A consultoria Ernst & Young (EY) fez um levantamento da indústria do futebol no Brasil. Foram observados os desempenhos nos últimos 10 anos dos melhores clubes posicionados no ranking da CBF. Obviamente, a dupla Gre-Nal foi objeto deste estudo. Por ocuparem a mesma região e disputarem os mesmos espaços no mercado, com perfis de consumo semelhantes, Grêmio e Inter foram comparados.
No caso colorado, houve até mesmo uma recuperação de receitas de 2017 para 2018. Porém, não serviu para que o clube retomasse a liderança ocupada durante praticamente toda a década passada, mas perdida a partir de 2016.
— Coincidências não existem. Veio tudo de uma vez só. Justamente no ano em que o Grêmio atingiu o ápice, o Inter viveu o período mais difícil em termos desportivos de sua história. Teve, por exemplo, o recuo de faturamento, porque o Inter estava jogando a Série B, sem a dimensão que tem o clube, com uma visibilidade menor. E em paralelo, tinha o Grêmio que ganha a Libertadores, vinha com um time extremamente competitivo, e isso acabou atraindo o que a gente chama de demanda reprimida, por conta dos 15 anos sem títulos. Agora, a gente vê um afastamento entre os dois, exatamente porque um estava em alto nível desportivo e o outro, em seu momento mais delicado — explica Pedro Daniel, gerente sênior de consultoria para o mercado esportivo da EY.
Além da crise técnica, a situação financeira do clube, segundo o consultor, foi agravada com empréstimos bancários ou com terceiros adquiridos nos últimos anos.
— Os empréstimos a longo prazo são normais para o porte do clube. Mas o empréstimos a curto prazo, normalmente, te expõem de uma maneira muito ruim. Quando você faz empréstimo de curto prazo é como entrar no cheque especial no banco ou no limite do cartão do crédito. Você entra em um círculo vicioso e começa a trabalhar para pagar os juros do empréstimo. O de médio a longo prazo, de alguma maneira, esta provisionado no caixa — avalia.
Para o analista, um dos principais problemas vividos pelo Inter foi a dependência criada em torno da venda de um atleta por ano. O modelo, criado ainda por Fernando Carvalho no início dos anos 2000, deixou de funcionar.
— O Inter tem que buscar receita recorrente. Historicamente, ele vende muitos atletas. É o segundo clube do país que mais vende atletas nos últimos 10 anos. Ele tem o certificado no mercado internacional de que é um clube formador. Mas você corre o risco de não estar bem desportivamente, seus jogadores não se destacarem e você não conseguir essa receita. Foi o que aconteceu em 2016 e 2017, que são os anos do rebaixamento e que o Inter teve os piores números. O Inter acaba sendo dependente dessa receita extraordinária. Ele precisa equalizar suas despesas de acordo com sua receita recorrente, que são contratos de televisão, patrocínio, sócio-torcedor. Tudo aquilo que dá fluxo de caixa constante — indica o Pedro Daniel.