Se o Beira-Rio ruge, se ele decide jogos, se a simbiose torcida-time faz a diferença, esta é a hora de provar que estádio também ganha títulos. No jogo de tudo ou nada desta quarta-feira, a final da Copa do Brasil entre Inter e Athletico-PR, a necessidade de vitória (e até de diferença de dois gols para ser campeão sem a incerteza dos pênaltis) com 50 mil torcedores apoiando deverá colocar o time de Odair Hellmann no ataque desde o primeiro minuto.
Dos quatro grandes mata-matas que o Colorado enfrentou na temporada, contra Palmeiras e Cruzeiro, pela Copa do Brasil, mais Nacional-URU e Flamengo, pela Libertadores, os piores números da equipe em casa foram no jogo da eliminação no torneio continental, no 1 a 1 com o Flamengo, depois que os colorados haviam perdido por 2 a 0 o jogo de ida, no Maracanã.
Um desempenho abaixo dos 79,4% que o Colorado tem de aproveitamento do Beira-Rio no ano. Um exemplo foram as finalizações. Se diante do Cruzeiro e do Nacional o Inter concluiu 22 vezes, diante do Flamengo, a estatística minguou para menos da metade: 10.
Para Gustavo Fogaça, analista de desempenho e comentarista no DAZN, Odair Hellmann começou a construir no Inter, no ano passado, um time poderoso em casa. O salto no Beira-Rio foi dado na atual temporada, com a melhora do desempenho em diversos quesitos.
— Como mandante, o desempenho do Inter melhorou de forma significativa em quase todos os fundamentos em 2019. No ano passado, foram 21 jogos no Beira-Rio (sem os do Gauchão), com média de 826 ações e 75% de acerto por partida. Nesse ano, já foram 18 jogos (exceto o Estadual), com 864 ações e 80% de acerto. Mais ações com maior taxa de acerto — observa Fogaça.
— Se em 2018 o Inter, na média, criava seis chances por partida, e convertia 27% delas em gols, agora, produz as mesmas seis, mas coloca 41% delas nas redes. Se antes a média era de 13 finalizações com 38% de acerto, agora essas mesmas 13 finalizações têm 45% de êxito. Segue o mesmo volume de jogo, mas com maior precisão — explica. — No ano passado, o time encaixava cinco finalizações em ataques posicionais, e dois em contra-ataques. Nesse ano, pulou para sete em ataques posicionais e três em contra-ataques — completa.
— A média de posse de bola segue a mesma: 53%. Mas a de acerto de passes, saltou de 79% para 84%. O time segue dominante, mas mais perigoso. Defensivamente, tudo evoluiu (menos as faltas cometidas, que caiu de 14 para 12): mais acerto nos desarmes (56% a 62%), melhor nas disputas aéreas (49% a 52%) e a eficiência na pressão (47% a 62%). Fortíssimo na defesa. Ou seja: todas as estatísticas comprovam evolução notória do time de Odair Hellmann em seus domínios, o que transformou o Beira-Rio em um lugar muito complicado para os adversários colorados — conclui.
Com um estilo de jogo bem estabelecido, o Inter do Beira-Rio dependerá da energia de Edenilson e da de Patrick para ser campeão, bem como o toque e a experiência de D'Alessandro (que se tornou o grande drama colorado para a finalíssima, depois de sentir um desconforto na coxa direita, durante o treino do domingo de manhã), segundo compreende o analista de desempenho Mairon Rodrigues.
— O Inter tem um princípio de jogo muito simples: aposta na verticalidade dos dois meias, que são Patrick e Edenilson. Jogadores de pouca circulação de bola, mesmo que Edenilson tenha evoluído nisso. É um time que circula pouco a bola, agride rápido. Lindoso é primordial nisso, ele roda a bola e tira da pressão em um toque. O jogador de mais pausa é D'Alessandro, mas ele lança toda a hora para quem vem de trás ou ataca o espaço. O time melhorou muito com o Guerrero, ele pode não fazer gol, mas sustenta a bola na frente e ajuda muito a reter quando tem o adversário agredindo — entende Rodrigues.
— O ponto baixo são as laterais, o Inter perdeu profundidade sem Iago. O Uendel é de mais construção por dentro, por isso que o Patrick agride aberto. Bruno tem problemas graves pra apoiar, mas se tornou um defensor melhor. O Inter, mesmo sendo mais propositivo em casa, é vertical pra caramba. E acho que vai jogar assim na quarta, até porque não tem outro modo. Intensidade na pressão, recupera e estica o jogo. Esse é o mantra — completa.
Números à parte, final de campeonato é um jogo diferente. O Inter, apesar dos anos de ouro, com conquistas continentais e mundiais, está há mais tempo sem ganhar um título nacional agora (já se vão 27 anos) do que estava em 1992, quando Célio Silva marcou de pênalti o gol da única Copa do Brasil colorada.
Naquela época, nos primeiros dias do verão de 1992, 13 anos separavam o tricampeonato brasileiro de um período sem grandes conquistas. Odair Hellmann, logo após a maiúscula vitória colorada sobre o Atlético-MG, por 3 a 1, resumiu o sentimento sobre o que é importante em uma decisão como será a de quarta-feira contra o Athletico-PR:
— Aquilo que está dentro do coração de cada um, que é o algo mais. Eu querer mais do que o meu adversário em cada lance. Para que, no final, a gente possa coroar todo esse trabalho com chave de ouro, com a taça, e com o nosso torcedor.
Os números do Inter no Beira-Rio são muito bons. Mas talvez ainda careçam de uma taça para confirmá-los. E ela poderá chegar perto da meia-noite do dia 18, com estádio lotado.