Durante a queda dos aplicativos do Facebook, apareceram memes em outras redes, e um deles, sobre o treinador colorado, chamou a atenção. Dizia o perfil de humor: "Deu problema nos fios e eles precisam ser substituídos, tomara que o técnico responsável não seja Diego Aguirre". A derrota para o Atlético-MG, na qual o Inter fez apenas uma troca das cinco possíveis, foi um dos exemplos da versão 2021 do profissional uruguaio, em muitos aspectos bem diferente daquela de 2015.
A equipe de seis anos atrás surpreendeu o Rio Grande do Sul tanto pela qualidade e pelo estilo do futebol, quanto pela ousadia com os jogadores. O uruguaio, há seis anos, praticamente introduziu no Estado o conceito de rotação do grupo de atletas, algo já comum na Europa, e que tanta polêmica gerou por aqui. O nome dado à época, rodízio, foi usado depreciativamente e se tornou centro de debates esportivos e discussões sobre condição física, entrosamento e outros assuntos ligados ao esporte.
Havia mais jogos em 2015, é verdade, e possivelmente mais qualidade na reposição. A brincadeira da época era que Aguirre tinha dois times: os amigos de D'Alessandro e os amigos de Alex. Nada a ver com comportamento, ambiente de vestiário, era só porque Aguirre trocava 10 ou às vezes até 11 atletas de um compromisso para o outro. Em 2021, depois da eliminação na Libertadores, com jogos apenas nos finais de semana, o treinador optou por achar 11 titulares e mantê-los sempre que possível.
A descoberta do time ideal foi no jogo contra o Flamengo e, desde então, nem precisa acompanhar o Inter de perto para saber que, sempre que possível, Aguirre escalará: Daniel; Saravia, Bruno Méndez, Cuesta e Moisés; Dourado, Lindoso, Edenilson e Patrick; Taison e Yuri Alberto. Mesmo que nesse jogo do Maracanã o titular da lateral tenha sido Paulo Victor, mesmo que jogadores sejam contestados, o plano inicial é com esses 11.
Manter um time, ganhar entrosamento, aprimorar o conjunto são mantras do grande expoente uruguaio entre os treinadores. Técnico da seleção celeste, Óscar Tabárez criou uma filosofia de trabalho que envolve selecionar um grupo de atletas e usá-los desde a base até o profissional. Isso ajuda, segundo ele, a fortalecer o time. El maestro (o professor), como é conhecido, permite, claro, integrar novos nomes, mexer quando necessário em esquema ou em jogadores, mas prefere ter uma base.
— São ações que facilitam na adaptação — declarou em entrevista ao portal uruguaio 180 Football.
Ainda que tenha feito essa partida de troca única no Mineirão, Aguirre não costuma mexer tão pouco. A partida foi uma exceção deste o retorno do treinador. Levantamento feito por GZH mostra que ele realizou realizou quatro ou mais trocas em 15 das 19 partidas em que esteve à frente do Colorado, o que corresponde a 78% das oportunidades. A estratégia de manter o mesmo time que iniciou o confronto, como o ocorrido no encontro com o Atlético-MG, não havia sido colocada em prática até então.
Mais de uma vez, em coletivas, deixou aberta a porta para mudar o time, elogiou o grupo que tem à disposição e sinalizou mudanças. Mas quase sempre opta, quando há duas ou mais alternativas, pelo jogador mais experiente. Como quando justificou a escolha por Moisés em detrimento a Paulo Victor:
— Moisés tem uma experiência, uma trajetória que tem valor.
Por isso, o torcedor colorado deverá ver, ao menos na quarta-feira, apenas saídas pontuais entre os titulares: Cuesta, suspenso, e Edenilson, convocado. Os outros jogadores que representarão seus países, Guerrero e Palacios, costumam ser reservas. As demais peças que eventualmente recebem contestações, como Lindoso, Moisés e Patrick tendem a continuar na equipe.
Fala, colunista
Quem deve ser o substituto de Edenilson?
Mauricio. Vai depender de jogo para jogo, são três partidas fora de Edenilson, e esse não tem substituto com as mesmas características no grupo. Poderia ser Boschilia também. Ambos são canhotos, muda um pouco a característica, de buscar linha de fundo, os dois são mais de cortar para o meio. Mas vejo Mauricio como uma boa alternativa. Ele jogou pouco pelo Inter nessa posição, apesar de ter atuado assim no Cruzeiro. É um bom substituto. Gustavo Maia não pode ser a solução dos problemas, ainda mais tendo recém chegado ao time.
Gustavo Manhago
Boschilia. Não há no Inter nenhum jogador capaz de substituir Edenilson à altura. Afinal, estamos falando de um jogador de seleção brasileira. Mas dentre as possibilidades previstas, vejo em Boschilia a maior semelhança. Tem capacidade de marcação, passe e chegada na área adversária. Não foi mais o mesmo depois da grave lesão no joelho, mas merece mais oportunidades e acho que esta é uma delas.
Boschilia. Contra adversários mais reativos, o Inter já demonstrou sérias dificuldades em criar jogadas. Justamente as três partidas sem Edenilson serão contra times com esta característica: Ceará, Chapecoense e América-MG. Diego Aguirre poderia aproveitar as qualidades de Boschilia, que consegue atuar em mais de uma função no meio-campo, para solucionar esse problema de criação. Atuando pela direita, a equipe ainda contaria com seu bom poder de finalização com a perna esquerda. Aguirre só usou o jogador como titular em duas oportunidades: Olimpia, no Paraguai, e Athletico-PR, em Curitiba. Quem sabe uma sequência possa ajudar o atleta a voltar a ser importante à equipe, assim como era em 2020, antes da lesão no joelho direito.