A lesão do zagueiro do Inter, Rodrigo Moledo, é grave e incomum no futebol. Pela necessidade de imobilização e intenso reforço muscular na região, a ruptura do ligamento cruzado posterior do joelho costuma tirar o atleta dos gramados por um longo período.
O caso mais conhecido dos gaúchos é o do lateral do Grêmio, Leonardo Gomes, que sofreu a lesão em setembro de 2019 e ainda não voltou a jogar. Contudo, o padrão é que a recuperação demore de seis a nove meses.
As lesões ligamentares no joelho até são frequentes no esporte profissional. O próprio Inter já perdeu nesta temporada os atletas Saravia, Boschilia e Paolo Guerrero, que sofreram uma ruptura no ligamento cruzado anterior. É raro, contudo, que as rupturas ocorram no ligamento cruzado posterior, como foi com Rodrigo Moledo e com Leonardo Gomes.
— A lesão no cruzado posterior é muito diferente da do cruzado anterior. A lesão no posterior quase sempre se deve a um choque ou a uma batida. Realmente é uma lesão muito menos frequente. E o grau de instabilidade que ela gera é muito variável. Mas, no caso de atletas profissionais, não há como esperar para ver se aquilo vai gerar uma instabilidade leve, moderada ou grave. Então, a opção pelo tratamento cirúrgico é uma garantia de que o atleta voltará em uma condição segura de praticar o esporte — explica o médico Márcio Bolzoni, ex-médico do Grêmio e especialista em traumatologia esportiva.
O ligamento cruzado posterior é uma tira de tecido fibroso que liga dois ossos: o fêmur, que fica na coxa, e a tíbia, o maior da perna. Essa fibra serve para estabilizar o joelho e evitar que ele faça movimentos impróprios, que causariam outras lesões. Por isso, quando há o rompimento total, o tempo de reabilitação costuma ser mais longo do que as demais lesões ligamentares no joelho.
O caso de Leonardo Gomes no Grêmio tem uma peculiaridade. A sua lesão foi causada não por um choque, mas por uma hiperextensão do joelho, o que não é o mais comum. Ainda assim, o atleta estava sendo preparado para voltar após oito meses de parada. Contudo, uma fratura na patela fez com que ele retornasse ao departamento médico, ainda sem previsão de retorno.
Já o zagueiro do Cruzeiro, Dedé, sofreu uma ruptura do ligamento cruzado posterior em novembro de 2014. No início, o departamento médico optou por um tratamento conservador. Na sequência, contudo, decidiu submetê-lo a uma cirurgia. O retorno aos gramados ocorreu apenas 14 meses depois.
Contudo, há vários exemplos de atletas que voltaram a jogar em relativamente pouco tempo para uma lesão desta gravidade. Em 2000, o zagueiro do Grêmio, Nenê, então com 24 anos, sofreu esta mesma lesão em um Gre-Nal, e, em seis meses, já estava jogando normalmente. Dois anos depois, o jogador inclusive foi negociado com o Hertha Berlim, da Alemanha.
— O Nenê se recuperou de forma muito rápida. Assim que o liberamos para a comissão técnica, na semana seguinte ele já estava sendo escalado como titular. Ele voltou no sexto mês após a lesão — relembra Bolzoni, médico responsável pela cirurgia do atleta na época.
Hoje aos 45 anos, o ex-zagueiro recorda que estava em plenos condições físicas quando retornou aos gramados.
— Essa lesão do Moledo foi igual a minha. A cirurgia foi tranquila. Claro que requer bastante paciência, pois a recuperação é demorada. Mas a pessoa tem de ter a consciência de que volta aos gramados com certeza. Graças a Deus, me recuperei bem. O doutor Márcio, a sua equipe e os fisioterapeutas fizeram um bom trabalho para eu voltar sem dor — explica Nenê.
A dupla de zaga campeã bicampeã da América pelo Grêmio também já sofreu com lesões de ligamento cruzado posterior. O paraguaio Catalino Rivarola teve essa ruptura no início dos anos 1990, quando ainda defendia o Talleres-ARG. Contudo, o problema não impediu que ele fosse campeão da Libertadores em 1995 e do Brasileirão em 1996 pelo Tricolor.
Já Adílson Batista sofreu a mesma lesão no final dos anos 90, quando defendia o Júbilio Iwata, do Japão. Após ser operado em Porto Alegre, também por Márcio Bolzoni, retornou aos gramados em sete meses.
— No início, tive muitas dores, mas o profissional cresce nestes momentos. Depois, voltei a jogar normalmente. Hoje, a medicina está avançada e temos os melhores fisioterapeutas do mundo. O Rodrigo Moledo está tranquilo — relata Adílson.
Com base na sua experiência em casos anteriores, Bolzoni estima o retorno do zagueiro do Inter para o segundo semestre de 2021.
— Aos 33 anos, nós médicos consideramos uma pessoa jovem. Então, as perspectivas de recuperação do Moledo são muito boas. Acredito que ele pode fazer planos para a partir de setembro ou outubro continuar a sua vida como atleta profissional — finaliza o médico.