O pênalti marcado em favor do Vasco pode não ter atrapalhado a vitória do Inter no fim de semana, mas trouxe um grande prejuízo para a próxima rodada do Brasileirão. Por conta da interpretação do árbitro, o argentino Víctor Cuesta recebeu o terceiro cartão amarelo pela falta cometida em Germán Cano e ficará de fora do confronto decisivo com o então vice-líder Flamengo, no domingo (21), no Maracanã.
— Você sabe que eu não lamento ausências. Não achei justo pelo que vi nas imagens, mas estou desculpando o árbitro porque é muita pressão de ambos os lados. O pior disso tudo é que ele (Cuesta) levou o terceiro amarelo em um lance que realmente não aconteceu. Gostaria de contar com toda a equipe, mas não vou ficar lamentando — comentou o técnico Abel Braga, em São Januário.
A postura do comandante colorado é praticamente uma repetição do que se viu quando Rodrigo Moledo teve diagnosticada uma ruptura do ligamento do joelho direito no início do ano. Naquela ocasião, porém, o treinador não pensou duas vezes na hora de sentenciar o mais novo titular: Lucas Ribeiro, que tinha disputado apenas cinco jogos até então.
Agora, aguardará as atividades da semana para apontar o substituto do argentino, no lado esquerdo da zaga. Das opções do elenco, três jovens atletas despontam como alternativas: Zé Gabriel (22 anos), Pedro Henrique (20) e Matheus Jussa (25).
— A idade não pode ser a questão principal, mas sim o futebol mesmo, e se o jogador está treinando bem. Quem pode avaliar isso é só o treinador, que está ali no dia a dia. Eu acompanho mais o pessoal que joga, como Cuesta e Moledo, que agora está machucado. Mas o Abel está ali, vendo os treinos, acompanhando tudo — observa o ex-zagueiro Mauro Galvão, que tinha 18 anos recém-feitos quando ajudou o Inter a conquistar o tricampeonato brasileiro, em 1979.
Do trio, Zé Gabriel é quem tem maior minutagem. Apesar de ter subido para os profissionais como volante, o sergipano de Carmópolis acabou efetivado como zagueiro por Eduardo Coudet e, após a venda de Bruno Fuchs para o CSKA Moscou, tornou-se o dono da posição até a troca da comissão técnica. Ao longo da temporada, disputou 35 partidas — na maior parte delas, ocupando o lado direito da defesa. Porém, já foi escalado pela esquerda, inclusive contra o mesmo Flamengo, no empate por 2 a 2, em outubro, pelo primeiro turno, no Beira-Rio.
Mais jovem de todos eles, Pedro Henrique tem o lado esquerdo como preferencial. Jogador de seleção brasileira de base, o garoto era titular no início da Copa São Paulo de Futebol Júnior, em janeiro de 2020, quando foi chamado para compor o grupo principal, em Porto Alegre. No entanto, não recebeu muitas oportunidades no decorrer do ano e atuou em apenas seis partidas — todas sob o comando de Coudet.
E ainda há o canhoto Matheus Jussa, contratado em julho, por empréstimo, junto ao Oeste-SP. Pesa contra ele o fato de ter servido ao Inter, na maioria das vezes, como lateral-esquerdo. Diante de tantas incógnitas, surge uma outra perspectiva na prancheta de Abel: a adaptação de um volante na zaga.
A idade não pode ser a questão principal, mas sim o futebol mesmo e se o jogador está treinando bem
MAURO GALVÃO
zagueiro campeão brasileiro pelo Inter em 1979
— O simples, geralmente, é a melhor coisa a se fazer. Mas uma improvisação não seria totalmente fora dos padrões. Se formos pensar, o próprio Flamengo tem utilizado o Willian Arão como zagueiro, e outros jogadores já fizeram isso também. Então, não é tão absurdo. Mas é preciso treinar. Tem a questão da bola alta também. Tudo vai depender da confiança do Abel em botar o cara ali neste momento — avalia Galvão.
Neste cenário, Rodrigo Lindoso seria a opção mais viável. Reserva imediato de Rodrigo Dourado, ele já foi recuado nos minutos finais diante do Goiás, ainda em setembro, quando o Colorado tentava evitar a derrota em Goiânia. A diferença é que, desta vez, no Rio de Janeiro, seria necessário improvisá-lo desde o apito inicial.
— Nunca improvisei o Rodrigo Lindoso como zagueiro e confesso que nunca passou pela minha cabeça, porque não consigo vê-lo como um jogador que pudesse atuar nesta função. No Madureira, ele chegou a atuar como um camisa 10, um pouco mais avançado. Mas mais recuado, não. Se eu tivesse que dar uma resposta de supetão, sim ou não, eu não o improvisaria como zagueiro. Mas tudo requer treinamento — atesta Toninho Andrade, técnico que comandou o volante no Madureira, em 2015.
Lateral direita
O quebra-cabeça não para por aí. Além de decidir quem será o substituto de Víctor Cuesta para encarar o ataque mais positivo do Brasileirão (com 65 gols), os colorados precisarão definir também quem ocupará a lateral direita. Tudo isso porque Rodinei ainda pertence ao Flamengo e, para escalá-lo, o Inter teria de pagar uma multa contratual de R$ 1 milhão.
— O Rodinei, pelo ano que terminou e da maneira que começou esse, pode vir coisa muito boa para ele ali na frente. Por que não uma Seleção? Está em um momento extraordinário, uma força e velocidade incrível. Mas é assim, tem um contrato, uma multa, e ninguém sorri hoje por questão financeira. Vamos ver. A direção que vai resolver — despistou Abel.
Curiosamente, o valor a ser pago traduz a diferença de premiação entre o campeão e vice do Brasileirão: R$ 31,7 milhões e R$ 30 milhões, respectivamente. Ou seja, a economia do próximo fim de semana pode custar a taça no armário. Por outro lado, no embate do primeiro turno, Heitor foi escalado por Coudet para encarar os flamenguistas.
— O Internacional não está preocupado com valores, mas em buscar este título. E isso vai depender das opções e da forma como iremos montar a equipe. Temos feito isso jogo a jogo, diante de cada adversário, com muita firmeza e capacidade técnica de avaliar a partir do nosso setor de análise de desempenho a forma de jogo dos adversários. É desta forma que iremos avaliar este próximo jogo — concluiu o presidente Alessandro Barcellos.