Os 10 primeiros dias de trabalho de Mano Menezes no Inter impressionam pela velocidade de resposta do grupo de jogadores à chegada do técnico. Neste período, só uma vez teve apenas treino. Todos os demais que tiveram atividades, elas foram acompanhadas de viagens ou recuperação.
Mesmo com a quantidade de práticas inversamente proporcional a de deslocamentos, o time conseguiu duas vitórias em dois jogos como visitante, não levou gol e quase não foi ameaçado. Para chegar a isso, duas palavras são consideradas chave: simplificação e organização.
Taticamente, Mano adaptou a equipe às peças à disposição. Montou um sistema 4-1-4-1, marcou em linhas de quatro e exigiu que não houvesse bagunça tática.
Para além das questões táticas, Mano tratou de renovar o ambiente. Ele mesmo se repaginou. Mudou seu estilo, deixando de lado um certo "mau humor" que vinha apresentando anteriormente e ficou mais leve, sorridente. Falou bastante em motivação, em recuperar não só o Inter mas também a si próprio.
Esse discurso, que já tinha sido bem visto pelos gabinetes, foi comprado no vestiário. Os jogadores gostaram do que ouviram. Publicamente, atletas como De Pena, Alemão e até D'Alessandro, agora aposentado, elogiaram o novo treinador. E usaram a mesma palavra: experiência.
A carreira extensa deu a Mano Menezes a tarimba necessária para garantir o respeito. O técnico já viveu títulos, vitórias e glórias, mas também conheceu o outro lado, com derrotas, pressão, ameaça e demissão.
Por conhecer os variados ambientes — e também de certa forma o Inter, por ter trabalhado na base há quase 20 anos —, Mano optou pela simplicidade também nos relacionamentos. Chamou velhos conhecidos, como Rodrigo Moledo, Rodrigo Dourado e Edenilson e lhes passou mensagens de confiança e otimismo. Rasgou elogios a Dourado, aliás, um dos mais marcados pela torcida. Valorizou Alemão, mas com o cuidado de que a boa fase não suba a cabeça, que mantenha o foco e a dedicação.
No vestiário, deu discursos firmes, mas não inflamados. Mediu palavras e quase sempre falou em tom otimista, mas pedindo organização. E usando pequenas situações motivacionais. Por exemplo, no vídeo disponibilizado pelo Inter com os bastidores na vitória sobre o Independiente Medellín-COL, disse aos atletas, pouco antes de entrar em campo:
— Vai ser um jogo disputado, como são os de Libertadores, Sul-Americana. Vamos ter paciência, manter a cabeça no lugar. Quando formos lá (no gramado), vamos esquecer a viagem, o cansaço. Aliás, vamos transformar essa "raivinha" em força para ganhar.
Após o jogo, reforçou que já tinha percebido uma mudança no time ainda antes de sua chegada. Falou que viu o jogo contra o Fortaleza "sentado no sofá" e gostou. E reforçou que sua missão é trabalhar para que os jogadores, "a parte mais importante", tenham as melhores condições para colocar o talento a serviço do time.
Esse trabalho está sendo dividido entre viagens, jogos, palestras e quase nenhum treino. Desde que chegou, só em seu segundo dia pôde se dedicar exclusivamente à sessão. No primeiro, por exemplo, teve a apresentação. No terceiro, viagem para o Rio. E desde lá, não houve mais atividades em Porto Alegre. Aliás, foram apenas três atividades no CT Parque Gigante.
Apesar dessas dificuldades e dos jogos em sequência, o Inter vai se arrumando. Novos atletas, como Alan Patrick e Pedro Henrique, podem ficar à disposição, bem como Taison. A partir dessas respostas, a equipe ganha corpo para a sequência do ano. Ganhar, é claro, ajuda. Porque no fim, a frase de Mano após a vitória contra o Fluminense sintetiza o futebol como um todo:
— Não existe melhora sem vitória.