O Inter do passado deixou o Inter do presente com um calendário apertado. Da apresentação de Eduardo Coudet à estreia no Gauchão há um prazo de apenas 16 dias. Para o começo do mata-mata na pré-Libertadores, há uma folga um pouco maior: 28 dias. A nova comissão técnica do Inter assumiu a equipe com uma primeira missão: formar um time e colocá-lo em condições de competição em menos de quatro semanas. Um desafio e tanto. Por isso, desde a primeira tarde de trabalho os treinos físicos foram intensos, e aliados com treinamentos com bola.
Não que seja novidade, afinal, relatam jornalistas argentinos que cobriram o Rosario Central e o Racing, ambos de Coudet, que as exigências do treinador com relação ao preparo físico de seus times são enormes. Assim, os preparadores físicos argentinos Octavio Manera e Guido Cretari se tornaram as estrelas dos primeiros movimentos colorados em 2020. Ambos são auxiliados pelos profissionais da comissão permanente do Inter, Cristiano Nunes (agora alçado a coordenador de preparação física), Élio Carravetta e Ricardo Colbachini. Afinal, apesar das informações recebidas por Coudet de dirigentes e de D'Alessandro, somente o dia a dia com o elenco para dar intimidade.
Conhecido por exigir equipes intensas em campo, o trabalho da comissão técnica de Coudet até agora parece não perder um minuto sequer. Logo no primeiro turno de treinos, os jogadores deixaram o gramado do CT Parque Gigante depois das 19h. Treinamentos em dois turnos foram realizados desde então. Treinos físicos, mas sempre com a bola junto aos atletas. Os pedidos de entrevistas com Manera e Cretari foram rechaçados. Motivo: estão consumidos pelos primeiros treinos, e sem tempo sequer para coletivas nesse momento.
— Racing é um time intenso, que quando perde (a bola) reage rápido. Existem times que esperam, que jogam em contra-ataque, e esse time tem outra intensidade e outros parâmetros — comentou Octavio Manera, em entrevista ao portal argentino Analitica Sports, no ano passado, a respeito do trabalho que levou o Racing ao título nacional.
Se tudo deu certo para o Racing — de agosto de 2018 a março de 2019, na campanha do título —, o time do segundo semestre do ano passado sentiu um maior desgaste físico, relata Agustín Iuele, repórter do site Racing de Alma.
— Coudet exige times rápidos e que pressionem muito. Ele quer que sejam quase perfeitos. E, em 2018, tudo foi perfeito mesmo, o que levou o clube ao campeonato. No segundo semestre de 2019, porém, os jogadores mais rodados terminaram o ano cansados. Devido ao esforço do time, muitos atletas sofreram lesões musculares e perderam diversos jogos por desgaste. Os treinos eram extremamente intensos, com muita exigência já na pré-temporada. E Coudet não é de preservar jogadores, o faz apenas quando realmente necessário, em casos muito especiais — conta Iuele.
Nessa primeira semana de treinos, mesmo sob o sufocante verão porto-alegrense, além dos protocolares exames, os preparadores físicos do Inter intensificaram tiros curtos de corridas, aquecimento voltado para a troca de passes, movimentação em espaço curto e agilidade nos movimentos, finalizando com corridas mais longas ao redor do gramado.
— As equipes de Coudet sempre foram muito físicas. Ele gosta que os times pressionem o adversário desde o sistema ofensivo. No Racing, os treinos, por vezes, eram mais fortes do que os jogos, o que por um lado era ótimo, pois dava aos jogadores um alto nível de competição. Porém, ao longo do tempo, houve consequências: os jogadores se desgastaram demais em treinos e em jogos, o que gerou muitas distensões e contraturas musculares. Essa intensidade, porém, é a marca de Coudet. E ele não mudará no Inter — atesta Nicolás Sanles, analista tático e jornalista argentino.
Também ao Analitica Sports, Guido Cretari comentou a respeito do processo físico-tático com Coudet:
O estilo de jogo não depende apenas da parte física. Há questões técnicas que são muito importantes. Se você quer ser um time de posse de bola, a parte técnica às vezes é mais importante do que a física, porque geralmente quem não tem a bola corre mais. Aí, a parte técnica tem uma relevância fundamental porque tudo é passe e controle. Se você não tem controle, perde a posse de bola. Há jogadores que correm menos, não porque não possam correr mais, mas porque têm boa leitura de jogo.
Com pouco tempo de clube, e escasso período para a estreia na temporada, no Estádio Alfredo Jaconi, a nova comissão técnica do Inter ainda não definiu se haverá amistoso ou jogo-treino nos próximos dias, tampouco se alguns titulares serão preservados da partida contra o Juventude. Na pré-Libertadores, tudo indica que o Inter terá como primeiro adversário a Universidad de Chile, uma vez que o Unión Española não deverá disputar a partida válida pela semifinal da Copa do Chile, adiada devido aos protestos populares naquele país — e que definirá o classificado à pré-Libertadores.
— Certamente o Inter será uma equipe muito ofensiva, agressiva no ataque, para que seja protagonista. Imagino que Coudet montará um time muito dinâmico, como o fez no Central e no Racing. A pré-temporada será muito importante, apesar do pouco tempo, porque ela permitirá que Coudet de cara possa montar esse time dinâmico — aposta Mariano Bereznicki, setorista do Central, no jornal La Capital, de Rosario.
Os jogadores do Inter já começam a ter uma ideia da intensidade de Eduardo Coudet. Afinal, a temporada será de enormes desafios. E Coudet quer resultados.