A classificação para as quartas de final da Copa do Brasil com duas vitórias sobre o Atlético-GO não garantiu uma harmonia de discursos entre os profissionais mais importantes do departamento de futebol do Inter. As entrevistas após o jogo de volta, no Beira-Rio, mostraram as divergências entre o técnico Eduardo Coudet e o diretor-executivo Rodrigo Caetano sobre a postura do clube na busca por reforços.
Como se tornou rotineiro em suas manifestações, Coudet sustentou que é necessário fazer contratações para que o Inter possa disputar simultaneamente os títulos do Brasileirão, da Copa do Brasil e da Libertadores. O argentino chegou a citar que o meia Maurício não deve ser considerado um reforço por se tratar de um jogador com pouca experiência e que precisará ser preparado para atender às exigências dos desafios colorados.
— A direção tenta ser engenhosa, mas estamos falando de um jogador (Maurício) que praticamente não jogou na primeira divisão. Vamos tratar de adaptar e transformá-lo o mais rápido possível em um jogador de primeira divisão. Não conto como um reforço um atleta que seguramente terá de trabalhar — declarou Coudet, que voltou a apontar dificuldades com a afunilamento das competições.
— Não temos jogadores (reservas) com as mesmas características (dos titulares), temos que nos adaptar e ser inteligentes para obter os resultados, rodando e vendo quem está melhor. Claro que, quando acumular tudo, vai ser muito difícil. Falo sempre o que penso, ainda que alguns não gostem de escutar. Mas não gosto de mentir — completou.
Já Rodrigo Caetano entende que o treinador está sendo injusto em relação à qualidade do grupo. O executivo, que conduziu a negociação com o Cruzeiro por Maurício, afirmou que trabalhar com jovens é uma realidade do futebol brasileiro.
— Como disse o Chacho, nós aqui, por parte da diretoria que eu represento hoje, também falamos a verdade. Se ele se refere ao elenco, limitado em número, eu tenho que exaltar que ele é extremamente qualificado.
Caetano ainda fez uma comparação com o ano passado, quando, na sua avaliação, o Inter contava com um elenco de qualidade semelhante ao atual. Em 2019, o Inter foi vice da Copa do Brasil, caiu nas quartas de final da Libertadores e terminou o Brasileirão em sétimo.
O técnico Odair Hellmann foi demitido depois das quedas nas competições de mata-mata, quando o clube era sexto no Brasileirão. A vaga para a pré-Libertadores deste ano foi garantida com o sétimo lugar porque o Flamengo e Athletico-PR, que tinham vaga na fase de grupos, ficaram entre os seis primeiros.
— Penso que no ano passado nós não tínhamos um elenco muito vasto, mas chegamos às quartas de final da Libertadores, onde caímos para o campeão, fomos finalistas da Copa do Brasil e sétimo no Brasileirão. Portanto, quem trabalha no Inter e se dispõe a estar aqui, tem, sim, que pensar em disputar tudo. Justificativas jamais vão servir, o que vai servir é o resultado — avaliou.
Apesar dos discursos diferentes, a direção do Inter nega que haja disputa entre Coudet e Caetano. O vice-presidente Alexandre Chaves Barcellos diz que vê com naturalidade os discursos.
— Não existe crise alguma. É algo absolutamente natural o treinador querer mais jogadores. Cabe aos gestores saberem os limites de até onde o clube pode ir e nós perdemos receitas em todas as frentes. É um costume se manter essas questões de forma interna, de não levar para o grande público. O Coudet vem de uma cultura diferente, uma cultura argentina. Isso é preciso ser entendido.
Diante da dificuldade econômica, dificilmente o Inter fará alguma grande contratação, o que deverá levar Coudet a seguir apontando problemas do elenco de forma pública. Restará à direção administrar essa situação, pelo menos, até 15 de dezembro, quando ocorrerá o segundo turno das eleições do clube.