O Inter vem protagonizando feitos impressionantes nos últimos anos. Infelizmente, contra seus próprios interesses: perder uma semifinal de Mundial para o Mazembe, ser goleado pelo rival, contratar ex-atleta a peso de ouro, resvalar para a Segundona e sair de lá sem brilho. Tão difícil quanto ser rebaixado no futebol brasileiro é disputar uma Série B sem brilho. Mas o Inter foi lá e conseguiu. Enquanto isso, Jael dá passe de ombro e faz golaço de falta. Não é a primeira vez em que a gangorra regional nos deixa de bunda no chão. Mas, mesmo nos momentos mais terríveis da nossa história, o Gre-Nal se manteve imune às desgraças vermelhas.
Ainda que estivéssemos atravessando uma fase horrível, triste, deprimente, o clássico sempre se mostrava como uma possibilidade de redenção – uma brecha de 90 minutos no espaço-tempo, como diria Stephen Hawking, em que qualquer coisa poderia acontecer. Embora o Grêmio tivesse mais time, e muitas vezes se esperasse um massacre, o Colorado dos anos 1980 ou 1990 conseguia fazer um jogo mais ou menos equilibrado ou até vencer (Uh, Fabiano!). Por isso, se dizia que clássico não tem favorito. Não tinha.
O último feito deste Inter em eterna reestruturação, eterno recomeço, foi tirar a graça do Gre-Nal. Os azuis atualmente vencem como querem, quando querem. Com passe de ombro e golaço de falta. Não sobrou nem mesmo a costumeira indignação no Beira-Rio. Jogadores, técnico e dirigentes rubros parecem conformados em tomar tundas de cinta do rival. Algo inédito.
O cenário é tão triste que Renato Portaluppi, o provocador, o bravateiro, o folclórico, até poupou os colorados em sua entrevista após o 3 a 0 de domingo. Soou piedoso, e a piedade de Renato é um tapa na cara do torcedor do Inter.
Dói mais que um gol de Jael. No duelo decisivo desta quarta-feira, que D'Ale e seus companheiros se inspirem nos maus momentos do passado e entrem em campo indignados, inconformados, crentes na vitória mesmo sob inferioridade técnica.
Que Renato Portaluppi, com o ego ferido, possa voltar a nos provocar. Em um Gre-Nal, a piedade – e não Jael – é cruel.