Pisou no gramado do Camp Nou, na noite da última quarta-feira, aquele que poderia ter sido o melhor goleiro da história do Inter. Enquanto Alisson Ramses Becker retirava das suas redes cada uma das quatro bolas que o venceram na derrota da sua Roma por 4 a 1 diante do Barcelona, ficou claro para mim que agora, dois anos depois de ter saído do Inter, o camisa 1 pode finalmente ser importante para o colorado.
Alisson se transformou em um jogador de futebol através do Sport Club Internacional. O titular da Seleção Brasileira, segundo ele próprio, começou a se interessar pela vida de goleiro ao acompanhar os treinos do seu irmão mais velho - o também arqueiro Muriel - nas categorias de base do colorado. O mais novo dos arqueiros Becker permaneceu no Inter dos nove aos 23 anos de idade. Ninguém haveria de discordar que o Inter foi profundamente importante na vida do jogador. A recíproca é que não era verdadeira - até agora.
Afinal, o mais bonito dos goleiros da história do futebol mundial muito pouco defendeu as cores do nosso clube. Teve apenas um ano e um campeonato gaúcho como titular. Seu ponto máximo na carreira vermelha foi fazer parte da equipe de Diego Aguirre que foi semifinalista da Libertadores da América de 2015. Eliminado na competição continental, Alisson ainda teve como partida mais marcante no Internacional não uma grande atuação ou conquista, mas sim o fatonovístico Gre-Nal dos 5 a 0. Tanto potencial, tão pouco alcançado por aqui.
Depois de assumir o gol do Inter em 2015, já ao final do estadual de 2016 aparecia chorando sentado na goleira do estádio que frequentou desde piá. Foi tudo muito rápido, muito estranho. Do completo nada aparecia O Goleiro para o Inter. Era incrível tecnicamente, arrojado nas saídas, preciso nos reflexos e na leitura das jogadas, apresentava qualidade até na reposição (coisa que não tínhamos desde a aposentadoria de Pato Abbondanzieri, o melhor goleiro da história da via-láctea, em 2010).
Foram alguns meses de uma negociação estranha, onde por ora parecia que Alisson estaria forçando uma saída do clube, ora Vitório Piffero aparecia como vilão da história. As coisas acabaram piores para o Inter que, menos de uma temporada e meia depois de ter achado um goleiro confiável, o vendia para o futebol italiano.
Mas agora, dois anos depois, o jogo virou.
Alisson, brilhante na Roma e na Seleção Brasileira, está sendo cotado por gigantescas equipes como o Liverpool e o Real Madrid. Se fala que ele pode ser o goleiro mais caro da história do futebol. Uma coisa de louco. Uma transferência que parece tão cara quanto o jogador é bonito (é, portanto, um troço caríssimo). Independente do destino de A. Becker (nome que leva na sua camisa romana), seja Inglaterra ou Espanha, quem vai ficar feliz é o Internacional de Porto Alegre.
Tudo por conta do mecanismo de solidariedade da Fifa. Essa coisinha maravilhosa faz com que uma porcentagem de qualquer transferência de jogador seja revertida ao clube que o formou. Melhor ainda: a quantidade de dinheiro a ser recebida pelo "clube formador" aumenta conforme o tempo que o atleta por ali passou entre os 12 e os 23 anos. Alisson viveu todo esse período dentro do Inter.
Assim, mesmo que não tenhamos podido aproveitar muito do talento deste goleiro absurdo dentro do nosso time, finalmente ele poderá nos ajudar - mesmo que à distância. A transferência do goleiro da Roma representará uma boa quantia de dinheiro para o Inter, justamente nesse período de reconstrução, dívidas e falta de verba. É a perfeição em forma de negócio. É tudo o que precisamos.
Já que eu não tive a chance de te dizer isso depois de alguma grande conquista no Gigante, te digo agora, Alisson: que baita bola, meu goleiro!