Entre as tantas coincidências do futebol, Diego Aguirre é o protagonista de mais uma. Quase seis anos depois de ter sido demitido, estreará justamente contra o último time que enfrentou enquanto técnico do Inter. Às 19h desta quinta-feira (24), contra a Chapecoense, agora fora de casa, o uruguaio dá início à segunda aventura na casamata colorada, em partida válida pela sexta rodada do Brasileirão.
Aguirre e o Inter mudaram bastante desde aquele 2 de agosto de 2015. Três dias depois do 0 a 0 com os catarinenses, o treinador foi informado de sua demissão. A ideia era "criar um fato novo" para o Gre-Nal que teria na rodada seguinte, na Arena. O técnico, que estava invicto contra o maior rival, viu de casa o Grêmio aplicar a maior goleada recente, 5 a 0. O que ocorreu com alguns dos dirigentes que tiraram Aguirre do comando do time está aqui. O resto da história colorada é conhecido, com o rebaixamento de 2016, o retorno à elite em 2017, a boa campanha de 2018 e os vices da Copa do Brasil de 2019 e do Brasileirão de 2020.
O uruguaio seguiu no Brasil. Trabalhou no Atlético-MG em 2016, ficou apenas cinco meses e saiu depois do Campeonato Mineiro e de cair da Libertadores. Na sequência, ficou um ano no San Lorenzo antes de retornar ao futebol brasileiro, para o São Paulo. No tricolor paulista, foram oito meses que tiveram como auge a conquista simbólica do primeiro turno do Brasileirão. Saiu em novembro, quando a equipe tinha uma queda de rendimento. Foi trabalhar no Catar.
O que não mudou foi o estilo. Aguirre segue fiel a um jogo direto, vertical, que não prioriza a manutenção da bola, mas sim a busca constante pelo gol, mesmo que seja à base de lançamentos ou contra-ataques. Ou de pressão e velocidade.
— Vejo o Inter jogando com maneira semelhante, partindo de um 4-2-3-1 ou 4-4-2, dependendo do jogador avançado antes do centroavante, tendo dois jogadores abertos e com passagem dos laterais. Pressão no erro e partidas velozes ao ataque — diz o analista tático Gabriel Corrêa, do Footure.
Na prática, a direção foi atrás de um técnico da "prateleira" dos ofensivistas, mas sem ser tão ortodoxo como Ramírez. Ao menos foi o que explicou o vice de futebol, João Patricio Herrmann:
— Buscamos um treinador que tem um conceito de jogo muito alinhado com aquilo que a gente pensa, talvez não tão radical em algumas situações.
Outra semelhança é o grupo de jogadores. Como em 2015, o Inter tem carências defensivas. Naquela época, a falta de laterais-esquerdos era tão grande que Aguirre improvisou Ernando, destro, na posição. Hoje em dia, o problema está no miolo da zaga, já que apenas Cuesta é um zagueiro afirmado.
Do meio para a frente, as semelhanças passam por Rodrigo Dourado, o único remanescente, e pela disponibilidade de peças para montar um estilo semelhante: Edenilson seria um segundo homem mais móvel, como foi Aránguiz; Patrick aberto na ponta, ao estilo Sasha, alguém de pé invertido na outra extrema (em 2015, era Valdívia, pela esquerda, em 2021, deverá ser Mauricio — ou Boschilia, quando estiver pronto, pela direita); um meia-atacante centralizado que faça vezes de segundo atacante (D'Alessandro no passado, Galhardo — e Taison — no presente) e um centroavante (foram Nilmar e Lisandro López, são Yuri Alberto e Guerrero).
A nova etapa do 2021 colorado começa agora. Será um reencontro e tanto para Aguirre.