O auxiliar-técnico do Inter no título da Sul-Americana de 2008 era Cleber Xavier, que até hoje trabalha com Tite, na Seleção Brasileira. Em entrevista à GaúchaZH, ele recordou a conquista, os duelos com o Estudiantes, o gol de Nilmar, a campanha no torneio e o fato de o clube ter se tornado "Campeão de Tudo" a partir daquele troféu. Confira:
Qual a sua lembrança daquela decisão contra o Estudiantes, em 2008?
O que marca muito na final é aquela coisa do detalhe. O Índio era um dos nossos esteios e não pôde jogar aquela segunda partida porque estava lesionado, e o gol do Estudiantes foi em cima do Danny (Morais). Colocamos o menino e o gol foi em cima dele, poderia ter reagido muito mal, mas o gol do Nilmar, na prorrogação, contou com o cabeceio dele no princípio da jogada. Ali ele conseguiu se redimir dentro do próprio jogo. Estávamos sem o Guiñazu também, que foi expulso o no primeiro jogo. Foram confrontos muito difíceis. O Estudiantes era muito forte em casa e nós conseguimos vencer com um a menos. Depois, o segundo jogo foi duro. Mas o apoio da torcida no Beira-Rio nos ajudou muito.
Na partida de volta, o Inter jogava por um empate, mas acabou perdendo no tempo normal. O que passou pela cabeça de vocês no momento do gol do Estudiantes?
Muitas coisas. O adversário era experiente, argentino, com uma forte liderança em campo que era o Verón. E o treinador deles não repetiu a forma de jogar nas duas partidas, nem em desenho nem em estratégia. Por ser bom time, fizeram grande jogo em Porto Alegre. Sofremos, mesmo em casa. Fizemos as substituições, colocando o Gustavo Nery e depois o Taison para equilibrar. Conseguimos muito pelo apoio da torcida, que entendia que era uma competição importante para nós, até para sermos campeões de tudo. Mas enfrentamos um time que, naquele momento, era superior ao nosso. Tanto que no ano seguinte eles foram campeões da Libertadores. Mas foram dois grandes jogos, decididos no detalhe.
Conseguimos muito pelo apoio da torcida, que entendia que era uma competição importante para nós, até para sermos campeões de tudo. Mas enfrentamos um time que, naquele momento, era superior ao nosso. Tanto que no ano seguinte eles foram campeões da Libertadores
CLEBER XAVIER
auxiliar-técnico do Inter em 2008
Chegar à prorrogação e ver aquele gol do Nilmar, como foi para vocês, à beira do campo?
Eu e o Tite já tínhamos experiência de final. Mas a nossa conquista anterior tinha sido com o Grêmio, na Copa do Brasil e no Gauchão de 2001. Trabalhamos em outros clubes, mas sempre com a missão de livrar da parte de baixo. No Inter não foi diferente, tiramos de uma situação ruim no Brasileirão e, quando não dava mais para chegar no nacional, apostamos na Sul-Americana. O trabalho ali na prorrogação era muito emocional. Buscamos usar a palavra mesmo porque o jogo era equilibrado, não tinha como ajustar tática. A estratégia estava encaminhada, precisávamos que eles estivessem bem emocionalmente. Aquele time merecia o título e o gol do Nilmar garantiu isso, a nossa tranquilidade.
Naquela campanha, o Inter passa por Grêmio, Universidad Católica, Boca Juniors, Chivas e Estudiantes. O nível dos adversários deu mais peso à conquista?
Com certeza. Foram jogos contra times de vários países. Brasil, Chile, Argentina duas vezes e México. Enfrentamos times de muita tradição. Imagina, começar aquela campanha com um Gre-Nal, com um time que ainda não estava pronto. Depois, dois jogos complicadíssimos contra os chilenos. Dois empates. Classificamos pelo gol fora de casa. No confronto com o Boca, o Alex foi fundamental. Fez dois golaços naqueles chutes de fora da área. Depois daqueles jogos vi que o grupo estava muito alegre. Embalamos uma boa sequência com as duas vitórias contra o Chivas. Sabíamos que o time tinha crescido ao longo da competição. Depois, vencer o Estudiantes e firmar um título desses foi algo que marcou muito para nós e para o torcedor também.
Aquela conquista marcou o Inter como "Campeão de Tudo". Isso mexia com o vestiário às vésperas daquela decisão?
Para ser sincero, a gente não pensou nisso. Nunca usamos esses fatores externos para motivas os atletas. Nem essa questão de poder ser campeão de tudo, nem a respeito de premiação. Tanto que o Nilmar quando ganha o prêmio em dinheiro da competição, por ter sido o destaque, divide entre os funcionários do clube. Esse tipo de coisa torna a conquista ainda maior. Um menino ser solidário com os demais responsáveis por aquela conquista dá uma alegria muito grande. É aquilo que a gente sempre diz: faz a coisa boa, o que é certo, que o resultado vem. Por isso, temos uma gestão tão humanizada, de conversar e se interessar de verdade pelas pessoas. Isso te leva às conquistas e a ser maior. Talvez esse fato de ter sido campeão do torneio que faltava tenha sido a recompensa pelo trabalho de todos ali.