Uma das dores de cabeça do técnico Miguel Ángel Ramírez no Inter será escolher o centroavante titular para a sequência de 2021. Com Paolo Guerrero recuperado da lesão que o tirou de boa parte da temporada passada e os bons desempenhos de Yuri Alberto e Thiago Galhardo no último Brasileirão, o treinador terá de fazer uma escolha difícil.
Diferentemente de Eduardo Coudet, que costumava escalar a equipe com dois atacantes de área, na passagem de sucesso pelo Independiente del Valle, Ramírez pouquíssimas vezes utilizou dois centroavantes para iniciar os jogos. Mas o repórter Theo Posso, da DirecTV do Equador, explica que o time não tinha boas opções para o setor como tem o Inter.
— Ele nunca usou dois centroavantes. Ou melhor, quase nunca. Mas é porque o Del Valle não tinha atacantes dessa classe (como Guerrero, Yuri Alberto e Thiago Galhardo). Só tinha um. O resto eram jovens — destaca o jornalista.
Esse um ao qual ele se refere foi, na maior parte do tempo, o panamenho Gabriel Torres, centroavante de 32 anos, que hoje defende a Universidad de Chile. Os demais atacantes de referência eram jogadores ainda em formação ou sem a qualidade necessária no entendimento do treinador.
A formação preferencial de Ramírez no Independiente del Valle era o 4-3-3, com um centroavante e dois extremas abertos pelas pontas no setor ofensivo. No setor de meio-campo, sempre era escalado um tripé com um volante mais recuado, que fazia a chamada "saída de três" junto aos zagueiros, e dois meias mais avançados, que tinham a missão de fazer a bola circular em busca de espaço.
No modelo do espanhol, conhecido como "jogo de posição", os laterais aparecem bastante no ataque. Mas, em raros momentos, o técnico do Inter utilizou dois atacantes de área. Contudo, quem acompanha de perto o trabalho de Ramírez afirma que ele não é refém do esquema e pode, sim, mudar de acordo com as peças que tem. O que ele não abre mão é o estilo de jogar.
Assim, uma das alternativas para que Yuri Alberto e Guerrero (ou até mesmo Galhardo) possam atuar juntos seria utilizar três zagueiros e sacar os dois extremas do time. Assim, os laterais se tornariam alas e seriam eles que avançariam pelas pontas para dar a chamada "amplitude" que Ramírez busca em suas equipes. Com a escassez de atacantes de lado no grupo colorado, essa pode ser uma alternativa.
O treinador espanhol chegou a utilizar esse modelo com três zagueiros em alguns poucos jogos no Independiente del Valle, como na goleada por 4 a 0 sobre o Orense, pela penúltima rodada do Campeonato Equatoriano de 2020. Na ocasião, Ramírez escalou Christian Ortiz e Jacob Murillo (nenhum é centroavante de origem) como a dupla de ataque. No segundo tempo, sim, o técnico mandou a campo Gabriel Torres e Edson Montaño, dois atacantes de referência.
A outra possibilidade seria transformar Yuri em um extrema. Veloz, o jovem centroavante poderia atuar aberto na direita, posição em que há carência no grupo colorado. Da mesma forma, Thiago Galhardo poderia aparecer no meio-campo, sua posição de origem. Quem não mudaria, até mesmo pela idade e condição física, seria Paolo Guerrero, que quando for escalado será centroavante.
Essas alternativas, embora não estejam descartadas, não são as mais prováveis. Ainda que seja ágil para um centroavante, Yuri Alberto não é tão rápido e habilidoso no um contra um ofensivo quanto Ramírez deseja de um extrema. Assim como Galhardo, ótimo finalizador, não tem a mobilidade que o treinador pretende de um meia. Portanto, em situações normais de jogo, dificilmente eles serão escalados juntos como titulares pelo histórico do novo comandante colorado.