Desde que o Inter admitiu ter formado um grupo de estudo para avaliar a mudança no escudo, os torcedores colorados começaram a imaginar como seria o novo símbolo. Nas redes sociais, até mesmo uma imagem falsa passou a ser compartilhada como se fosse o início do projeto. No clube, porém, todos asseguram que a ideia ainda está sendo debatida e, se for colocada em prática, não será nesta temporada.
Uma das movimentações feitas pela diretoria, através do vice-presidente de marketing Jorge Avancini, foi buscar experiências vividas em outros lugares, como no Athletico-PR. GZH ouviu o ex-diretor de marketing do clube paranaense, Nelson Fanaya Filho, que no final de 2018 ajudou seu time a promover uma revolução visual. Além do brasão, os paranaenses também mudaram de nome, acrescentando a letra H. Estas e outras histórias foram contadas à reportagem pelo profissional, que atua como consultou de marketing em São Paulo.
— O Athletico foi uma mudança radical. É o maior trabalho de rebranding do Brasil até hoje — diz ele, utilizando um termo que explicar a alteração de uma marca ou logotipo.
Como foi o contato do Inter?
O Avancini é um grande amigo, de muito tempo. Já fizemos vários trabalhos juntos. Conversamos algumas vezes e, pelo que ele me falou, o Inter está em um processo bem inicial. Foi um assunto que surgiu nas redes sociais, por causa desta belíssima camisa cor de vinho e o Avancini, muito inteligente, montou um grupo de colorados que vai conduzir isso. Ele me ligou para saber como havia sido a nossa jornada no Athletico-PR e eu contei como foram nossas pesquisas, envolvendo Juventus, Atlético de Madrid e PSG, que também evoluíram suas marcas. Porque, o Athletico-PR teve uma mudança radical, assim como a Juventus. Mas, se você pega o Atlético de Madrid, a mudança no design do escudo é quase que uma atualização. Não se mudou grandes características. Então, cada clube e cada trabalho é de um jeito.
E como foi o trabalho executado no Athletico-PR?
Se você olhar a evolução dos escudos do Athletico, até meados dos anos 1990 era uma cópia do Flamengo. Depois, mudou. Mas a gente tinha a necessidade de ter uma marca que tivesse identidade, que explicasse a questão do furacão. Este trabalho de rebranding, ou de você transformar o escudo de uma instituição do tamanho e da história do Athletico-PR é uma coisa muito delicada. Tive o prazer de fazer isso no clube do meu coração. Mas, é preciso se aprofundar na história do clube. No Athletico-PR, demorou um ano. A questão da inclusão da letra H, que as pessoas falam que o clube mudou o nome. Não mudou. Este é nome que foi dado na sua data de fundação. Nós fizemos uma pesquisa e não existe nenhuma ata, de 1924 em diante, dizendo que se tiraria o H. A mudança foi feita de fora para dentro. Os jornais da época em que houve a mudança ortográfica, quando se deixou de escrever farmácia com PH, por exemplo, passaram a escrever Atlético sem H. E o clube se deixou levar por isso. Fizemos até uma brincadeira com sócios que se chamavam Raphael ou Sophia para saber se eles aceitavam tirar o H de seus nomes. Eles disseram que não. Pois, o Athletico também, não. Trouxemos de volta o nome de batismo.
Mas houve muita rejeição interna às mudanças?
Lançamos na véspera da final da Copa Sul-Americana. Graças a Deus, a gente ganhou (risos). Você pode imaginar a pressão que foi aqui. Se perdesse, seria um desastre. Mas, se deixasse para depois, perdia força. A gente já havia programado de fazer o lançamento da nova marca depois do Campeonato Brasileiro de 2018, mas ninguém imaginava que chegaríamos à final da Copa Sul-Americana. Confesso que foi difícil dentro do próprio clube para ter a aceitação de que lançaríamos entre uma final e outra. Mas, por tudo que a gente havia montado durante o ano, já tínhamos colocado teasers na internet que estavam bombando, não tinha como voltar atrás. Foi um desafio, que acabou sendo bem glorioso e a marca nova também ajudou. Depois dali, ganhamos a Copa do Brasil no ano seguinte.
No mundo inteiro, a mudança mais radical parece ter sido apresentada pela Juventus, né?
Uma coisa que nos espelhamos na Juventus é que, no estádio, há um grande painel que mostra a evolução dos escudos ao longo do tempo. Fizemos isso aqui, porque nenhuma marca é abandonada. Elas cumprem o seu papel e passam a bola para a outra. Mas a Juventus queria mudar o perfil dos escudos de clubes de futebol para gerar uma grife com aquele J, uma marca que pudesse ser aplicada em produtos. Os italianos são muito mais arrojados. Inclusive, o designer que assinou o nosso escudo é um italiano radicado no Brasil há muito tempo. Os ingleses, por exemplo, são mais tradicionalistas. O Athletico também criou uma tipologia de números e letras para sua camisa, que são diferentes do padrão que a Umbro usa no Grêmio e nos outros clubes, por exemplo. Mas, é o que eu disse: cada clube tem a sua personalidade. É o clube que vai ditar se vai ou não haver uma mudança, ou em que grau vai acontecer. Não tem uma receita para isso.
Recentemente, outros clubes brasileiros, como Atlético-GO e Bragantino, também mudaram seus escudos. É uma tendência?
O Atlético-GO veio no nosso vácuo, o que é muito legal. O Bragantino é outra coisa, porque foi uma incorporação da marca da Red Bull, como também ocorreu nos clubes dos Estados Unidos, Alemanha e Áustria que eles também investiram. Mas o Flamengo fez um redesenho da sua marca há pouco tempo. O Vasco também passou por uma mudança quase imperceptível para o olho normal do torcedor. Isso é vivo, vai se melhorando, tendo formas e aplicabilidades. Mesmo que não se faça uma mudança radical, sempre tem um redesenho.