O Inter confirmou nesta segunda-feira (9) a saída do técnico Eduardo Coudet. O argentino vai assumir o comando Celta de Vigo, da Espanha. Apesar da liderança do Brasileirão e de ainda estar vivo na Copa do Brasil e na Libertadores, o treinador teve uma relação de desgaste com a direção colorada, o que se acentuou nas últimas semanas.
Depois de um começo de temporada em que sofreu contestações por algumas decisões e pelas atuações do Inter nos primeiros jogos, Eduardo Coudet conseguiu ganhar a confiança de boa parte da torcida com o sucesso na pré-Libertadores e o bom início na fase de grupos do torneio continental mesmo que tenha fracassado no primeiro turno do Gauchão com a derrota no Gre-Nal da semifinal.
A primeira reclamação de pública de Eduardo Coudet ocorreu ainda em março. Após a vitória sobre o Brasil de Pelotas pelo Gauchão, o treinador se queixou das condições do gramado do CT Parque Gigante. A manifestação ocorreu na entrevista coletiva sem que ele tivesse sido perguntado sobre o tema.
— Gostaria que melhorassem os gramados. Isso tem me preocupado, não está da melhor forma. Conversei com o pessoal da direção, e eles estão procurando os profissionais para ajeitarem isso. Aqui e lá (se referindo ao CT Parque Gigante). Os treinamentos são importantes — disse.
Naquele momento, o diretor-executivo Rodrigo Caetano tratou o tema como parte do perfeccionismo do treinador e admitiu que o Inter precisava melhorar as condições dos campos de treino e também do Beira-Rio.
— O gramado vem em evolução. Assim como ele é perfeccionista no time, também é nessa questão do gramado. Estamos fazendo uma busca incessante pela melhora. O Beira-Rio e o CT sempre foram referência. Vamos retornar isso rapidamente. Essa reclamação é para manter o sarrafo alto — sustentou.
As reclamações de Coudet que começaram a abalar sua relação com a diretoria ocorreram depois da volta do futebol em meio à pandemia de coronavírus. A perda de receitas foi usada como argumento da direção para frear a busca por reforços prometidos ao treinador.
Depois de ter voltado a perder para o Grêmio e ficado fora da final do Gauchão, o Inter começou bem o Brasileirão. A primeira derrota, porém, veio no Rio de Janeiro para o Fluminense, quando o treinador fez sua primeira manifestação mais forte sobre as carências do elenco.
— Futebol não vive de promessa. Nosso orçamento era um. Se tornou outro. E não sou eu, o treinador. Temos que entender que é um momento diferente. Os impactos estão na humanidade. Não é só saúde, é economia. E nós vamos trabalhar para resolver as nossas preocupações, mas também dar o devido tamanho. Não elevar a euforia na vitória nem dar terra arrasada como hoje (na derrota para o Fluminense). Não estou desconfortável. Estou achando que sempre tem problema com a escalação. É um grupo muito curto, essa é a verdade. Eu estou trabalhando. Se vocês não acompanham esse trabalho, é muito difícil para mim. (O Inter) não é o Manchester City. Não tem uma quantidade de jogadores de hierarquia — avaliou.
Essas avaliações públicas sobre o elenco continuaram. Em meio a isso, Coudet foi perdendo jogadores – Guerrero, Saravia e Boschilia passaram por cirurgia ficando fora do restante da temporada – e também teve início o processo político. Em setembro, o presidente Marcelo Medeiros anunciou a saída do então vice de futebol Alessandro Barcellos, que viria ser candidato na chapa de oposição. Barcellos era quem trabalhava diretamente com Coudet e o argentino expressou seu descontentamento com a situação.
— Não vou negar que a saída do Alessandro, com quem tenho uma grande relação, me afetou. Ele é uma pessoa que eu gosto muito e saiu. Tomara que não afete (o time). Vamos tentar que não atrapalhe ou atrapalhe o mínimo possível. Ano político em clube grande é difícil, é algo que já passei — declarou depois do empate com o São Paulo pelo Brasileirão.
Com a saída de Barcellos, o executivo Rodrigo Caetano passou a ser o homem forte do vestiário. E tomou uma iniciativa de responder às avaliações de Eduardo Coudet sobre o elenco. Após conversas internas onde os dirigentes aconselharam o argentino e não fazer mais esse tipo de comentário - elas haviam acontecido em outros momentos também -, Caetano veio a público na última terça-feira após a vitória sobre o Atlético-GO pela Copa do Brasil e discordou das afirmações feitas pelo treinador sobre o elenco.
— Ano passado chegamos às quartas de final da Libertadores perdendo para o campeão, fomos vices da Copa do Brasil e sétimo no Brasileirão. Quem trabalha no Inter tem que pensar em disputar tudo no topo. As justificativas jamais vão servir, o que vai servir é o resultado — declarou Caetano, que completo:
— Eu, jamais, vou ficar aqui reclamando do elenco que tenho. Estou satisfeito. Podíamos ter mais opções? Podíamos. Mas não é porque eu não quero, porque o presidente não quer, porque o Coudet não quer. É porque não podemos — completou.
As declarações deixaram a situação entre Coudet e Caetano insustentável. O treinador, que nunca escondeu sua insatisfação com a formação do elenco, revelou a pessoas de confiança se sentir traído pela situação. A manobra da direção que visava dar um ultimato público para o treinador parar com as reclamações acabou abrindo de vez a porta para sua saída.
O Celta de Vigo, que já havia sondado Coudet no começo do ano, voltou a carga pelo treinador e ouviu um sim do argentino. Nesta segunda-feira, a direção colorada ainda tentou demover o treinador da posição, mas a decisão estava tomada. Coudet vai para a Espanha e Abel Braga retorna ao Beira-Rio.