Há 612 dias, o contador José Joaquim Jacques passou por um dos piores dias de sua vida. Voltando de trem do Estádio Giulitte Coutinho, em Mesquita, onde horas antes o Inter havia sido rebaixado, ao empatar em 1 a 1 com o Fluminense, ele foi hostilizado por torcedores do clube carioca. O trajeto de pouco mais de 45 minutos até o Rio de Janeiro virou um inferno, com xingamentos e ameaças, gravados e postados em redes sociais.
Fardado com a camisa do Inter — algo que jamais fez ao deixar os estádios de Recife e do Rio, as cidades nas quais morou em 15 anos trabalhando longe do seu Alegrete —, Jacques foi ofendido e ironizado pelo torcedor do Fluminense Bruno Vargas Costa, que comemorava com bastante exagero o descenso colorado.
Na noite desta segunda-feira (13), porém, Jacques assistiu pela TV à goleada colorada sobre o Fluminense por 3 a 0, no primeiro jogo entre os dois clubes no Rio de Janeiro desde aquele 11 de dezembro de 2016.
— Nem lembrei daquele episódio durante o jogo. Os amigos e familiares que começaram a comentar. Quando abri o WhatsApp, havia uma série de mensagens no grupo da família — diz Jacques, agora se divertindo com o episódio, graças ao distanciamento histórico. — Na época foi um pesadelo, algo chato demais. Cheguei a conversar com um advogado para processar o rapaz, mas desisti. A direção do Fluminense me pediu desculpas, fui muito bem recebido por eles, ganhei uma camiseta do clube, e o rapaz mesmo me ligou quinhentas vezes pedindo para perdoá-lo. Disse ao rapaz que ele podia ser meu filho, que não fizesse mais aquilo porque um dia se daria mal. E achei melhor esquecer aquilo, não havia motivo para ficar remoendo ou guardar rancor — conta o sócio colorado, agora com 54 anos.
Quando aconteceu o episódio, Jacques já morava em Porto Alegre. Acabou indo a passeio ao Rio, com mais dois amigos colorados, a fim de dar apoio ao Inter para se tentar manter na Série A.
— O grande problema foi não ter feito como sempre: ter levado uma camiseta neutra numa sacolinha para usar na saída do jogo. A única coisa que me incomoda ainda é ter sido apelidado de "Velhinho do Trem" — brinca.
Jacques se orgulha de ter ido a todos os jogos do Inter em casa na campanha da Série B. Ele e a inseparável companheira colorada: a neta Luísa, de 14 anos. Nesse domingo (19), às 11h, a dupla estará no Beira-Rio para assistir ao jogo contra o Paraná.
— A vitória sobre o Fluminense foi muito boa, mas vou começar a sonhar mesmo com o título mais adiante. Só depois que atingirmos os 46 pontos (teoricamente, o mínimo necessário para não cair). Acho que 2017 fez parte de um aprendizado. E acompanhei de perto a campanha. Vou sonhar mais adiante — diz o alegretense.