A história de Andrés D'Alessandro como jogador do Inter tem data marcada para acabar. Será em 31 de dezembro que o argentino, agora também cidadão brasileiro, deixará o Beira-Rio após mais de 12 anos de sua estreia, no Gre-Nal válido pela Copa Sul-Americana, em agosto de 2008. Na tarde dessa segunda-feira (23), o meia convocou uma entrevista para anunciar a decisão de sequer estender seu o atual vínculo com o clube até o final do Brasileirão, em fevereiro 2021.
Aos 39 anos, D'Ale não botou um ponto final na carreira. Ele fez questão de ressaltar que irá seguir atuando profissionalmente mesmo que ainda não saiba onde. Aos torcedores, garantiu que a decisão partiu dele e o anúncio foi feito para cortar qualquer esperança nos colorados de uma extensão do seu vínculo para a próxima temporada.
— Decidimos antecipar esse anúncio para que as duas partes não criem expectativas. O Inter seguirá gigante como é e o D'Ale vai seguir a sua carreira de atleta. Encerro a minha história e não um ciclo, como outros falam. Eu criei uma história aqui e essa é a palavra a ser dita. A decisão é unicamente pessoal — reforçou.
Durante 53 minutos, D'Alessandro respondeu aos repórteres e mostrou a personalidade que acostumou a colorados e gaúchos nos últimos 12 anos. Com a mesma ousadia que enfrenta marcadores com sua famosa La Boba, ressaltou os feitos de sua passagem pelo Beira-Rio, mas não deixou de ser direto ao criticar posturas e atitudes que não gostou na imprensa e em setores da política do clube. Foi D'Alessandro, com as virtudes e defeitos que o torcedor colorado aprendeu a amar e a entender desde aquele agosto de 2008.
Confira trechos da entrevista coletiva:
MOTIVOS
Foi uma decisão minha, pessoal e muito bem pensada. A decisão foi pensada junto com a família. Não faz duas semanas que venho pensando em não renovar e não continuar meu trabalho aqui, faz tempo. Não tem nada a ver com eleição, treinador, grupo ou resultado. Tem a ver com o meu sentimento e a minha cabeça. Eu joguei 36 partidas no ano. Os minutos foram picotados, uns jogos atuando mais e outros menos, mas sem nenhuma lesão nem deixar treino, algo que foi bastante exigente com o antigo treinador. Sempre expus minha vontade de encerrar a carreira no Inter ou no River. Um é o clube que me mostrou para o futebol e outro que fez minha carreira melhorar 500%.
TORCIDA
É frustrante não me despedir deles no Beira-Rio depois de 12 anos. Saudade da nossa torcida na nossa casa. Gostaria de sair de outra maneira, junto com eles, mas será impossível. Hoje tem de ser assim. Não estou fechando as portas para o clube. Gostaria de no futuro encerrar a minha carreira e voltar, nem que seja para um jogo. Essa é a minha vontade, posso falar hoje. Deixo as portas abertas e vai depender de quem estiver comandando o clube nos próximos anos. Para a torcida, só agradecimento. Gostaria de me despedir de outra maneira.
CONVERSA COM COUDET
Certamente para o Celta eu não vou ir, isso eu tenho certeza. O Coudet continua sendo meu amigo e isso não vai acabar. Respeitamos essa relação, ambos sabiam que a amizade não tinha a ver com a relação treinador e jogador. O tratamento profissional foi bem entendido pelos dois. Eu gostaria de ter sido mais aproveitado, nós conversamos exatamente pela relação que tínhamos. Ele passou o seu pensamento, eu o meu e fomos adiante. Eu segui meu trabalho, me doei e fiquei à disposição para jogar mesmo que 10 ou 15 minutos. Ter ficado tanto tempo aqui no clube não me dá direito a passar da linha e foi o que procurei. Gostaria de ter sido mais aproveitado porque me sinto capacitado, mas as decisões são do treinador e o resultado estava vindo. A saída dele (Coudet) foi ruim para o grupo.
POLÍTICA
O colorado de verdade ajuda e não se manifesta contra o clube, trabalha para melhorar seja a gestão que for. Mas esse cara (citou um candidato ao conselho lhe xingando nas redes sociais) não pode trabalhar junto comigo, eu não posso trabalhar junto com ele. Já vivi seis anos políticos no Inter e nunca foi diferente. Sempre aparecem os mesmos colorados para bater, para criticar, não ajudar, criar tumulto e colocar problemas que a gente não tem aqui dentro. Sempre tentei não passar da linha, ser mais um funcionário e nunca briguei com algum diretor. Sempre expus as minhas ideias porque faz parte do dia a dia, mas isso vai acontecer sempre.
FUTURO
Não sei por quanto tempo jogarei a partir de janeiro nem onde. Hoje se abrem outras possibilidades, mas não vou pensar nisso. Isso será trabalho para o meu empresário, que estava tranquilo há 12 anos. Estava fácil para ele. Chegou o momento de dar final para essa história. Muitos já passaram e eu também. Não vou encerrar a carreira porque minha ideia é continuar jogando. Isso se aparecer um clube. Se vocês seguirem falando que sou idoso, vai ser mais difícil (disse sorrindo).
MOTIVAÇÃO/ABEL
Agradeço muito ao Abel por ter voltado. Ele é um dos treinadores mais vitoriosos da história do Inter e não precisava ter voltado, podia ter ficado em casa, mas ele veio para ajudar o clube. Vamos tentar ajudá-lo também. Não imagino minha vida sem o futebol, sem acordar cedo, em ir para o treino. O meu caráter não vai mudar, a entrega para o grupo não vai mudar. Nada do que eu fiz até agora vai mudar por ter feito um anúncio desse tipo. Eu não vou controlar vocês (imprensa), alguém vai tumultuar. Em 12 anos, eu nunca controlei, e não sou ninguém para isso. O que posso controlar junto com o Rodrigo (Caetano) e o grupo é o ambiente interno, a união do elenco. Isso não desandou. Podem falar o que quiserem lá fora, mas até o último dia vou blindar o vestiário do que falarem e não for verdade.
CONFRONTO COM O BOCA/ AMBIENTE
Achei que era melhor anunciar o quanto antes. Seria pior anunciar depois do primeiro jogo contra o Boca ou ainda após o segundo, independente do resultado. A partir de hoje se cria outra situação, não tem como não falar disso. Vou ficar livre a partir de dezembro e, mesmo sem tirar meu foco do clube, preciso saber o que vai ser da minha vida depois de janeiro. O confronto com o Boca é importantíssimo, mas não só para mim. Claro que ter nascido no River cria outros fatores, mas eu tomo como um dos times mais fortes da Libertadores. É um clube que, assim como nós, vinha bem, mas perdeu os últimos jogos. Me parece que a Libertadores é diferente, se joga de outra maneira, se pensa e se entra em campo de outra forma. Nós tomaremos como uma final, como tem que ser e buscaremos fazer um bom jogo para ir à Argentina na semana que vem com alguma vantagem.