Vencer o Táchira era fundamental para o Inter dedicar 100% da atenção aos Gre-Nais decisivos do Gauchão. Uma vitória na Venezuela teria encaminhado a classificação do time de Miguel Ángel Ramírez às oitavas de final da Libertadores. Mas deu tudo errado, a equipe levou uma virada inesperada e agora precisará correr bastante para se garantir na próxima fase. Com o mau resultado, vieram as críticas, as dúvidas e as desconfianças em cima do grupo, que oscila atuações brilhantes no Beira-Rio com desempenhos ruins longe de casa.
Agora, o adversário é o Grêmio, reconhecidamente superior aos demais oponentes da Libertadores e já enfrentados no Gauchão. No último confronto entre os dois, a vitória foi tricolor. Já se vão quatro anos sem o título estadual. E tudo isso aumenta a pressão. Não só para o treinador em si, mas para o clube como um todo.
Para resistir a isso, precisará aprender as lições que aprendeu em San Cristóbal. E não repetir os erros.
Listaremos, a seguir, as falhas que cada setor terá de evitar para não inviabilizar a disputa do Gauchão. Mas antes, há um ponto comum a defesa, meio-campo e ataque: dedicação. Por mais que Ramírez tenha dito que não percebeu seu time apático e, sim, cansado, a impressão deixada pela equipe para quem assistiu pela TV é a de que houve um desdém ao jogo, um sentimento de que a vitória viria naturalmente.
— Esse grupo do Inter já deu boas respostas. Foi finalista da Copa do Brasil, perdeu o Brasileirão por detalhe. Mas com todos os técnicos que passaram por aqui, ficou claro que isso só acontece quando joga com a corda totalmente esticada — disse Luciano Potter, uma das vozes coloradas no Grupo RBS.
Com todos os jogadores focados e dedicados, há outros pontos a serem corrigidos. Separamos por cada setor.
DEFESA
A primeira lição que San Cristóbal deixou foi a de que o lateral-direito do Inter é Rodinei. Enquanto estiver sob contrato, ele é incontestável na posição. Isso porque Saravia ainda está abaixo, os mais de 200 dias sem poder jogar cobram preço. E diante da principal arma gremista, a velocidade de Ferreira, Rodinei demonstrou ser a melhor alternativa. Ele está descansado, já que entrou apenas no final do jogo de terça.
Na zaga, o debate sobre o companheiro ideal para Cuesta foi reaberto, especialmente depois da falha (e do azar que levou) Zé Gabriel, rebatendo errado um cruzamento rasteiro. Por mais que tenha qualidade de passe e seja usado nessa função desde os tempos de Eduardo Coudet, alguns erros defensivos impedem a segurança.
— A dupla ideal seria Moledo e Cuesta, porque aliaria a força e a imposição com a técnica e a qualidade de passe. Era assim que funcionava quando era eu e Aloísio ou Célio Silva, dois jogadores fortes. Não tendo o Moledo, infelizmente lesionado, vejo o Lucas Ribeiro como melhor alternativa. Ele se impõe mais fisicamente e tem a experiência de já ter ido para a Europa. O que precisa é de sequência — diz o ex-zagueiro Pinga, campeão da Copa do Brasil de 1992.
Na esquerda, por mais que Moisés tenha lugar assegurado, ele terminou o jogo de terça claramente exausto. Não teve forças nem empenho para evitar o drible que gerou o gol de empate. Ramírez precisará recuperar seu lateral porque a velocidade gremista pelas pontas é muito superior à do Táchira.
MEIO
— Estávamos fazendo um bom jogo, conseguimos sair na frente. Com o tempo, o campo foi nos cansando, mais o acúmulo de jogos e fisiologicamente é depois de 48 horas o auge do cansaço. Não pudemos treinar, só recuperar e um gramado pesado, fica mais nítido o desgaste.
As palavras de Miguel Ángel Ramírez resumem o estado físico colorado, refletido especialmente no meio-campo. Esse é um dos principais pontos a serem recuperados antes de domingo.
Rodrigo Dourado sofreu do mesmo mal de boa parte dos demais companheiros: cansou. Seja pelo esforço em dar combate quase sozinho em um meio-campo que ficou abaixo da expectativa ou pelo campo, de fato mais alto do que o normal, precisou deixar o jogo antes do final com semblante exausto.
Edenilson, por sua vez, descansou mais. Ficou no banco por quase 70 minutos. E quando entrou, foi desastroso. Ele, mais do que ninguém, sabe que para render, precisa estar totalmente concentrado e inteiro fisicamente.
A outra peça precisará ser decidida pelo treinador. Taison está fora, já que foi contratado após o encerramento das inscrições no Gauchão. A tendência é de que Praxedes seja o escolhido, especialmente se Patrick ainda não estiver recuperado. Mauricio, assim, seguiria na frente. Caso o Pantera tenha condições, estará reaberta a disputa pela posição. Seja quem for, precisará dar mais combate e ser mais ativo do que o meio que atuou na terça-feira.
ATAQUE
Marcos Guilherme, mais uma vez, não rendeu o esperado. Por mais que receba elogios por sua aplicação tática, como atacante, nas funções ofensivas, não consegue dar a resposta que o time precisa. Nos 58 minutos que ficou em campo na Venezuela, não deu um só chute na direção do gol (e um para fora, sem perigo). Tentou apenas um drible. Nem falta sofreu. Por mais que os laterais gremistas produzam ofensivamente, não dá a impressão de que compense perder força na frente em troca de uma suposta qualidade tática.
Patrick, lesionado, será um mistério. Ele está em fase final de recuperação e trabalha para ficar à disposição. Além dele, há Palacios, que também sentiu dores, mas já ficou no banco na última partida. E sempre tem a opção Caio Vidal. Sua última impressão foi a melhor possível, um gol de bicicleta contra o Olimpia, há uma semana. Por fim, Mauricio pode ser o escolhido para compor o lado esquerdo, caso a preferência seja por um canhoto.
Ramírez pode optar por um deles para formar o trio com Thiago Galhardo e Yuri Alberto. Ou dois, caso mantenha a preferência por tê-los apenas como centroavantes. Os dois jogam pelo meio, mas já atuaram juntos e deram boa resposta, como contra o Juventude. Yuri é mais polivalente. Galhardo, meia de origem, adaptou-se à função. Contra uma zaga mais física, como a do Grêmio, porém, tende a sofrer mais nos confrontos. Ainda assim, sua ascensão como líder do grupo de jogadores e a capacidade goledora lhe garantem oportunidade.
— É um mês de decisões, e fico feliz de termos essa responsabilidade de jogar uma final de dois clássicos, buscar título que há cinco anos não vence — declarou Galhardo, evidenciando sua liderança.