Há um ano, o Inter caiu. Se a queda oficial para a Série B foi ratificada no jogo contra o Fluminense, em Mesquita, o caminho para a Segunda Divisão foi pavimentado quando, no Beira-Rio, o então time de Celso Roth não venceu o Santa Cruz. Foi-se, naquele sábado, a chance de abrir vantagem para a zona de rebaixamento e, enfim, respirar nas últimas rodadas.
Pois é justamente em um sábado, 364 dias depois daquele 1 a 1, que o Inter pode voltar à Série A. Uma vitória sobre o Ceará, no mesmo Beira-Rio, devolve a equipe, agora de Guto Ferreira, para a Primeira Divisão, segundo as projeções atuais de pontuação.
Por isso, Zero Hora procurou os torcedores que fizeram promessas para o Inter não deixar a Série A há exatamente um ano para saber como transcorreu o período longe da Primeira Divisão.
Eles não caminharam até Pelotas
Eles haviam prometido caminhar de Rio Grande a Pelotas se o Inter tivesse evitado o rebaixamento. O despachante aduaneiro Alan Ribeiro, o funcionário público Fabrício Marques e o analista fiscal Diego Hebling, junto ao professor Enílson Silva e ao pesquisador Cláudio Gabiatti, ficaram tristes por não fazer a peregrinação. Mas, mesmo com a dor, a revolta e a vergonha do resultado, não perderam a esperança no time.
— A torcida nunca abandonou, pelo contrário, abraçou o time. O amor continuou o mesmo. Mas espero que acabe logo esse ano. Foi o pior ano da minha vida de torcedor, um verdadeiro inferno. Foram jogos que não dão frio na barriga, contra adversários tecnicamente sofríveis, uma realidade diferente da normal. Nunca mais quero passar por uma Segundona — resume Fabrício Marques, que acabou lucrando na Série B: — Ganhei uma caixa de cerveja de uns gremistas que, naquele início turbulento, apostaram que o Inter não ia subir.
Alan Ribeiro viveu um ano de sustos e felicidade. Sofreu um acidente de trânsito, teve duas vértebras quebradas, tomou 29 pontos no rosto — e, obviamente, não pôde ir a todos os jogos que gostaria. Por outro lado, conta os dias para a chegada de Martina, sua primeira filha. A previsão é de que chegue em 29 de novembro.
— Ao menos vai ser já na Primeira Divisão — contenta-se
Mesmo morando em Porto Alegre, o professor Enilson não conseguiu ir ao Beira-Rio:
_ Não fui nem a jogo nem a restaurante. O (governador) Sartori parcelou nossos salários. Mas vamos para o sacrifício e torcer nesse sábado.
Ele não fez o visual Danilo
O bacharel em relações internacionais Fernando Carvalho (repetindo, é um homônimo do ex-presidente) contou no ano passado que havia "conversado" com a estátua de Fernandão antes da partida contra o Coritiba. Naquela noite, Danilo Fernandes fez uma partida memorável, defendendo até pênalti. Então veio a epifania: se o Inter não caísse, ele cortaria o cabelo e deixaria a barba crescer, igual à do goleiro. Não fez. Até raspou a cabeça e não aparou a barba, mas não imitou o ídolo.
Na Série B, chegou a temer nos primeiros jogos. Com as más atuações e a falta de vitórias nas rodadas iniciais, começou a marcar peladas e outros compromissos menos importantes para quando o Inter estivesse campo. Não adiantou,
— Eu sofria duplamente. Ficava pensando no Inter e não me concentrava no que realmente precisava. Então voltei ao estádio. Mas a Série B se mostrou um campeonato muito fraco. Me lembro que naquele 4 a 2 contra o Náutico, perguntei para um amigo em que posição estávamos. Ele me respondeu que voltávamos ao G-4. Falei: "Sério, com essa bolinha?". Pelo menos esse campeonato nos devolveu o gostinho de vencer, que tínhamos perdido no ano passado.
Além da volta das vitórias, a Segunda Divisão deixou lições:
— Cair era a pior coisa que poderia acontecer, então, com o tombo, aprendi que não dá para levar tão a sério e sofrer tanto assim. O futebol tem que ser uma desculpa para encontrar os amigos e confraternizar. Agora, temos de montar um time forte e continuar a reconstrução com humildade.
Ele não correu a meia-maratona
Giancarlo Agnoletto deveria (e gostaria de) ter feito uma meia-maratona. Corredor amador, havia prometido percorrer os 21 quilômetros de uma prova se o Inter escapasse da Série B. Deu tudo errado, como todos sabemos. Mas engana-se quem acha que ele esmoreceu. Pelo contrário: na Segunda Divisão, fez questão de ir a todos os jogos. Há uma razão especial:
— Vou me mudar no final do ano, fazer uma pós-graduação no Canadá. Então cada vez que entrei no Beira-Rio, pensei que poderia ser a última. Tentei aproveitar o máximo que pude. Acho que este jogo, contra o Ceará, vai ser minha despedida. Só espero estar aqui ainda quando o Inter for o campeão.
O torcedor não deixou de acreditar jamais no acesso, mas pensou em renovar a promessa nos momentos de dificuldade.
— Minha estreia no estádio foi logo em seguida daquele jogo que o Mahicon Librelato nos salvou (Inter x Paysandu, 2002). Então já sabia o que era sofrer, estou acostumado. Também nos acostumamos a ganhar bastante. Felizmente, voltamos a vencer e não precisei fazer promessas.
Qual foi a lição que a Série B deixou?
— Que precisamos saber em quem votar. Isso vale para tudo. Escolhemos dirigentes errados que nos levaram para o lugar que estamos. É hora de aprender com os erros para nunca mais repeti-los.