A discussão entre posição e função de jogadores voltou à pauta no Beira-Rio. Diante do time escalado por Eduardo Coudet na estreia do Inter na Libertadores, contra a Universidad de Chile, levantou-se a questão: como pode uma equipe ser ofensiva com quatro volantes?
O jogador pode ser volante de origem e executar outra função durante o jogo. Foi o caso de Ramiro, no Grêmio, no período em que atuou como meia pela direita. Além disso, antes mesmo de Coudet ser anunciado como treinador colorado, D'Alessandro deu pistas de como "Chacho" gosta de armar seus times.
— Ele joga com um volante, três meias e dois atacantes. Os meias são aqueles volantes-meias, tipo Aránguiz, Edenilson. São jogadores que chegam nas duas áreas, com arrancada forte e versatilidade — disse o camisa 10 em entrevista a José Alberto Andrade, ainda em novembro, na Rádio Gaúcha.
Primeiro volante
Para esta posição, o técnico pediu a contratação de um homem de confiança: Damián Musto, ex-comandado no Rosario Central e no Tijuana-MEX. Com posse da bola, ele recua para o meio dos zagueiros, chegando até a aparecer por trás dos dois, funcionando como um antigo líbero.
— Musto joga como um "volante tampão", à frente da linha dos zagueiros. Ele (Coudet) o usa para defender, sobretudo na bola aérea defensiva — explica Mariano Bereznicki, repórter do jornal La Capital, de Rosário, na Argentina.
Como Flamengo e River Plate, finalistas da Libertadores do ano passado, usam o mesmo 4-1-3-2 como sistema tático, vale a comparação com Willian Arão e Enzo Pérez, responsáveis por ocupar esta faixa do campo. Ambos tinham a missão de fazer a cobertura quando suas equipes sofriam contra-ataques, mas, principalmente, a função de iniciar a construção ofensiva com um passe mais qualificado. No caso do time argentino, o primeiro volante foi o atleta que mais acertou o fundamento durante o torneio — média de 54 passes corretos por jogo, segundo o Footstats.
Meia central
Esta é a função em que Coudet enfrenta maior dificuldade para encontrar um jogador no elenco colorado capaz de desempenhar. Depois de testar os garotos Johnny e Nonato, o argentino escalou Rodrigo Lindoso em Santiago. Entretanto, este atleta pode até ser um volante, desde que seja capaz de se movimentar e de fazer a bola circular.
— O volante que joga à frente de Musto tem a função de distribuir o jogo para os laterais. Coudet costuma jogar muito pelos lados do campo — atesta Bereznicki.
No Rosario Central que eliminou o Grêmio da Libertadores em 2016, a função ficava a cargo de um camisa 10: o canhoto Franco Cervi, que hoje atua no Benfica. Na campanha do título do Flamengo no ano passado, foi realizada por Gerson, um volante de bom passe. Porém, quando a situação apertava e o time precisava ser mais ofensivo, Jorge Jesus não vacilava em chamar o experiente Diego do banco de reservas, salientando a capacidade de armação que o jogador precisa ter neste setor.
Meia esquerda e direita
Walter Montoya, que recentemente passou pelo Grêmio, é o símbolo do que o Coudet espera nesta função. Não à toa, depois de trabalhar com o argentino no Rosario Central, repetiu a dobradinha no Racing. Voluntarioso, o atleta pode fazer o vai-e-vem do meio-campo, tanto ajudando no desarme como na participação ofensiva.
Porém, como a ideia é propor o jogo com a bola no pé, estes jogadores serão muito mais exigidos para agredir a área rival e aparecer como elemento surpresa, vindos de trás.
— Os três meias ofensivos jogam por dentro, e não pelos lados — explica Leo Paradizo, repórter da Rádio Continental, de Buenos Aires, que acompanhou o trabalho de Coudet no Racing.
Assim, se entende os motivos que fizeram Coudet abrir o ano usando volantes nestas funções. Contudo, Flamengo e River Plate têm jogadores mais criativos para estas funções. Para se ter uma ideia, na Libertadores passada Éverton Ribeiro e Nicolás De La Cruz obtiveram 14 dribles certos cada um, ficando atrás só do gremista Everton, com 29 neste quesito. O flamenguista atua pelo lado direito do meio-campo — setor ocupado por Edenilson no Inter —, enquanto o uruguaio atua pelo lado esquerdo, lugar de Patrick no Colorado.
Os outros jogadores que compuseram o meio-campo destas equipes foram atletas igualmente ofensivos: De Arrascaeta e Nacho Fernández, respectivamente. Portanto, não será surpreendente Coudet optar por Thiago Galhardo, Marcos Guilherme ou Gabriel Boschilia no setor ao longo da a temporada. Até mesmo um atacante pode ser recuado para esta faixa do campo, mas sem a missão de atuar como um ponteiro.
— Ele gosta de jogar com meio-campistas internos. Para ele, não servem os extremos que cheguem ao fundo e cruzem. Não casam com seu estilo — diz Nicolás Montalá, repórter do Diário Olé.