Antes de ser empossado como novo presidente do Inter, no dia 1º de janeiro, Alessandro Barcellos usará os últimos dias de 2020 para ficar a par da atual situação financeira do clube. Nesta quarta-feira (16), ao lado do Conselho de Gestão eleito com ele, realizou o primeiro encontro com Marcelo Medeiros, para tratar da transição de mandatos.
A ideia, anunciada durante a campanha, é apresentar um novo modelo de gestão que rompa com aquilo que vinha sendo implementado até então no Beira-Rio. Porém, a ruptura é tratada com cuidado para não impactar de maneira negativa no vestiário, afinal o time disputa as primeiras posições do Brasileirão.
— Nós queremos entender como está o ambiente e o futebol. Mais importante que trazer alguém amanhã ou em fevereiro é entender o que está acontecendo agora. O tiro é curto. Temos só duas rodadas neste ano e mais 11 no ano que vem. Nós temos esta cautela. Ainda mais se tratando de um grande treinador e um ídolo como Abel Braga, este tratamento vai ser dado — destacou Barcellos, em entrevista concedida ao programa Timeline, da Rádio Gaúcha.
Apesar do respeito ao técnico que conduziu o Colorado à conquista mundial em 2006, a Chapa 5 já vinha conversando com outro profissional da área. Há, inclusive, uma situação avançada com o espanhol Miguel Ángel Ramírez, que está no Independiente del Valle e, no ano passado, levou a equipe equatoriana ao surpreendente título da Copa Sul-Americana.
O entendimento dos futuros dirigentes é que, até pelo fato de ser 32 anos mais jovem do que Abel, Ramírez está melhor adaptado aos conceitos modernos do futebol. Um dos impeditivos para o acerto diz respeito ao salário do profissional.
Para vir ao Brasil, o espanhol deseja ganhar acima do que recebe no Equador — 50 mil dólares (cerca de R$ 255 mil, pela atual cotação). Porém, a direção calcula que as saídas de alguns jogadores que estão em fim de contrato, como D’Alessandro e Musto, irá aliviar a folha salarial e, assim, poderão assinar um vínculo de dois anos com o treinador. Uma viagem nos próximos dias à região metropolitana de Quito irá selar o acordo.
— A direção do Independiente del Valle deu positivo para a saída de Ramírez. Ele cumprirá os jogos pela 14ª e 15ª rodadas e irá regressar à Espanha, para passar as festas com sua família. Posteriormente, em janeiro, vai para o Brasil. Hoje (quarta-feira), se confirmou que o treinador não irá continuar no Equador e, desta forma, o clube busca um substituto ideal, que mantenha a filosofia e identidade do time, com jogo rápido, amplitude e muita precisão — relata Julio Paredes, repórter da Rádio Redonda FM, de Quito.
Novo organograma no futebol
A adaptação à tecnologia e à ciência de dados também se estende ao perfil buscado para formar o novo organograma do departamento de futebol. A figura política do vice-presidente deverá perder protagonismo, passando a ser os olhos do Conselho de Gestão no vestiário e no dia a dia do CT Parque Gigante. São cotados conselheiros como João Patrício Hermann, Hugo Scipião e Emílio Papaléo.
A pasta do futebol será entregue a gestores remunerados, que terão suas metas traçadas por um CEO. Entre eles, um diretor-executivo, que não será Rodrigo Caetano. Assim como fizeram com o treinador, os futuros dirigentes têm conversas avançadas com Paulo Bracks, do América-MG, que recentemente eliminou o Inter da Copa do Brasil.
Formado em advocacia, Bracks foi auditor do Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol (STJD) entre 2008 e 2014, diretor de competições da Federação Mineira de Futebol (FMF) até 2018 e, desde então, atua no clube de Belo Horizonte, tendo passado antes pelas categorias de base. Aos 39 anos, ele é visto como um profissional em crescimento, que faz um trabalho acima da média para o orçamento que dispõe.
— Para mim, não chegou nada. Ninguém me falou nada. Esta é uma informação que chegou daí — disse o presidente do América-MG, Marcus Salum, ao ser indagado sobre a possível saída do dirigente.
Além do executivo, o clube ainda terá outros dois profissionais remunerados no vestiário: um diretor técnico, que terá relação direta com a comissão técnica, e um gestor de futebol, responsável pela ligação com a base. Para o primeiro cargo, foi procurado o ex-meia Pedrinho, que atua como comentarista do SporTV desde o ano passado. Depois de ter sua carreira abreviada como atleta, o ídolo do Vasco realizou cursos de treinador e gestor na CBF, e chegou a ser auxiliar técnico do ex-centroavante Deivid, no Cruzeiro, em 2016. As tratativas, porém, não estão tão evoluídas.