A versão 01 do Inter sob comando de Miguel Ángel Ramírez (do lado de fora, mesmo que tenha entrado no gramado...) conseguiu demonstrar ao menos alguns conceitos que o treinador pretende implantar. É claro que qualquer avaliação é precoce após a vitória de 4 a 2 sobre o Ypiranga, foram apenas cinco treinos, após um período de férias. Por isso, descontos são necessários, tanto para o bem quanto para o mal.
Mas é possível perceber algumas mudanças, ao menos teóricas. Ainda que tenham ocorrido erros de execução, houve algumas tentativas de aplicar a nova filosofia.
O time saiu com a bola pelo chão quase sempre. Mesmo quando a situação pedia outra alternativa, como um lançamento mais direto ou um chutão mesmo. Em boa parte do tempo, os atletas tentaram manter suas posições, como pede o estilo, sem que saíssem dos lugares desordenadamente. Teve tentativa de combinações pelo meio e pelos lados. E foi possível ver pressão no adversário depois da perda de bola no ataque.
Como era esperado, também houve erros. Alguns já conhecidos, por terem sido vistos no ano passado - passes mal dados, por exemplo -, outros que deverão ser corrigidos com trabalhos na semana.
ZH detalha quatro aspectos desta primeira amostragem.
Goleiro participando das jogadas
A primeira das novidades apresentadas por Ramírez vestiu a camisa 1. Depois de amargar a reserva nas últimas três temporadas, Danilo Fernandes voltou a ser titular do Inter. Sua escolha se deu por um aspecto do modelo de jogo do treinador, que exige participação dos goleiros não só na fase defensiva, mas também na criação de jogadas.
Tanto que Danilo, Marcelo Lomba, Daniel e os demais participam ativamente dos treinos com os companheiros de linha. Isso, óbvio, além dos trabalhos específicos com os preparadores.
Danilo é reconhecidamente mais habilidoso com os pés do que Marcelo Lomba. Teve um erro mais grave, quando driblou um adversário e quase foi desarmado (apesar de parecer ter sofrido falta), mas o lance não virou gol. A tendência é a de que siga como titular nos próximos jogos. E caberá aos demais companheiros aprimorar esses atributos.
Saída de bola atrás (Zé Gabriel)
Zé Gabriel voltou a iniciar um jogo entre os titulares. Ele havia jogado contra o Flamengo porque Cuesta estava suspenso, mas com Abel Braga tinha perdido lugar para Lucas Ribeiro. Sua escalação foi uma repetição da ideia de Eduardo Coudet, que havia adaptado o antigo volante à zaga justamente por confiar em sua qualidade para sair jogando.
O Inter deu 445 passes na partida, acertando 410. O risco foi que alguns dos 35 errados ocorreram em região próxima à área. Em um deles, saiu o gol de empate do Ypiranga. Mas mesmo que haja consertos a serem feitos, isso não deverá mudar. No sistema de Ramírez, sair de trás com a bola trabalhada é essencial.
— Deu para ver o Inter ainda com a herança de (Eduardo) Coudet. Precisa de algum tempo de treino para perder isso — descreveu o analista tático de GZH Filipe Duarte, em seu Desenho Tático.
Sem volante fixo (Edenilson)
Foi circunstancial, é verdade, mas uma novidade do time foi não ter um cabeça de área abrindo o meio-campo, formado inicialmente por um tripé com Edenilson mais recuado, Nonato e Praxedes completando. O auxiliar Martín Anselmi esclareceu:
— Rodrigo Dourado chegou com uma lesão das férias e, por isso, preferimos preservá-lo. Lindoso não estava com situação física para completar 90 minutos. Edenilson foi quem nós tínhamos, mas não quer dizer que não poderá se repetir adiante.
A primeira amostragem ensinou uma lição à nova comissão técnica. Edenilson rende mais jogando na segunda função, adiantado, podendo se juntar ao ataque. A aposta é interessante, mas deverá ser outro atleta a ser testado nessa função, soltando o camisa 8 para onde tem seus melhores rendimentos. Segundo o Footstats, Edenilson acertou 59 de 65 passes, acertou duas finalizações (uma foi gol, de pênalti), e recuperou duas vezes a bola.
4-3-3 (Marcos Guilherme)
O sistema 4-3-3 é o que tem adaptação mais fácil ao jogo de posição. A explicação é de Agustín Peraita, treinador com licença UEFA e ex-técnico da base do Barcelona:
— Como é preciso ampliar e aprofundar o campo, precisa ter jogadores nas pontas. E isso ocorre mais naturalmente quando tem um atleta dessa função em campo. É obrigatório? Não, pode ser que um lateral ou um meia estejam lá. Mas convenhamos que é mais simples ter um ponta.
Por isso, Ramírez apresentou seu primeiro time no 4-3-3 com Marcos Guilherme e João Peglow. Caio Vidal entrou no segundo tempo, bem como Patrick. Apesar de volante de origem, Patrick viveu sua melhor temporada atuando como um quase atacante pela esquerda. Não será surpresa se Yuri Alberto também for testado, como uma forma de jogar ao lado de Guerrero.