Trata-se de um lance que Abel Braga treina bastante. Desde que "ganhou" tempo para trabalhar, após as quedas nas competições de mata-mata, o técnico canalizou energias para essas atividades. E por mais que, eventualmente, se conte com sorte ou acaso para fazer gol a partir dessas jogadas, o treino é fundamental. Quem mostra a relevância disso é Dadá Maravilha, folclórico centroavante dos anos 1960 e 70, autor de um dos gols que deu o bicampeonato brasileiro ao Inter, em 1975, marcando de cabeça contra o Corinthians.
Especialista em jogada aérea, lembrou uma história de seu começo de carreira que ajuda a ilustrar a importância do treino. E garantiu ser verdadeira:
— Comecei a jogar muito tarde, com 19 anos. Quando fui para o exército, teve um campeonato, e os jogadores do Flamengo e do Botafogo estavam todos em uma companhia. O capitão da minha nos avisou que se fizéssemos feio, iríamos presos. Eu nunca tinha jogado bola, era ladrão. Não sabia nem qual minha posição. Um amigo falou: "Pô, vai de centroavante. Já corre bastante da polícia, pula muro para roubar. Só falta chutar e cabecear". Um oficial começou a me treinar e explicar a técnica do cabeceio: "A bola bate na testa. É queixo no peito e queixo no ombro". Fiquei com isso, queixo no peito e queixo no ombro. Aprendi lá. Fiz 33 gols naquele campeonato, 28 de cabeça. Na final contra a companhia que tinha os garotos do Flamengo e do Botafogo, eles entraram de salto alto, rebolando. Ganhamos de 7 a 6, fiz seis gols. Virei peixe do capitão e me colocaram para jogar futebol. Uns anos depois, estava na Seleção ao lado de Pelé, Tostão, Jairzinho... Logo eu, que nem sabia jogar. Mas treinei muito.
Claro que atualmente quando se fala em treino não se refere apenas ao fundamento, mas também à questão tática, de movimentação, cruzamento, bloqueio e conclusão. Às vezes, não basta só jogar a bola para dentro da área, é preciso criar toda uma dança para que alguém fique em boa condição de finalizar.
— É importante. Teve a cabeçada do Rodrigo Dourado que o goleiro defendeu e (no rebote) o Edenilson fez o gol (contra o Palmeiras). Teve o gol do Dourado contra o Bahia e, agora, o gol do Praxedes (contra o Goiás). Nós temos uma equipe alta — declarou o técnico Abel Braga.
Dos 11 habituais titulares colorados, sete atletas têm altura superior a 1m80cm, outro aspecto que facilita para gols dessa maneira. Prova disso é que dos 44 gols marcados pelo Inter no Brasileirão, 14 foram de cabeça, o melhor índice do campeonato. A diferença é que, sob o comando de Eduardo Coudet, a maioria ocorria com a bola rolando. Até mesmo um dos gols após escanteio foi em cobrança curta. Com Abel, os gols saíram em levantamentos diretos de escanteio.
Lances originários de bolas paradas podem ser fundamentais para furar retrancas e dar os pontos necessários para seguir firme na luta pelo troféu. Visado por ser um dos postulantes ao título, é consenso no Inter: cada vez mais os adversários entrarão com postura defensiva. Por isso, jogadas aéreas são armas importantes.
— O Brasileirão é o campeonato mais difícil do mundo. Às vezes, é melhor jogar contra equipe que você sabe que vai te atacar — disse Abel Braga.
Dos nove jogos restantes na competição, três (São Paulo, Grêmio e Flamengo) são contra rivais diretos do G-6 e que têm um modelo de jogo ofensivo. Já nos outros seis confrontos (Fortaleza, Athletico-PR, Bragantino, Sport, Vasco e Corinthians), a expectativa é de adversários mais fechados, em que a bola aérea será fundamental.
Gols de cabeça no Brasileirão
Inter - 14
Flamengo - 11
Atlético-GO - 9
Atlético-MG, Bahia, Corinthians, Palmeiras, São Paulo - 8
Fluminense, Grêmio, Santos, Sport - 7
Athletico-PR, Botafogo, Bragantino, Ceará - 5
Coritiba e Fortaleza - 3
Goiás e Vasco - 2
Quem marcou os do inter
Thiago Galhardo - 6 gols
Yuri Alberto - 2
Guerrero - 1
Musto - 1
Abel Hernández - 1
Rodrigo Moledo - 1
Rodrigo Dourado - 1
Praxedes - 1