A janela de transferências evidenciou o padrão do Inter atual na busca por reforços. Os últimos contratados, o meia-atacante Gustavo Maia e o zagueiro Kaíque Rocha, são exemplos do garimpo no mercado para buscar jogadores jovens, com potencial para dar resposta esportiva e, posteriormente, financeira. O trabalho é feito em parceria entre dirigentes e o Centro de Análise e Prospecção de Atleta (CAPA).
Há um pouco de tudo nessa mudança de parâmetros de busca. Em parte, trata-se do cumprimento de uma promessa de campanha da chapa de Alessandro Barcellos, vencedora da eleição. Naquela época, o então candidato havia prometido usar mais o serviço profissional de pesquisa de atletas, apostando na ciência de dados. Além disso, a crise financeira que o clube atravessa ajudou a acelerar esse processo.
A relação entre dirigentes e CAPA é uma via de mão dupla. Pode partir tanto dos gabinetes e da comissão técnica a provocação para encontrar jogadores quanto no sentido inverso: os profissionais do Centro indicarem nomes que julgam adequados.
— Existe uma palavra importante nisso tudo: contexto. Por exemplo: um jogador pode ser bom em uma forma de jogar, mas não ser o ideal para outra. Isso faz parte da análise e integra o relatório que o CAPA nos passa — explica o executivo do Inter, Paulo Bracks.
É preciso esclarecer: o CAPA não contrata. Trata-se de um departamento do clube, como o são a fisioterapia, o médico, o físico. O Centro provê informações e dá subsídios para quem decide (no caso atual, presidência, vice-presidência de futebol e executivo).
— Nem todas as contratações têm origem no monitoramento do CAPA. Mas todas passam pelo CAPA — completa Bracks.
Internamente, pessoas envolvidas no atual processo garantem que há portas abertas entre todos os setores envolvidos. CAPA, dirigentes e comissão técnica têm liberdade para conversar sobre jogadores e indicações.
Há três aliados "tecnológicos" nessa busca. Um, na verdade, é humano: um cientista de dados que compila estatísticas. Os outros dois são softwares. O Driblab, criado por uma empresa espanhola, que é capaz de comparar atributos de jogadores e, com vídeos, dar argumentos para fazer ou não investimento. O outro é um banco de dados próprio do CAPA, com milhares de nomes e interface ágil para encontrar.
Grosso modo: se o treinador precisa de um zagueiro, é possível achar os destros e os canhotos, acima ou abaixo de tal altura, jovens ou experientes, brasileiros ou estrangeiros, entre outros. Clicando no nome, aparece um relatório completo das principais virtudes, os defeitos a corrigir e as atuações nas partidas observadas.
A partir daí, identificado o jogador desejado, passa-se a uma busca por informações além do campo: comportamento, temperamento, momento. Esses dados são descobertos em conversas com companheiros de times, treinadores, dirigentes e até notícias — devidamente filtradas.
Desde que assumiu, a atual gestão fez sete contratações. Ao todo, foram R$ 23,1 milhões de investimentos, valor considerado adequado ao momento do clube:
- o zagueiro Bruno Méndez: pelo empréstimo do Corinthians pagou R$ 500 mil e se quiser contratar em definitivo precisará pagar cerca de 4 milhões de euros;
- o zagueiro Kaíque Rocha: empréstimo da Sampdoria, com valor fixado em 1,5 milhão de euros;
- o lateral-direito Mercado: livre após rescindir com o Al Rayyan;
- o lateral-esquerdo Paulo Victor: R$ 6 milhões ao Botafogo;
- o meia-atacante Carlos Palacios: pagará ao Unión Española-CHI o equivalente a R$ 16,6 milhões;
- 0 meia-atacante Gustavo Maia: empréstimo sem custos do Barcelona, valor fixado na compra em 2 milhões de euros;
- o meia-atacante Taison: livre no mercado depois de rescindir com o Shakhtar.
O caso de Yuri Alberto é usado como modelo. O centroavante chegou ao Inter após rescindir com o Santos. Entre luvas, salários e direitos de imagem, o clube terá de pagar cerca de R$ 10 milhões. Em uma temporada e meia, ele deu resultado esportivo (fazendo gols, sendo titular) e a direção já rejeitou duas propostas de valor mais de cinco vezes maior. Gustavo Maia e Kaíque Rocha se juntam aos demais contratados nessa mesma esperança.