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A derrota no Gre-Nal 427, que elevou para 10 a sequência sem vitória do Inter no clássico, tem um marco histórico e cria dúvidas para o restante da temporada. Mais do que o novo revés diante do rival, a má atuação colorada no Beira-Rio expôs o momento de queda técnica dos jogadores e mostra a necessidade de ajustes na equipe de Eduardo Coudet.
Pelo Brasileirão, o Inter conquistou apenas uma vitória nas últimas cinco rodadas. A retomada da Libertadores veio com o triunfo sobre o América de Cali, mas a derrota no Gre-Nal deixou a classificação às oitavas de final ameaçada com mais duas rodadas a disputar na fase de grupos, com jogos fora de casa.
O primeiro movimento para evitar o ambiente de crise foi dado pelo vice de futebol, Alessandro Barcellos. Na tarde dessa quinta-feira (24), em entrevista coletiva, o dirigente reforçou a crença do clube no trabalho do treinador argentino, diante de perguntas sobre possível mudança na comissão técnica.
— Coudet é um grande treinador. Tem toda a confiança da direção. Já demonstrou isso. Há poucos dias, a gente estava liderando o Brasileirão e todas as avaliações eram positivas. É um processo de mudança na forma de jogar. Não falo sobre hipótese (de saída) porque ela sequer existe — reforçou.
A troca de técnico é sempre o primeiro assunto discutido no futebol brasileiro diante de resultados negativos. O próprio Inter é um exemplo recente de que evitar essa medida drástica dá resultado. Em 2018, a direção bancou Odair Hellmann após a eliminação precoce no Gauchão, e o clube conseguiu alcançar a vaga direta na Libertadores com o inesperado terceiro lugar no Brasileirão, na primeira temporada após a disputa da Série B.
No ano passado, porém, o clube escolheu outro caminho. Após as derrotas nas finais da Copa do Brasil e maus resultados no Brasileirão, Odair acabou demitido na reta final do campeonato. Mas a equipe não reagiu sob o comando de Zé Ricardo, e quase ficou sem a vaga para as fases preliminares da Libertadores. Ao fim da temporada, o presidente Marcelo Medeiros admitiu o arrependimento pela troca no comando.
Com a experiência de ter levantado a taça da Libertadores como capitão do Inter, o ex-zagueiro Bolívar afirma que é necessário que as responsabilidades pelo novo insucesso em Gre-Nal sejam divididas entre dirigentes, comissão técnica e grupo de jogadores.
— Isso funciona como uma engrenagem. Quando vence, todos vencem. Quando perde, todos perdem. Esse é o momento de os jogadores mais experientes aparecerem. Sabemos o quanto pesa uma derrota em Gre-Nal, ainda mais na Libertadores, e essa responsabilidade precisa ser dividida — avalia o ex-capitão colorado.
Poder de reação
A torcida colorada tem motivos para acreditar em uma resposta rápida após novo insucesso em Gre-Nal. O exemplo é do próprio time com Eduardo Coudet no comando. Quando foi eliminado na semifinal do primeiro turno do Gauchão pelo rival, em fevereiro, o Inter precisou superar as desconfianças logo em seguida, com os confrontos com o Tolima pela pré-Libertadores. Depois de empatar o jogo de ida na Colômbia, quatro dias depois da derrota para o Grêmio com gol no fim de Diego Souza, ainda com torcida no Beira-Rio, a equipe conseguiu a vaga para a fase de grupos com uma vitória por 1 a 0 no Beira-Rio, com gol de Guerrero.
Uma semana depois, o Inter começou sua trajetória no Grupo E com goleada por 3 a 0 sobre a Universidad Católica em casa, presenteando a torcida com uma das melhores apresentações no ano. No rodada seguinte, 26 dias depois daquela derrota para o Grêmio no Gauchão, o time de Coudet fez sua melhor atuação diante do maior adversário, no 0 a 0 no clássico da Arena.
Depois da parada do futebol por causa da pandemia de coronavírus, o Inter teve novamente de encarar o Grêmio e foi derrotado no Gauchão. O clima de incerteza apareceu para o início do Brasileirão e a resposta foi boa. O Colorado arrancou bem na competição, onde liderou até o último final de semana, quando acabou ultrapassado pelo Atlético-MG.
Para o ex-capitão Bolívar, a resposta colorada precisa vir na Libertadores e também no Brasileirão, onde em 3 de outubro terá um novo Gre-Nal pela frente, dessa vez na Arena.
— A resposta tem de vir nas duas competições. Se perguntar para o torcedor hoje, ele está muito machucado. O Grêmio ganhou uma sobrevida com esse Gre-Nal. O Grêmio vinha em uma situação complicada na Libertadores e agora os papéis se inverteram porque eles vão jogar duas em casa e o Inter fora. A pressão vai aumentar muito, mas penso que o Coudet está fazendo um grande trabalho. Tudo é questão de ter paciência e acreditar no trabalho —analisa Bolívar.
Ajustes na equipe
Para o Inter voltar a apresentar um bom futebol, Eduardo Coudet terá de encontrar soluções dentro do elenco apesar dos desfalques. Um ponto que o treinador mostrou não ser aberto a mudanças é em relação ao esquema tático. Desde que iniciou a temporada, ele tem sido fiel ao sistema 4-1-3-2, tendo feito apenas pequenas variações no decorrer de alguns jogos.
Analista tática do Diário Olé, Vicente Muglia ressalta que essa foi uma característica dos trabalhos de Coudet na Argentina. Em momento difíceis, ele buscou soluções com mudanças de peças, mas manteve seu esquema tático preferido.
— Em relação ao sistema, Coudet sempre utilizou o 4-1-3-2. Mesmo quando teve dificuldades no Racing, não mudou seu estilo. Após a queda na Libertadores para o River Plate (em 2018), ele fez mudanças de nomes na defesa e alcançou a liderança da Superliga Argentina — recorda.
Para o comentarista do Sportv Arnaldo Ribeiro, a condição do calendário brasileiro que permite pouco tempo para treinamentos obrigará Coudet a uma adaptação. Ribeiro avalia que o menor intervalo entre as partidas por conta da pandemia tem obrigado os técnicos a mudar os cenários no decorrer dos jogos.
— O calendário atrapalha mais os treinadores que são bons em treinos, que é o caso do Coudet. O Sampaoli tem tido tempo e a gente nota esse resultado no campo. Os técnicos que disputam Brasileirão, Libertadores e logo terão a Copa do Brasil precisam encontrar soluções dentro dos jogos. É uma adaptação. O Luxemburgo é um exemplo de um treinador que tem feito isso no Palmeiras. Ele tem mudado jogos nas trocas, mas é verdade também que o Inter não um elenco com tantas opções. É uma outra situação — finaliza.
Dentro dessa ideia, Alessandro Barcellos acredita que o Inter pode recuperar o bom futebol mantendo a proposta de jogo da comissão técnica.
— Nós precisamos retomar o que já demonstramos com esse plantel. A nossa postura dentro do campo de marcação alta, combatividade no ataque e de pressão no adversário. Isso, principalmente nos últimos jogos, não conseguimos apresentar — reconheceu.
Para encarar o São Paulo neste final de semana, Coudet contará com os retornos de Edenilson e Moisés, que estavam suspensos na Libertadores. Uendel com covid-19 será desfalque novamente.