Diego Aguirre sabe muito bem o gostinho especial que é ganhar do maior rival. Já provou, do lado de dentro e da beira do campo, vitórias históricas e esteve indiretamente ligado a uma derrota acachapante. Vai para seu quarto clássico como técnico em busca de uma retomada de seu time e do fim de uma seca de sete anos sem triunfos colorados na casa tricolor.
Quando era jogador, Aguirre foi a arma que Abel Braga apresentou no intervalo do Gre-Nal do Século. A partir de sua entrada, o panorama de um clássico então vencido pelo Grêmio, com a vantagem do placar, da bola e de jogadores (o lateral-esquerdo colorado Casemiro havia sido expulso), inverteu-se e culminou com o 2 a 1 daquele verão de 1989.
Vinte e seis anos depois, o treinador estava na casamata na decisão do Gauchão de vitória, novamente por 2 a 1, sobre o rival, treinado por Felipão, que marcou o pentacampeonato estadual. Os gols de Nilmar e Valdívia simbolizaram um time que se afirmava, com velocidade e intensidade. Incrivelmente, no mesmo ano, pouco depois de ser eliminado da Libertadores na semifinal para o milionário Tigres-MEX, o treinador foi demitido. A razão: dirigentes da época queriam criar um "fato novo" para o Gre-Nal que se avizinhava. O resultado todos lembram, 5 a 0 para o Grêmio, e é creditado a esse jogo o fim de uma soberania do Inter e o início da derrocada que culminou com a queda no ano seguinte.
Essa história intrinsecamente ligada ao clássico fazem do Gre-Nal um jogo especial para Aguirre. Se, de sua parte, ostenta um cartel vitorioso, para o lado colorado, os confrontos mais recentes são os traumas. Especialmente para os treinadores estrangeiros. O argentino Eduardo Coudet, cujo trabalho é reconhecido pelos torcedores ainda agora, não conseguiu vencer o Grêmio. O espanhol Miguel Ángel Ramírez, que foi contratado para promover uma nova forma de jogar, sucumbiu também ao não ganhar do lado azul.
Como já viveu no Inter todos os lados da experiência vermelho x azul, o uruguaio Aguirre sabe o quanto pesa esse jogo. Mesmo que seja pela 11ª rodada do Brasileirão. Mesmo que o rival esteja em último. Mesmo que sua equipe patine para se manter em posição intermediária na tabela.
— Um Gre-Nal pode ser algo bom para nós. Queremos dar uma alegria rapidamente ao torcedor. Estamos em dívida e me sinto mal por isso. Sábado é um jogo importantíssimo — disse o treinador após o duelo com o São Paulo.
O Aguirre de 2021 está mais maduro do que aquele de 2015. Mas não deixou de promover rodízio no time (até porque o calendário atual praticamente implora por isso) nem de fazer improvisações. Não é, contudo, a tendência para o Gre-Nal. Ele mesmo se antecipou na última manifestação, avisando que só estava fazendo isso por necessidade. No clássico, é cada um na sua. A hora vai ser de simplificar e buscar respostas imediatas.
Inclusive, porque Aguirre tem uma história vitoriosa a manter nos duelos com o rival. E na semana que vem, tem Libertadores.