Americana.
Nesse ano, garantiu sua transferência ao Pachuca por 4,5 milhões de dólares, e foi no México que, de fato, deixou de ser um ponteiro incisivo para ser um centroavante goleador, chamando atenção de Reinaldo Rueda, então técnico do Equador, e da Premier League. Os 18 gols na Liga MX fizeram Enner Valencia multiplicar seu valor de mercado, e o West Ham quebrar seu recorde para pagar 15 milhões de libras pelo atacante.
Valencia ficou quatro anos na Inglaterra. Entretanto, a trajetória não foi de muitos gols, como se esperava. O atacante enfrentou obstáculos para se firmar a partir da segunda temporada, mas se mostrou um jogador útil aos técnicos, especialmente pela versatilidade no ataque.
Depois de uma passagem por empréstimo no Everton, em 2017 voltou ao México para retomar a fase artilheira no Tigres. Formando dupla de ataque com o francês André Gignac, marcou 34 gols nas três temporadas em que esteve servindo o time de Monterrey. Foi eleito melhor jogador do Campeonato Mexicano e assegurou o título da Liga dos Campeões na Concacaf na temporada de estreia.
Em 2020, Enner encerrou seu período de Tigres e foi atuar no Fenerbahçe, onde deve cumprir seu contrato até junho, antes de desembarcar em Porto Alegre para vestir a camisa colorada. Por lá, vive sua melhor fase goleadora e é considerado “pupilo” de Jorge Jesus, técnico do time do lado asiático de Istambul.
Antes da última Copa do Mundo, viralizou nas redes sociais a cena em que o português se despedia de seu atacante antes da viagem ao Catar. No Fener, são são 49 gols em três anos —23 deles na atual temporada, período em que já esteve em campo em 30 partidas.
Referência na seleção do Equador
Os dois primeiros gols do Mundial do Catar foram marcados pelo Enner Valencia. Com a faixa de capitão no braço, compôs o ataque com o também versátil Michael Estrada. Mostrou na última Copa do Mundo ser a grande referência da seleção equatoriana. Assumiu esse protagonismo a partir de 2013, quando a morte precoce de Chucho Benítez deixou o Equador órfão do seu principal jogador.
Ele acumula duas Copas do currículo (2014 e 2022), mais quatro Copas América (2015, 2016, 2019 e 2021) e Jogos Pan-Americanos. Os 38 gols em 77 partidas lhe colocam como o maior artilheiro servindo seu país.