Nesta semana, GaúchaZH ouve treinadores que passaram pela dupla Gre-Nal neste século para relembrar histórias de bastidores de suas passagens por Porto Alegre e saber mais sobre a continuidade de suas carreiras.
Apesar de nunca ter sido efetivado no cargo de treinador da equipe principal do Inter, Osmar Loss teve experiências que muitos profissionais que passaram pelo Beira-Rio não conseguiram vivenciar. Como treinador interino, ele comandou a equipe na disputa da Copa Audi, na Alemanha, enfrentando gigantes como Barcelona e Milan. No mesmo ano, em 2011, dirigiu o time no jogo de ida da Recopa Sul-Americana, contra o Independiente, na Argentina. Por fim, foi o técnico colorado no último Gre-Nal disputado no Estádio Olímpico, em 2012.
Após longos trabalhos prestados às categorias de base do clube, transferiu-se para São Paulo, onde, em 2018, assumiu a equipe principal do Corinthians. No ano passado, aventurou-se por Guarani e Vitória para, nos últimos meses, aceitar um convite para retornar ao clube paulista. Direto da capital paulista, onde vive com a família, Loss atendeu ao GaúchaZH e relembrou sua trajetória no futebol.
Seu último trabalho foi no Vitória. O que tem feito durante essa paralisação do futebol?
Eu fixei residência em São Paulo há cinco anos. Infelizmente, nossa rotina é bastante atribulada e aqui a gente fica mais próximo de qualquer região do país. Meu último clube como técnico de equipe profissional foi o Vitória, de onde saí em agosto do ano passado. Fui convidado por outras equipes, com projetos de tiro curto, pensando mais no Estadual, então optei por esperar. Já vinha recebendo sondagens do Corinthians para retornar como coordenador técnico da base e acabei optando por esse caminho 15 dias antes de estourar a pandemia. Então, atualmente, estou efetuando esta função, com as equipes do sub-23 até sub-10.
Era um ano de eleições no Inter, e sabemos o quanto isso é importante e influencia na hora de colocar um prata da casa como treinador
OSMAR LOSS
ex-técnico interino colorado sobre 2011
Sua carreira é muito vitoriosa nas categorias de base. No Inter, por exemplo, você ajudou a revelar muitos jogadores, como Walter, Damião, Taison. Quais são aqueles que você mais gosta de citar?
Sabe que, neste momento da pandemia, uma situação bacana foi reencontrar nas redes sociais muitos atletas que trabalhei no Inter. Você citou alguns deles, mas tem outros como o Titi, que está na Turquia, o Rodrigo Possebon, que esteve no Manchester United, o Alexandre Pato, que está hoje no São Paulo. Foram 18 anos da minha carreira trabalhando no Inter, em duas passagens, e tem muitos jogadores que ficam na memória. Às vezes, fico constrangido quando dizem que eu formei esses jogadores. Todos os profissionais da base fazem parte de uma engrenagem, eu fiz parte e apareci mais por estar no último ciclo. Mas tem muitos profissionais que foram importantes no desenvolvimento destes atletas.
Você teve passagens como técnico interino do Inter. Em algum momento você chegou a pensar que seria efetivado no cargo, como o Odair Hellmann foi recentemente e como você mesmo acabou sendo no Corinthians?
Sem dúvida nenhuma. A passagem mais marcante foi a sequência de 2011, quando teve a saída do professor Falcão e eu havia retornado do Fluminense. No primeiro jogo, vencemos o Avaí de virada, na Ressacada, e a partir dali eu senti que os atletas e dirigentes prestaram atenção em mim. Fomos para a Copa Audi e fizemos uma campanha digna, empatando com Barcelona e Milan. Fizemos uma sequência de jogos no Campeonato Brasileiro e o primeiro jogo da Recopa Sul-Americana. Eu imaginava que ali poderia ser uma oportunidade para me tornar o técnico permanente, mas era um ano de eleições no Inter, e sabemos o quanto isso é importante e influencia na hora de colocar um prata da casa como treinador. Então, acabou que veio o Dorival Júnior, que seguiu o trabalho e foi campeão da Recopa no Beira-Rio. Já em 2012, o Inter não tinha tantas aspirações no campeonato, não corria risco de cair e nem tinha chances de G-4, mas era um jogo extremamente histórico. Era para ser o último jogo da história do estádio. Depois teve outras partidas, mas foi o último Gre-Nal do Olímpico. O Grêmio precisava da vitória, que o colocaria direto na fase de grupos da Libertadores, mas nós conseguimos segurar o empate, com dois jogadores a menos. Foi um Gre-Nal bastante tumultuado.
No futuro, você pensa a voltar a trabalhar como técnico de times profissionais ou vai ficar em definitivo nas categorias de base?
Não foi uma decisão fácil de ser tomada. O Corinthians já havia feito muitas sondagens, e eu sempre tive receio de saber o que isso representaria na minha carreira. Mas, nos últimos dias antes de eu aceitar, pensei no que eu sentia falta no Brasil, que é a figura de um coordenador com experiência dentro das quatro linhas. Que tenha liberdade de debater os melhores caminhos com os treinadores, de falar com experiência sobre o que ele está vivenciando. Não vou me preocupar com papéis e gestão administrativa, mas com gestão técnica e tática. Então, não vejo como um empecilho para que, no final da temporada, eu possa retornar à função de treinador. É uma oportunidade de evoluir na carreira. Não digo que é uma escolha definitiva, mas também não digo que é uma certeza a minha volta. Um profissional do futebol tem de estar preparado para todas as áreas, e é isso o que tenho tentado oportunizar.