A chegada de Patrick ao Inter ocorreu sem alarde. Vindo do Sport, o jogador aparentava ser apenas mais um reforço para grupo. Era 2018, ano do retorno colorado à Série A. Precisando armar um time competitivo, o técnico Odair Hellmann optou por sacar o meia D'Alessandro, compondo um trio de volantes — entre eles, o camisa 88.
Desde então, o "Pantera Negra" foi escalado por todos os treinadores que passaram pelo clube. Com Eduardo Coudet, se transformou em meia-esquerda com liberdade para chegar ao ataque. Com Abel Braga, virou um ponta agudo e agressivo, fundamental para a briga pelo título do Brasileirão. Por isso, vê-lo sentando no banco de reservas em La Paz, enquanto o Colorado perdia para o Always Ready, na estreia da Libertadores, soou estranho.
— A mudança que fizemos no plano de jogo (voltou do intervalo com três zagueiros), nos fez sair sem extremos, sem pontas. Já tínhamos tirado Carlos (Palacios) e Caio (Vidal). Portanto, Patrick não teria oportunidades nesta estrutura. Nada além disso — argumentou Miguel Ángel Ramírez após a derrota por 2 a 0 na altitude boliviana.
O espanhol já explicou que gosta de formatar a equipe de acordo com o rival. Assim, torna-se imprevisível saber se Patrick estará em campo contra o Deportivo Táchira, na próxima terça-feira (27), ou se irá aparecer diante do Esportivo, neste sábado, quando um time praticamente reserva encerrará a fase classificatória do Gauchão. Ou pior, se ele perderá ainda mais espaço a partir da chegada de Taison. Uma situação, porém, já é visível: depois de ser escalado como atacante pelos dois lados do campo, o polivalente jogador perdeu protagonismo com a nova filosofia de jogo implantada no Beira-Rio.
— Ele não é um jogador de dois toques. O forte dele é a condução de bola. No jogo posicional, ele não consegue ficar preso. Mas é difícil para mim, como treinador, falar sobre um colega que tem uma metodologia nova e que já conquistou títulos assim. O que me deixa menos preocupado é que Patrick é muito inteligente, tem bastante força física e quem sabe ele possa, em um futuro próximo, se adaptar a essa nova maneira de jogar. Não é de uma hora para a outra — atesta Paulo Turra, responsável por praticamente descobrir Patrick no interior do Paraná.
Versatilidade
Apesar de ter nascido no Rio de Janeiro, Patrick surgiu para o futebol no Operário-PR. Ainda jovem, com 18 anos, o atleta chamou atenção de Turra, que treinava o Cianorte. A contratação não se concretizou, mas quis o destino que o técnico fosse parar no clube de Ponta Grossa, fazendo com que a carreira do volante deslanchasse. Posteriormente, os dois ainda trabalhariam juntos no Caxias e, por muito pouco, não repetiram a dobradinha no Palmeiras, quando o ex-zagueiro atuava como auxiliar de Felipão.
— No final de 2018, falei para o professor Felipe dar uma olhada no Patrick e ele gostou muito. Parece que não se acertaram nos valores — revela Turra, que complementa:
— Comigo, ele jogou 90% dos jogos como segundo volante. Fora de casa, eu usava um losango no meio-campo e ele atuava pela esquerda. Acertei o time porque, sem a bola, a marcação ficava muito forte, e com a bola, ele fazia o corredor de forma muito ofensiva.
Mas Patrick vestiu verde também. Por indicação de Hélio dos Anjos, com quem havia trabalhado no Estádio Centenário, o atleta foi buscado pelo Goiás. Foi aí que mostrou outro ponto de sua versatilidade. Usado como lateral-esquerdo, acabou eleito o melhor da posição do campeonato goiano de 2017.
— Tenho um título como treinador e foi justamente o campeonato estadual, quando o Patrick atuava lá. Quando assumi o time, ele já estava jogando muito bem como lateral-esquerdo. Em outras situações, o escalei como segundo volante, que é onde acho que ele pode render mais. Ele precisa tocar na bola. É aquele jogador de condução, de choque. Tem o drible, mas não é um atacante específico, de encarar zagueiro. Em um 3-5-2, poderia tranquilamente ser o ala, mas prefiro vê-lo como segundo volante, chegando por dentro como um meia — avalia o técnico Sílvio Criciúma, um de seus comandantes no Goiás.
Polivalente, Patrick já mostrou ao longo da carreira que pode ser opção para mais de uma posição no Inter. A dúvida é saber se isso agrada Ramírez ou se o espanhol é adepto de uma das máximas do futebol: quem joga em todas, não joga em nenhuma.