Após deixar o cargo de vice de futebol do Inter, Emílio Papaléo concedeu entrevista exclusiva a GZH, nesta sexta (8), em que explicou os motivos para a sua saída do clube. Em uma conversa de 45 minutos, o agora ex-dirigente citou a reformulação no elenco, a profissionalização e a pacificação como legados da sua passagem pelo departamento e afirmou que deixa o Colorado no caminho certo para conquistar títulos.
Papaléo pediu o desligamento ao presidente Alessandro Barcellos em virtude da dificuldade de conciliar as suas funções no clube com a sua atividade profissional como desembargador do Tribunal Regional do Trabalho (TRT) da 4ª região.
Confira a íntegra da entrevista de Emílio Papaléo a GZH:
Por que o senhor decidiu deixar o cargo de vice de futebol?
Esta decisão foi tomada já há algum tempo e tem a ver com a incompatibilidade que eu estou vivenciando entre as atividades de vice de futebol e as minhas atividades profissionais. Com a volta do trabalho presencial no tribunal, se tornou difícil conciliar as duas coisas. Assumi o futebol (em agosto de 2021) no auge da pandemia, com jogos sem torcida e com a minha atividade profissional 100% no home office. De um mês para cá, o cenário mudou. A minha atividade está me consumindo tempo e não é mais possível continuar. Então, foi por este motivo. A decisão já está tomada há algum tempo, foi comunicada ao presidente e, em comum acordo, escolhemos o melhor momento para comunicá-la, de modo que o foco no futebol não fosse desviado. Mas é importante dizer que não há crise e nem divergências. Saio pela mesma porta que entrei, a porta da frente.
A sua saída ocorreu apenas por conta disso? Não teve nenhum outro motivo relacionado a algo que ocorreu no futebol?
Não, nada. Sou extremamente grato ao Inter, especialmente ao presidente Alessandro Barcellos e ao Conselho de Gestão, que me deram essa oportunidade de servir ao meu clube do coração. Fico muito agradecido. Acho que foi uma experiência muito boa. Foi apenas por este motivo. Não há outra motivação para a minha saída que não a necessidade de atender a minha atividade profissional.
O senhor disse que a decisão já está tomada há algum tempo. O senhor não cogitou voltar atrás e permanecer no cargo após a virada histórica sobre o Colo-Colo?
De fato, a decisão já estava tomada. Eu só estava aguardando, pensando no melhor para o clube, o momento adequado para comunicá-la. Conversei com o presidente Alessandro, pedi que fosse reunido o Conselho de Gestão, que me deu apoio e a quem devo satisfações. Então, nas presenças dos vices Dannie Dubin, Arthur Calleffi, Luis Carlos Bortolini e Humberto Busnello, manifestei as dificuldades que estou tendo de conciliação de tempo. A mim, não serve continuar na vice-presidência de futebol sabendo que não vou poder me dedicar como acho que devo. Portanto, essa minha decisão é naturalmente irrevogável. É claro que esta vitória maravilhosa que o Inter nos brindou na terça mexe com o meu interno. Puxa vida, estou saindo logo agora que o time está consolidando a sua performance e reencontrando a sinergia entre time e torcida?! E é também algo inédito, pois não recordo na história recente do clube um vice de futebol ter saído em um momento bom e estável do time. Mas a decisão já estava tomada. Espero que esta vitória maravilhosa contra o excelente time do Colo-Colo sirva como referência para que este bom momento do Inter dure o maior tempo possível para que consigamos ainda neste ano levantar um caneco. Saio não com a sensação do dever cumprido, pois não houve tempo para isso, mas saio muito leve e satisfeito, entendendo que o time está no caminho certo e que de alguma forma eu pude colaborar para isso.
Essa recuperação da sinergia entre time e torcida credenciam o Inter para buscar o título da Copa Sul-Americana? Este é um legado da sua gestão como vice de futebol?
Com toda modéstia, acho que colaborei na formação desta equipe. Não é um time, é um plantel. Tivemos uma performance muito boa em termos de postura, resiliência e reação quando não estavam na equipe um dos maiores destaques, que é o Wanderson. O Alan Patrick saiu do time com um desconforto muscular quando estávamos com o placar de 2 a 1. E conseguimos golear o Colo-Colo e alcançar o objetivo sem esses dois jogadores em campo. Isso demonstra que temos plantel e material humano para fazer frente às dificuldades. Acho sim que o Inter se credencia como postulante a um inédito bicampeonato da Copa Sul-Americana e acho que o time vai trazer ainda mais alegrias ao torcedor colorado no Campeonato Brasileiro. Isso é, não digo um legado, mas uma contribuição que dei. A história mostra que, quando direção, comissão técnica, time e torcida estão irmanados e há um ambiente político favorável, o Inter sempre foi vitorioso. É nisso que eu acredito.
Na sua avaliação, que legado então o senhor deixa para o clube?
Acho que passamos por momentos difíceis. Todos sabem, assumi naquela vitória de 4 a 0 sobre o Flamengo no Maracanã e, de lá para cá, nós tivemos momentos interessantes. Com o Diego Aguirre, chegamos a disputar a parte de cima da tabela, embora tenha havido aquela desmobilização depois do Gre-Nal (vitória colorada, por 1 a 0, em 6 de novembro de 2021). Mas quero dizer que esta gestão não prometeu títulos neste primeiro momento. Há toda uma proposta de readequação das coisas. Sobre o legado, ninguém faz nada sozinho, mas tenho a convicção de que colaborei para que o departamento de futebol fosse composto por profissionais de ponta na gestão executiva e técnica, como o William Thomas e o Paulo Autuori. Trouxemos jogadores importantes, fizemos 14 contratações na última janela e entregamos ao Mano um plantel competitivo e capaz de dar grandes alegrias ao torcedor. Estou bastante otimista em relação ao futuro. Neste ano ou no ano que vem, não tenho a menor dúvida de que o Inter dará um salto de qualidade e trará os títulos que o torcedor tanto anseia. O legado acho que foi colaborar na pacificação do clube, na restruturação do departamento de futebol e melhorar a autoestima do torcedor com as vitórias que estão acontecendo.
Por que o Inter se desmobilizou após a vitória no Gre-Nal de novembro do ano passado?
Hoje, revisando o passado com mais calma, vejo que fizemos uma mobilização muito forte para aquele Gre-Nal. Lembro de participar de uma reunião com todos os jogadores em que eu e o presidente falamos que eles estavam jogando pelo clube, que era uma questão institucional. Falamos que ganhar o Gre-Nal naquela situação era algo mais que grandioso. Fizemos uma mobilização incomum para aquele jogo, e deu no que deu. Conquistamos uma vitória espetacular, e a torcida comemorou como se fosse um título. Mais tarde, por conta desta vitória, efetivamente na contagem de pontos, o nosso tradicional rival foi rebaixado. Nós queríamos ganhar o Gre-Nal. O rebaixamento do adversário para nós, como dirigentes, não interessava, mas isso deu uma dimensão sobre o que aconteceu. Foi uma vitória épica, e acho que pagamos um pouco pela ressaca da festa. Houve uma sensação de dever cumprido e de final de festa. Aí, houve uma desmobilização e não conseguimos mais retomar. Acho que isso foi realmente um problema. É uma crítica que procede.
Por que o departamento de futebol escolheu Alexander Medina para ser o treinador em 2022 e por que o trabalho do uruguaio não deu certo?
O Medina é um profissional e um ser humano sobretudo fora de série, assim como todos da sua comissão. É um sujeito afável, educado, bom de conversar, de bom humor, sempre para cima e com grandes qualidades como treinador. Porém, duas coisas vitimaram a Era Medina na minha opinião. Uma foi a falta de tempo. Aqui temos a cultura do resultado. A torcida está sofrendo há anos na busca por um título importante e, com certa razão, a tolerância do torcedor é muito pequena. Então, a gente não pode admitir um trabalho que, após 100 dias, não dá resultado no campo. Para o Medina, na minha avaliação, faltou tempo e não competência. E outro fator é que não tínhamos com o Medina o repertório técnico de jogadores que temos hoje. Essa crítica não passa pelo Medina, ele fez o que pôde. Eu atribuo a isso o insucesso do Medina no Inter.
A atual direção apostou desde o início da gestão em técnicos estrangeiros e tentou promover uma “ruptura” na filosofia de jogo, adotando um futebol mais ofensivo. Com a escolha de Mano Menezes, é correto dizer que o clube acabou abandonando esta ruptura?
Isso é relativo. No fim do ano passado, o Aguirre era o treinador certo para o momento certo. Hoje, o Mano Menezes também é um técnico certo para o momento certo. É um treinador consagrado em grandes clubes e na Seleção Brasileira, tem uma vivência importante da “aldeia”, é um excelente profissional e é uma pessoa fora de série. O presidente Alessandro é um abnegado, talvez seja o único presidente dos últimos anos que realmente veio da arquibancada. Ele não tinha um “pedigree” do Internacional, não tinha familiares no clube e nem participado intensamente de outras gestões. Ele foi eleito presidente unicamente pelas suas propostas. Ou seja, o torcedor comprou a proposta que o presidente apresentou na eleição juntamente com o seu Conselho de Gestão. Mas, ainda assim, essa gestão teve o grande mérito de ter reconhecido erros que cometeu no início e percebido que uma correção de rumo era necessária. Logo, a gestão não ficou refém de um projeto. Ela adaptou o projeto, mantendo os pilares da profissionalização e do modelo de jogo propositivo.
Foi feita então uma adaptação nesta ruptura?
Não sei se o termo correto é “ruptura”. Isso é um problema. Temos que terminar com essa cultura no futebol de que, passado o trabalho de uma gestão de outra facção política, tudo que se fez está errado. A maturidade de um departamento de futebol está em cultivar processos, procedimentos e práticas consagradas que estão dando certo. Não podemos conceber mais, por exemplo, a ausência de um diretor técnico. Não há fórmula mágica. Temos que ter a capacidade de conciliar os projetos políticos que encantaram o associado com as mudanças necessárias ao longo do tempo. Não há planejamento estratégico que resista, por exemplo, a uma eliminação precoce como aquela contra o Globo.
Já que o senhor tocou neste assunto, o que ocorreu naquela noite em Ceará-Mirim? Como foi possível um clube com a grandeza e o investimento do Inter ser eliminado para o Globo, que disputa a Série D?
Tive uma conversa com o Medina na época sobre isso. Ele disse que, de tudo que ele tinha feito, a única coisa que ele achava indesculpável e injustificável era a derrota para o Globo. Nem ele sabe o que aconteceu. Foi uma desmobilização. Talvez tenhamos entrado com aquela história do “já ganhou”. Enfim, foi algo para virar a página e esquecer.
Sob a sua gestão, o Inter fez uma reformulação no elenco. Por que isso ocorreu e como foi esse processo?
Ninguém faz nada sozinho. Tivemos a participação importante do vice de futebol que me antecedeu, o João Patrício Hermann. Mas o futebol requer tempo de maturação. Nada acontece de um dia para o outro. (A reformulação) Era um planejamento e acho que está dando certo. Temos um comitê de futebol composto por seis pessoas que trabalham diuturnamente em planilhas e cálculos, e isso foi um planejamento com o objetivo de mudar a fotografia e renovar algumas situações. Mas claro que temos algumas questões contratuais e financeiras a serem levadas em consideração e, muitas vezes, a chegada de um jogador de destaque nacional ou internacional só pode ocorrer com o alívio na folha de pagamento após a saída de um ou outro. Esse é o desafio que os homens do futebol vivem quase diariamente. Mas acho que estamos na trilha certa, e o legado é justamente esse: a possibilidade de melhorar a qualidade e a quantidade do plantel e de aperfeiçoar as questões técnicas do departamento. Acho que estamos no caminho certo.
O Inter foi provavelmente o clube brasileiro que melhor aproveitou a abertura na janela possibilitada pela guerra na Ucrânia. Como o departamento de futebol chegou aos nomes de Vitão, De Pena, Alan Patrick e Wanderson?
Sobre o De Pena, especificamente, o crédito deve ser dado ao Medina. O Medina quis trazê-lo por ser o seu homem de confiança. E todos os outros fazem parte de um garimpo diário que fazem o nosso CAPA (Centro de Análise e Prospecção de Atletas) e a gerência de mercado, que trabalha incessantemente nessas condições. Estou satisfeito com essas contratações. São ídolos já da torcida, e o clube fará de tudo para contar com eles. O Vitão jogou pelo Palmeiras, mas o Wanderson nunca havia atuado no Brasil. Foi um garimpo. Ninguém sabia quem era o Wanderson e nem conhecia as suas características. E ele se integrou rapidamente ao grupo, é um grande sujeito. Estamos com plantel muito importante e muito qualificado.
O Pedro Henrique foi o grande personagem da vitória contra o Colo-Colo, mesmo não tendo sido uma contratação badalada. Como foi a contratação desse jogador e como o Inter chegou a este nome?
O Pedro Henrique foi mais um garimpo da nossa central de análise. Nossos profissionais avaliaram o jogador e submeteram o seu nome a mim, ao presidente e aos demais integrantes do futebol. Analisamos as suas características e detectamos que era um jogador muito importante no um contra um, agudo, eficiente e com preparo físico invejável. Quando ele ingressou no plantel, primeiro se ambientou de uma forma maravilhosa com nossos atletas e rapidamente começou a oferecer um futebol competitivo e trouxe confiança ao treinador e à comissão técnica. Além disso, o Pedro Henrique é uma figura humana maravilhosa, sempre de alto astral e que tem as suas raízes aqui no Rio Grande do Sul. Ele era uma aposta que tínhamos convicção e que surpreendeu na rapidez com que entregou o resultado que pretendíamos.
Um outro episódio marcante da sua gestão como vice de futebol foi a chamada “greve” dos jogadores por conta do não pagamento dos direitos de imagem. Por que aquele episódio ocorreu? Ficou alguma sequela na relação com o grupo dos jogadores?
Considero este episódio superado. Posso afirmar categoricamente que o ambiente é maravilhoso e que há hoje total harmonia entre departamento de futebol, jogadores, comissão técnica e direção. É importante dizer também que salários e direitos de imagem são tópicos diferentes e têm inclusive datas de pagamento diferentes. O salário é pago a uma pessoa física e os direitos de imagem são pagos a uma pessoa jurídica. Os salários jamais estiveram atrasados. Já o atraso de um, dois ou no máximo três meses nos direitos de imagem é uma realidade não só do Inter, mas dos grandes clubes brasileiros como um todo. Havia naquele momento uma programação prevista para pagamento dos direitos de imagem, que não ocorreu por problemas de fluxo bancário, e aí não houve como se obter o crédito naquele dia. Tanto que, se fosse problema de falta de dinheiro, o problema não teria sido resolvido no mesmo dia. Os atletas acharam por bem se organizar para protestar, no bom sentido, mas discordo do termo greve. Houve uma negociação, pois não teria sentido os atletas treinarem de má vontade. Por isso, se buscou uma reunião no mesmo dia para resolver a situação e tudo ficou estabilizado. Estou saindo mas é importante que o torcedor saiba que nós temos muitas dificuldades de fluxo de caixa e, então, essa situação (de atraso de imagem) pode se repetir. O ideal é que não se repita, mas os salários estão em dia e os direitos de imagem estão sob controle.
De fato é verdade que os atrasos nos direitos de imagem são comuns no futebol brasileiro. Mas uma atitude drástica como aquela tomada pelos jogadores não é comum. Por que as coisas acabaram chegando neste ponto?
Atribuo aquilo a um ruído de comunicação geral. A pior coisa é eu estar te devendo R$ 100, te falar que amanhã eu pago e chega amanhã e não te pago. Havia promessa de pagamento e, realmente, por conta de um problema bancário que não foi possível comunicar a tempo, não houve a efetivação do pagamento. Mas eu atribuo isso a um grande mal-entendido, que não deve se repetir em uma organização como o Internacional, mas que às vezes acontece.
O senhor disse no início da entrevista que colaborou para a pacificação do clube? O que na prática foi feito neste sentido?
Sempre defendi que os ex-dirigentes acumulam uma experiencia muito valiosa e que isso não pode ser simplesmente abandonado quando as pessoas saem do clube. Sempre defendi que os ex-presidentes e vices têm que participar do dia-a-dia e é o que pretendo fazer. Não pretendo me afastar do Beira-Rio. Tenho cadeira perpétua desde 1969 e não vou me afastar. Sobre a pacificação, procurei abrir as portas do departamento de futebol, trazendo conselheiros e ex-dirigentes que participaram de momentos importantes do clube. Ao longo deste período como vice de futebol, recebi no CT Pedro Paulo Záchia, Giovanni Luigi, Marcelo Medeiros, Luiz Fernando Záchia, Maurício Estrougo, Carvalho Leite, Alexandre Chaves Barcellos, Ary Marimon Filho, Mário Chaves, Perciano Bertolucci, Cláudio Lamachia, Ricardo Breier, Gustavo Paim, Léo Centeno, Gélson Pires, Raul Gudole, Ramiro Davis, Otávio Beylouni, Paulo Rogério, Lamana Paiva e César Schunemann. Eles foram ao CT, tomaram um café comigo, assistiram a um pouco do treino e reencontraram funcionários de suas épocas. Em alguns momentos, o presidente Alessandro participou junto do encontro. Também recebi o presidente do Conselho Deliberativo, Sérgio Juchem, o presidente do Conselho Fiscal, José Amarante, e vice-presidentes de outras pastas, como Guilherme Mallet, Cauê Vieira, Alexandre Dornelles, Carlos Massena e Jorge Avancini. Outros ex-dirigentes foram convidados, mas ainda não conseguiram ir por problemas de agenda, como Fernando Carvalho, Mário Sérgio Martins, Paulo Corazza, Ivandro Morbach e Lino Kieling. E alguns poucos declinaram o convite, como José Aquino Flores de Camargo, Leonardo Aquino, Ubaldo Flores, Roberto Siegmann e Eduardo Hausen. Penso que nós podemos ter divergências de ideias, mas precisamos estar unidos. O Inter, quando foi vencedor, esteve unido. Claro que o departamento de futebol tem as suas peculiaridades discretas e que não podem ser ventiladas a torto e a direito. Mas, obviamente, não se pode fechar o futebol. Sou da teoria que temos que abrir o clube.
Na opinião do senhor, o Inter está pronto para ganhar títulos em breve?
Não há dúvidas. Claro que tivemos insucessos no início do ano como no Gauchão e na Copa do Brasil. Mas, antes do Brasileirão, havia um sentimento de que o Inter brigaria para não cair. E hoje a situação é absolutamente diferente. E, na Copa Sul-Americana, estamos credenciados a brigar pelo título. A imprensa do centro do país já destaca o trabalho do Mano, a participação do Autuori, as contratações, o planejamento e o modo de jogar do Inter. Isso é uma evolução. Eu acho que, no futebol, nada acontece por acaso, tanto para o bem como para o mal. Quando os clubes caem para a Série B, não são os dois últimos jogos que determinam a pontuação. O clube já começa a cair pelo menos seis ou oito meses antes em função das práticas equivocadas que adota. Isso pode ser analisado em qualquer trajetória de clubes que caíram, inclusive no Inter, quando isso aconteceu. Da mesma forma, quando um clube é vencedor, o título começa antes pelas práticas corretas que adota. Isso está provado. O Inter, na década de 1970, chegou ao apogeu em 1979 no tricampeonato brasileiro, mas aquela maneira de jogar foi montada no final da década de 1960, com a inauguração do Beira-Rio. Foi todo um processo que contou com a chegada do Figueroa em 1974 e na contratação de grandes jogadores como Manga, Caçapava, Falcão, Batista, Carpegiani, e por aí vai. Hoje, vejo exatamente essa realidade. O Inter começa a caminhar para um futuro promissor e, como se diz, para um porvir venturoso. Não tenho dúvidas de que o torcedor pode acreditar que o ano que vem será o ano da consolidação de um projeto de trabalho vitorioso. Saio com a nítida sensação de que deixo uma situação no futebol muito melhor do que quando entrei.