A cor da camisa não irá mudar. Depois de defender por quatro temporadas o Independiente, conhecido por "Rojo" (vermelho, em português) na Argentina, Leandro Fernández assinará nesta quinta-feira (3) com o Inter. O anúncio da contratação foi feito pelo vice-presidente de futebol colorado, Alessandro Barcellos, após o empate com o Palmeiras, em São Paulo. E, apesar de ser estrangeiro, o atacante de 29 anos não precisará esperar pela abertura da janela de transferências, pois estava livre no mercado desde julho, quando encerrou seu vínculo com o clube de Avellaneda.
— Estamos esperando para ver se o Independiente chega à proposta que queremos. Ele não está feito economicamente e sabe que pode ser seu último bom contrato. Quem sabe, lá fora podem pagar — declarou o empresário Christan Bragarnik, em entrevista ao canal TyC Sports, em junho deste ano.
A relação do Inter com o agente de Fernández contribuiu para a conclusão do negócio, já que se trata do mesmo empresário do técnico Eduardo Coudet e do zagueiro Víctor Cuesta. Aliás, é mais fácil dizer quem não é agenciado por Bragarnik na Argentina. Entre seus mais de 100 clientes, constam o centroavante Benedetto, o meia Carlos Sánchez, os treinadores Ariel Holan, Sebastian Beccacece e até Diego Maradona. Por conta desta rede de contatos, quase que Fernández foi parar no Elche, da Espanha, onde o técnico Jorge Almirón, ex-Lanús, acabou anunciado no final de agosto.
Entretanto, não se pode dizer que o atacante vá desembarcar no Beira-Rio apenas por ter o mesmo empresário do treinador. Por muito tempo, inclusive, Coudet teve Fernández como rival. O argentino chegou a jogar no México e Guatemala (por Tijuana e Comunicaciones, respectivamente), mas sua carreira foi construída quase que inteiramente no país natal.
Revelado no Defensa y Justicia, ainda passou pelo Ferro Carril antes de despontar no Godoy Cruz como vice-artilheiro do campeonato de 2015, atrás apenas de Marco Rúben, do Rosario Central. O destaque fez com que o Independiente investisse 1,7 milhões de dólares na sua compra.
— É um futebolista que chuta bem com as duas pernas e tem bom arremate de média distância. É muito dinâmico, marca muito os defensores rivais e se move por todo o ataque. Seu ponto negativo é que é muito individualista e perde muito a bola. Mas aqui, no Godoy Cruz, deixou um bom conceito — recorda Federico Acosta, repórter da Rádio LV10, de Mendoza.
No "Rei de Copas", fez parte do elenco campeão da Copa Sul-Americana de 2017, sendo reserva nas finais contra o Flamengo. No ano seguinte, jogou as duas partidas contra o Grêmio, pela Recopa — em Avellaneda, entrou na etapa complementar e, na Arena, começou como titular e foi substituído no intervalo, não participando da disputa por pênaltis que rendeu o título ao Tricolor.
— É um atacante de muita personalidade, que aparece nos momentos adversos. Marcou um gol importante no clássico contra o Racing, em 2017. Não é um atacante de área, mas um parceiro para o camisa 9. Não fica cravado na área, brigando com os zagueiros. Tem muita mobilidade, é muito rápido e tem capacidade de se desmarcar. Não tem bom cabeceio, até porque não é alto, mede 1m78cm. Mas chuta bem com a bola em movimento e, pela velocidade, pode ser bom para jogar no contra-ataque. Apesar de sua irregularidade, o treinador pediu para ele ficar, mas como tinha um alto salário em dólares e o clube enfrenta uma crise econômica muito grande, não conseguiram renovar seu vínculo — analisa Favio Verona, repórter do Diário Olé.
Desta sua passagem pelo Independiente, porém, uma situação serve de alerta aos colorados. Logo em sua chegada ao clube, em 2016, rompeu os ligamentos do joelho direito. Em 2018, passou pelo mesmo problema, mas no joelho esquerdo. Esta situação fez com que não conseguisse estar em sintonia com o time, e acabou emprestado ao Vélez Sarsfield em 2019.
Voltou ao Estádio Libertadores de América no início deste ano, disputando apenas 10 jogos em 2020. Marcou três gols — um deles, o da vitória sobre o Fortaleza, no jogo de ida da primeira fase da Copa Sul-Americana. Sua última aparição em campo foi no dia 14 de março, quando entrou nos minutos finais diante de seu ex-clube, o Vélez.
— Teve uma passagem irregular pelo clube, muito marcada por lesões. Quando saiu, grande parte da torcida já não o queria, mas teve momentos em que foi idolatrado. Nunca conseguiu se firmar como titular, sendo sempre uma alternativa a Gigliotti ou Benítez — avalia Nelson Laffite, jornalista do site especializado "Infierno Rojo" — Creio que tem bom potencial. Vai render no Inter, mas vai ter altos e baixos. Terá partidas muito boas e outras em que vai irritar o torcedor. Mas é um ótimo profissional, que se dedica 100% nos treinamentos e cuida da sua alimentação. Além disso, tem um círculo de amizade muito fechado. Apesar das lesões, está bem fisicamente — atesta ele.
Confira os números de Leandro Fernández:
2008/2011: Defensa y Justicia — 51 jogos e 9 gols
2011/2012: Tijuana-MEX — 7 jogos e nenhum gol
2012/2013: Ferro Carril — 21 jogos e 2 gols
2013/2014: Defensa y Justicia — 1 jogo e nenhum gol
2013/2014: Comunicaciones-GUA — 22 jogos e 3 gols
2014/2015: Godoy Cruz — 44 jogos e 18 gols
2016/2018: Independiente — 53 jogos e 17 gols
2018/2019: Vélez Sarsfield — 25 jogos e 5 gols
2019/2020: Independiente — 10 jogos e 3 gols
*Números do Soccerway