Um dos maiores clássicos do futebol brasileiro terá um capítulo especial na noite desta quarta-feira (7). Inter e Cruzeiro jamais se encontraram na Copa do Brasil, e isto acabará a partir das 21h30min, quando o árbitro paulista Luiz Flavio de Oliveira apitar o começo do jogo no Mineirão. Uma primeira vez de luxo e logo na semifinal do milionário torneio.
Seis vezes campeão da Copa do Brasil, um Cruzeiro eliminado na Libertadores, ocupando o Z-4 no Brasileirão, e em crise tentará se reerguer diante de um Inter que busca um grande título após oito anos. É nesse cenário que o treinador colorado Odair Hellmann cumprirá algo impensável quando assumiu a equipe ao final da Série B: disputar o seu centésimo jogo pelo Inter (tabela abaixo). Tem um aproveitamento geral de 62,2% e, somente em partida de copas, longe de casa, soma 66,6% de aproveitamento.
Mas problemas não faltam para Odair montar o time para o "Jogo 100". Além de Rodrigo Dourado, que segue fora de ação devido à cirurgia no joelho esquerdo, D'Alessandro está suspenso, e Rodrigo Lindoso, em recuperação de um entorse no tornozelo esquerdo, ainda depende de um teste para enfrentar a equipe de Mano Menezes.
É bem verdade que as conquistas de Odair pelo Inter ainda não chegaram (e isso pesa a cada revés), mas ele já é o mais longevo treinador do clube nos anos 2000. Odair Hellmann chega aos 620 dias à frente do Inter em seu momento mais importante: disputando as duas principais copas da temporada, e ainda se mantendo no G-6 do Campeonato Brasileiro.
A semifinal da Copa do Brasil, diante do maior vencedor do torneio, pode representar o salto definitivo de um Inter reconstruído rumo à elite novamente. Afinal, a última conquista relevante ocorreu em 2011, quando do bicampeonato da Recopa Sul-Americana. A profunda crise institucional de 2016, que jogou o clube na Segunda Divisão, ainda causa estragos. E, sobretudo, a falta de condições para investimentos em grandes reforços — na janela do Exterior, apenas o lateral-esquerdo Natanael foi contratado.
Odair supera nomes expressivos da história recente colorada, mesmo sem ter conquistas. Entre os 10 técnicos que mais comandaram o vestiário do Inter, além dele, somente Zé Mário (técnico entre as temporadas 2000 e 2001) não levantou taças. Imediatamente abaixo dos relevantes números de Odair Hellmann aparecem Abel (campeão da Libertadores e do Mundial de Clubes de 2006), Tite (campeão da Copa Sul-Americana de 2008 e do Gauchão de 2009) e Muricy Ramalho (campeão gaúcho e vice-campeão brasileiro de 2005). Alguns deles, inclusive, passaram mais de uma vez pelo Beira-Rio, mas nunca obtendo um ciclo superior ao do atual treinador.
— Está chegando o momento de Odair ser campeão com o Inter — disse Muricy Ramalho, treinador responsável por construir, em 2005, a base do time campeão do Mundo no ano seguinte. — Odair tem feito um bom trabalho, é verdade, mas não adianta ter bons trabalhos e não ter taças. Ele precisa disto para a sua carreira. Em todo o lugar é assim. O Inter deve investir tudo nas copas, pois tem grandes chances de título em ambas (Copa do Brasil e Copa Libertadores) — completou Muricy.
Para o ex-treinador do Inter e atual comentarista dos canais SporTV, a partida do Mineirão é de alto risco, apesar da fase colorada ser superior à do Cruzeiro:
— O momento do Inter é superior ao do Cruzeiro. Muito melhor. Mas é jogo de mata-mata, onde nem sempre o melhor vence. O Cruzeiro está sob pressão, o Inter é favorito, pelo momento que vive, mas, do outro lado, há um time e um técnico acostumados a ganhar esse torneio.
Das duas finais coloradas em Copa do Brasil, apenas a de 1992 rendeu a taça solitária do clube. Em 2009, o Inter ficou com o vice-campeonato. Na campanha de 92, dois jogos emblemáticos fora de casa. Ambos no jogo de ida, como será esse contra o Cruzeiro. Nas oitavas de final, um estrondoso 4 a 0 sobre o Corinthians, no Pacaembu. No protocolar jogo da volta, 0 a 0, no Beira-Rio. Já na semifinal, o desafio era o Palmeiras, em seu primeiro ano da milionária parceria com a Parmalat, e com um timaço reforçado por Zinho, Cuca, César Sampaio e Mazinho. No antigo Parque Antárctica, vitória colorada por 2 a 0, com nova vitória, dessa vez por 2 a 1, em Porto Alegre.
— O atual momento do Inter é melhor do que aquele quadro que tínhamos em 92, pois era a nossa única chance no ano de obter um grande título, algo que o clube perseguia desde 1979 — apontou o então meia pela direita do Inter na Copa do Brasil e atual treinador, Silas, que havia sido o grande reforço do time para a temporada, depois de atuar pela Sampdoria (ITA). — Naquela Copa do Brasil, o Inter não era considerado o favorito ao título, mas crescemos muito ao longo da competição. Me parece que, agora, Odair tem uma equipe em um momento muito bom, diante de um Cruzeiro perigoso, mas em baixa. Essa é a grande chance de o Inter dar um salto e voltar às grandes conquistas. Odair tem o time na mão, e é preciso tirar o chapéu para a direção que o manteve, mesmo com a natural impaciência da torcida — analisou Silas.
Pressionado no Cruzeiro, Mano Menezes tenta remobilizar a sua equipe. Logo após a derrota no clássico de domingo contra o Atlético-MG, o treinador projetou o mata-mata com o Inter:
— O torcedor já vai para o jogo do meio de semana (contra o Inter) mais desconfiado. E a gente também. Mas, em cima de dificuldades grandes, tivemos respostas grandes. Vamos nos preparar, não achar que está tudo errado, corrigir onde tem de corrigir e, na quarta-feira, construir uma pequena vantagem — declarou Mano.
Se o centésimo jogo de Odair Hellmann à frente do Inter também significa a sua maturidade como estrategista, então a equipe terá um desempenho superior àqueles que vem tendo fora de casa. Se na Libertadores os resultados como visitante são excelentes, na Copa do Brasil, a derrota para o Palmeiras no Allianz foi de futebol pobre — sem contar os jogos longe do Beira-Rio no Brasileirão, quase todos abaixo da crítica. Mas, de volta às copas, Odair poderá ser o treinador sanguíneo e ousado que se mostrou na virada sobre o time de Felipão, alijando da Copa do Brasil o melhor time do país.
— Sofro a carga do cargo. Sou treinador do Inter e, quem é treinador do Inter, será criticado ou elogiado. Não leio, não escuto, podem falar mal ou bem, eu cumprimento igual no dia seguinte. Não tem problema. Sou eu que estou no dia a dia. Tenho convicção nos departamentos do clube, na direção e, principalmente, nos jogadores. Faço minhas observações, ouço todos e quem toma a decisão sou eu. Não me baseio no que vem de fora, mas no trabalho. Sou um cara intenso, de sangue, você trabalha, tem o gol aos 48 do segundo tempo, vai o VAR, anula, voltamos, ganhamos nos pênaltis. Eu iria comemorar como? Fui lá cantar com o torcedor, todos nós merecíamos isso — comentou Odair, logo depois da grande classificação à semifinal da Copa do Brasil.
– Gostaria que não tivesse mais Copa do Brasil. Que tivesse acabado agora, fosse a final, e nós fôssemos os campeões. Mas, como ainda tem quatro jogos, demos mais um passo. A gente tem muitos desafios. Estamos em três competições. A cada três dias, estamos trabalhando para recuperar os jogadores e colocar sempre a equipe mais forte em todos os sentidos para passar de fase e para nos mantermos na parte de cima da tabela. Não é fácil manter o nível psicológico, tático e técnico em todos os jogos — concluiu Odair Hellmann, que na noite de seu centésimo jogo pelo Inter terá por missão devolver o clube à final da Copa do Brasil, mas tendo na semifinal justamente o maior vencedor do torneio.
Odair Hellmann em números:
- 99 jogos
- 54 vitórias
- 23 empates
- 22 derrotas
- 62.2% de aproveitamento
- Gols pró — 132
- Gols contra — 73