José Ricardo Mannarino, novo técnico do Inter, teve uma curta carreira dentro de campo no futebol. Passou pelas categorias de base como zagueiro São Cristóvão e do Olaria. Não chegou a jogar como profissional, ainda que tenha atuado como fixo no futsal do Rio.
Amante de esportes, o carioca nascido em 13 de março de 1971, enquanto o Colorado de Valdomiro começava a formar a máquina que daria ao clube o tricampeonato brasileiro, Zé Ricardo decidiu seguir a vida ligado ao desporto, e cursou a faculdade de educação física.
Apesar de o seu começo de carreira estar ligado ao Flamengo, a primeira chance surgiu no futsal do Vila Isabel (tradicional equipe do Rio), em 1992, aos 21 anos, enquanto o Inter conquistava a Copa do Brasil. Agora, Zé Ricardo faz parte da história do Inter. É o 117° treinador do clube, ainda que tenha sido contratado por apenas 11 jogos. O primeiro deles, por sinal, será neste sábado, às 19h, contra o Bahia, na Fonte Nova.
Sem sucesso nas investidas iniciais sobre Roger Machado e Tiago Nunes (os primeiros dois adversários de Zé Ricardo no comando do Inter), a direção colorada rumou para Avellaneda, onde deixou encaminhada para janeiro a contratação do técnico argentino Eduardo Coudet.
Já sem Odair Hellmann, e com o interinato de Ricardo Colbachini se aproximando do Gre-Nal na Arena (em 3 de novembro), os dirigentes entenderam por bem buscar imediatamente um treinador de contrato provisório, para 46 dias. Afinal, o trauma de jogar o clássico com um interino é demasiadamente recente para o Inter.
Os holofotes começaram a iluminar Zé Ricardo a partir da conquista da Copa São Paulo de 2016. Treinador das categorias de base do Flamengo há quatro anos, ele bateu o Corinthians de Osmar Loss (ex-Inter) na decisão do torneio, e ganhou novo moral no clube. Além da taça, revelou no sub-20 Lucas Paquetá, Felipe Vizeu e Léo Duarte. Devido à constatação de uma arritmia cardíaca, o treinador do Flamengo à época, Muricy Ramalho, pediu a rescisão de contrato e abandonou o futebol.
Foi então que a direção rubro-negra, sem grandes opções de mercado, ao final de maio, decidiu apostar em Zé Ricardo. O técnico é, sobretudo, uma pessoa paciente. Em um primeiro momento, o Flamengo o confirmou como interino, apostando na mística dos treinadores pratas da casa do clube.
E, negociações frustradas (até com Abel Braga), 11 jogos e dois meses depois, Zé Ricardo foi efetivado como treinador. Nesse rol de 11 partidas, está uma vitória por 1 a 0 sobre o Inter de Argel Fucks, com Leandro Almeida na zaga, Anderson no meio-campo, ao lado de Seijas. Em 2017, começando o ano com o Flamengo, se sagrou campeão carioca, invicto.
— O que chamou a atenção é a adaptabilidade do Zé Ricardo a diversas situações — afirma Carlos Mansur, articulista de O Globo e comentarista dos canais SporTV.
— Ele surgiu na Copa São Paulo, com um time bem organizado, e que propunha o jogo. Mas, quem o conhecia na época, dizia que ele gostava também de um time mais defensivo, com um estilo diferente. Ocorre que Zé Ricardo subiu para o profissional e se deparou com um time que já investia mais alto e que deveria jogar mais com a bola, propor o jogo. E ele fez esse time, com momentos de bom futebol — recorda Mansur.
Para Muricy Ramalho, que deu lugar a Zé Ricardo no Flamengo, o novo técnico tem chance de permanecer no Inter caso consiga levar o time à Libertadores. O próximo desafio será conquistar um título importante.
— Ele começou muito bem no Flamengo. Fez um grande trabalho. Conhecimento, ele tem. É um cara do bem, bom gestor também. Mas é aquela coisa: se você não conquista (títulos), dificilmente permanece em um time grande. O que falta é isso: resultado. Porque, sem isso, não adianta ser bom treinador, o que ele é.
O jornalista destaca ainda que, ao deixar o Flamengo, Zé Ricardo assumiu times mais modestos, como Botafogo e Vasco, e, mesmo assim, conseguiu realizar bons trabalhos:
— No Botafogo e no Vasco, ele precisou moldar times diferentes. Começou com equipes com maior solidez defensiva para que pudesse organizar os ataques depois. No Inter, com um tiro curto, não acredito que ele promova uma revolução. Acho que nem é essa a encomenda, mas, sim, tentar colocar o clube na Libertadores. Assim, muito do que Inter se acostumou a fazer na temporada seguirá sendo feito, com mais articulação no ataque, mas não esperem revolução, pois não há tempo nem é o perfil dele.
No Vasco, Zé Ricardo foi contratado pelo então diretor executivo Paulo Pelaipe — atual gerente de futebol do Flamengo —, depois de conquistar o Estadual com o rival. Em São Januário, chegou a ficar 11 jogos invicto no Brasileirão, classificando o clube para a Libertadores. No ano seguinte, ainda com o Vasco, foi eleito o melhor treinador do Campeonato Carioca. Depois, foi contratado pelo Botafogo.
— O Zé é um cara sério, correto, acima da média, com boa formação profissional. No Flamengo, comandou do sub-15 ao sub-20. No Vasco, fez um bom trabalho, mesmo com problemas de salários atrasados. Recebeu uma equipe média e fez um ótimo trabalho. É extremamente trabalhador, detalhista e estudioso — elogia Pelaipe.
Apesar do escasso tempo de trabalho que terá no Inter, Zé Ricardo terá de provar que pode permanecer no clube para 2020 — o que parece inviável no momento, ainda que o Boca Juniors esteja procurando treinador para a próxima temporada, e Coudet seja opção.
Ainda que em mandato-tampão, o novo treinador terá a missão de começar a mudar a cultura da retranca no Inter. Antes de atender ao chamado do diretor executivo Rodrigo Caetano, com quem trabalhou no tempos de Gávea, o técnico planejava retornar à Europa para acompanhar treinamentos e jogos.
Tem cidadania italiana, já trabalhou no futsal daquele país, mas, em nome de investir no projeto colorado, decidiu adiar os planos. Zé Ricardo já comandou os times profissionais do Flamengo, do Vasco, do Botafogo, além de ficar alguns jogos no Fortaleza. Acabou deixando o cargo abruptamente na temporada 2019 porque o clube recontratou Rogério Ceni.
Se até agora o 2019 colorado foi baseado em um time que atuava por escore mínimo ou quase isso (a única goleada no ano foi o 3 a 0 sobre o Cruzeiro), agora, Zé Ricardo começa a mudar o mantra do ferrolho. O treinador, apesar de poucos dias de trabalho, já arrancou elogios de lideranças do vestiário devido à nova postura.
— Ele tem um jeito de jogar muito bom, porque adianta as linhas, faz todo mundo atacar e defender. Eu tive um ano muito bom com ele, com média de gols importante. Zé Ricardo é um treinador novo, que evoluiu muito desde que passou pelo Flamengo. Em todos os times em que passou, foi muito bem, e com certeza nesses últimos jogos nós vamos melhorar muito e conseguir a classificação para a Libertadores — disse Guerrero, cuja a melhor fase nas últimas temporadas foi justamente sob o comando de Zé Ricardo.
Mesmo o sistema defensivo deve ter mudanças com o novo técnico. Para Víctor Cuesta, o Inter se tonará uma equipe que atacará mais:
— Ele quer um time mais ofensivo, marcando mais alto. Não dá para fazer muita coisa diferente, jogando fora de casa, porque a gente vem trabalhando de uma forma, e é difícil mudar muito em poucos dias, mas as primeiras impressões são muito boas. O treinador quer dois volantes para dar mais volume de jogo. Para marcar a equipe, vai ter de trabalhar muito, é um time que marca e estava precisando jogar um pouquinho mais, ter posse de bola. Aos poucos, vamos melhorando e pegando a ideia do treinador.
O Inter recomeça a sua temporada nos últimos dias de outubro. Um 2019 que foi da surpresa à decepção, passando pela esperança e pela queda de um treinador. Um clube que, a 11 jogos do fim do ano, mira a vaga à Libertadores (ou à pré) como se fosse uma taça.
A carreira de Zé Ricardo
- 2012 a 2016 - Flamengo (categorias de base)
- 2016 - Flamengo
- 2017 - Vasco
- 2018 - Botafogo
- 2019 - Fortaleza
Títulos do treinador
- 2016 - Copa São Paulo de Futebol Júnior, com o Flamengo
- 2017 - Campeonato Carioca, com o Flamengo