Torcer para o Inter sempre me pareceu a escolha certa a se fazer. Não que essa seja uma questão de simples escolha, é claro. Torcer para um time de futebol é um negócio tremendamente subjetivo, onde centenas de variáveis emocionais e concretas podem levar a criança nascida em Porto Alegre para o lado vermelho ou para o lado azul independentemente do brasão que o pai mandou colocar na porta do quarto na maternidade. Mas, mesmo quando tentava fazer o exercício honesto e sincero de questionar as minhas crenças, o Sport Club Internacional sempre apareceu como único clube possível nessa cidade.
Em uma simples comparação com aquele que conosco duela, parece-me óbvio que não há comparações. Um carrega como bandeira a sua relação com o povo, orgulha-se de seu histórico humilde, negro e popular. Mesmo em um esporte de origem branca e elitista, o colorado desde muito cedo passou a se identificar como "povo" de fato. A imagem do Inter sempre esteve associada às camadas mais simples e o clube, enquanto instituição, sempre soube abraçar e valorizar esse fato.
Lá na década de 1940, com Vicente Rao no comando das arquibancadas dos Eucaliptos, o Inter tinha charanga, batucada e festa. Os de azul, já naquela época, nos criticavam por aquele tipo de manifestação ser "coisa de crioulo" (somente para, anos mais tarde, replicar o que a nossa torcida fazia, o que rendeu a tatuável faixa "imitando crioulo, hein?"). Ainda na arquibancada, sempre me pareceu mais correto estar do lado de quem canta "Inter, estaremos contigo! Tu és minha paixão!" do que daqueles que berram, até hoje, inacreditavelmente, coisas como "chora, macaco imundo". Essa rivalidade é um eterno embate do Saci com o mosqueteiro.
Mas, ainda bem, o Inter nunca precisou ser comparado a nada para que a sua grandeza me fosse irresistível. É o clube que, com a força da sua torcida, ergueu um Gigante (assim, sempre com letra maiúscula) nas águas do Guaíba. É o clube do Figueroa, do Falcão, do inigualável título invicto do campeonato Brasileiro. Era o clube da coréia, mais democrático e acessível espaço na história das arquibancadas do Rio Grande do Sul e, hoje, é aquele que disponibiliza uma modalidade de associação popular. É o time que "pisou e rasgou" a camisa do campeão do mundo. É o time que bateu o "melhor clube do mundo" e o "melhor jogador do mundo" em uma cajadada gabiruzística só.
É impossível não morrer de amores por ti, Inter.
Mesmo que eu tivesse escolha. Mesmo que essa pudesse ser uma decisão fria, pensada, estudada. És incomparável, indescritível, gigantesco. "Hoje a fase é ruim", dizem. Não sei para quem. Enquanto eu puder vestir uma camisa vermelha e pedalar até o Beira-Rio, a fase vai ser sempre boa, mesmo que não seja fácil. Torcer para o colorado é mesmo essa insanidade de viver em meio a um caos tamanho que jogar contra o Barcelona e a enfrentar Luverdense provoca em nós as mesmíssimas e desesperadas sensações. E isso é lindo demais.
Não importa o que digam, sempre levarei comigo a minha camisa vermelha.
Parabéns, meu colorado, por esses 109 anos de existência.
Obrigado, meu Inter, por me fazer ter todos os dias a certeza de que eu estou do lado certo.