Às vésperas de mais um Campeonato Estadual, GaúchaZH preparou uma série de matérias intitulada Raízes do Gauchão. O objetivo é relembrar o surgimento de craques que, antes de virarem ídolos e estrelas mundiais, desfilaram seu talento pelos gramados do Rio Grande do Sul.
Inaugurado em 1969, o Beira-Rio já serviu de palco para muitas conquistas do Inter. Várias delas foram na década de 1970, quando o clube ergueu três Campeonatos Brasileiros e oito Gaúchos. Porém, o estádio também viveu seus insucessos. A primeira vez que um time do Interior bateu o Colorado, por exemplo, foi naquela época. É bem verdade que houve um outro fato mais importante naquele 15 de abril de 1973: a estreia como profissional de Paulo Roberto Falcão.
Contudo, o grande nome daquela partida foi Décio, o ponta do Esportivo, de Bento Gonçalves, autor dos gols que decretaram a vitória de 2 a 1 do time da Serra.
— Foi um jogo muito difícil. O Inter tinha um time muito bom. Em um dos gols, eu driblei o Figueroa e chutei de longe. A bola passou por cima do Schneider (goleiro do Inter). Não sei como eu consegui, porque ele era muito alto. Mas eu também chutava bem com as duas pernas. Para mim, foi um jogo histórico — recorda o próprio Décio.
A equipe bento-gonçalvense tinha bons jogadores, como o meia Neca, que seria contratado pelo Grêmio em 1975, acompanhado do técnico Ênio Andrade — futuro comandante do tri invicto colorado, seis anos depois, mas que àquela época comandava o Esportivo. Já o Inter era treinado pelo paulista Dino Sani, que começava a montar a equipe que conquistaria o país posteriormente.
— Dino sempre foi um dos bons treinadores que o Inter teve. Ele que ensinou o Falcão a cabecear e bater de primeira na bola. Era muito inteligente e muito calmo — discorre o ex-atleta. — Eu tive a oportunidade de jogar de 1965 até o início de 1976. Então, tive a satisfação de ver surgir toda essa gurizada, como Falcão, Carpegiani, Jair, mais as chegadas de Figueroa, Manga. Vi tudo isso acontecer — recorda Bibiano Pontes, ex-zagueiro colorado.
Quis o destino que Falcão, o pupilo de Dino Sani, ingressasse no time no segundo tempo daquele jogo, na vaga do experiente Carbone. Então com 19 anos, ainda estava longe de ser um dos maiores ídolos da história do Inter e o futuro "Rei de Roma". Portanto, pouco pôde fazer para reverter a derrota colorada. Menos mal que o resto da história foi completamente diferente.
— O Falcão sempre teve personalidade, tanto que conversava com a gente que era mais experiente e dava até orientação. A qualidade técnica não precisa nem falar, né? Era nato dele. Mas tinha facilidade para assimilar. Por isso, não saiu mais do time — completa Bibiano.