O Inter faz sua Copa neste sábado, a partir das 18h30min. Será contra o Santa Cruz, o lanterna, mas neste caminho de pedras que o clube tomou neste Brasileirão qualquer adversário mete medo. Por isso, a torcida abraçou o time e aderiu à missão de evitar o rebaixamento. Manteve média superior a 32 mil pessoas nas últimas três partidas em casa, joga com o time, empurra o tempo inteiro e faz prevalecer a força do Beira-Rio.
Só que as ações terrenas ainda são insuficientes na visão de muitos colorados. Por isso, eles apelam à ajuda divina. Mesmo que para obter, seja preciso fazer sacrifícios, como o de Giancarlo Agnoletto, que promete correr uma meia maratona. Ou o de Fernando Carvalho (não o dirigente, mas um outro colorado), que consente em atender aos apelos do pai e cortar o cabelo a zero. Tudo para que o clube do coração mantenha o patrimônio de nunca ter sido rebaixado. Para que os pedidos de Giancarlo e Fernando sejam atendidos, porém, é fundamental que o Inter vença o Santa Cruz.
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O corredor
Giancarlo Agnoletto, 24 anos, se desesperou quando viu de sua cadeira na superior do Beira-Rio o zagueiro Kanu fazer 1 a 0 para o Vitória. Ali, Inter afundava o pé no Z-4, e Giancarlo decretou que era preciso recorrer às forças divinas para salvar o time do coração. Havia alguns dias ele via adotar o mesmo caminho membros da comunidade do Inter no Facebook do qual é administrador, a @ComuDoInter. Depois de deixar o estádio e pensar em um sacrifício pela permanência na primeira divisão, ele decretou: se o Inter escapar do rebaixamento, correrá 21 quilômetros, uma meia-maratona, na primeira prova de rua que ocorrer em Porto Alegre.
Na verdade, Giancarlo estava unindo o útil ao agradável. É apaixonado por corrida de rua, mas a rotina no dia a dia na empresa de importação da qual é sócio do pai rouba-lhe a energia. Precisava de um estímulo para voltar a gastar a sola do tênis. No caso dele, colorado de quatro costados, nenhum seria maior do que pagar para ver o Inter manter seu troféu de ser um dos cinco grandes que ainda não jogaram a Série B (ao lado de Santos, Cruzeiro, Flamengo e São Paulo).
Giancarlo foi além. Tomou para si, como administrador do grupo no Facebook, a tarefa de fiscalizar que as outas 89 promessas feitas na @ComuDoInter sejam cumpridas. Em uma planilha, anotou o nome do integrante e a respectiva promessa feita. Vai cobrar que todas sejam cumpridas, com comprovação através de publicação de foto na timeline.
– O post com as promessas está arquivado em meu computador. Se o Inter escapar, e vai escapar, vou cobrar de cada um – conta Giancarlo.
O solitário
Pode-se dizer que Roberto Peçanha se criou no Beira-Rio. Passou 22 dos 24 anos de vida morando nas cercanias do estádio. Vai aos jogos do Inter com o pai desde 1996. Pegou os últimos anos de chumbo do clube e curtiu os de ouro. Depois da derrota para o Vitória, como ele mesmo diz, "bateu o desespero". Justo no semestre em que finaliza o curso de Direito, Roberto teve a atenção roubada pelo ameaça do rebaixamento. Por isso, não titubeou em apelar para as forças divinas. Em casa, prometeu que se o clube escapar do rebaixamento, se dedicará ao trabalho voluntário no Asilo Padre Cacique, em frente ao Beira-Rio. Cumprirá assim que a matemática garantir a permanência na elite.
– Pensei na hora: "Não quero fazer promessa por algo pessoal". Decidi que iria lá ajudar os idosos. Começarei com um fim de semana – conta por telefone o colorado Roberto.
Os peregrinos
Quando Michael fez aquele fatídico gol do América-MG aos 46 do segundo tempo, que derrubou o Inter para a 18ª posição, o despachante aduaneiro Alan Ribeiro entrou em desespero. No Facebook, desconsolado, prometeu publicamente: se o clube seguisse Série A, faria a pé os cerca de 60 quilômetros que separam o balneário Cassino, em Rio Grande, até Pelotas, no sul do Estado.
– Em 2010, fiz uma promessa parecida, de ir do centro até a praia (cerca de 25 quilômetros), se o Inter vencesse a Libertadores. Ganhou, mas demorei a cumprir. Só fiz na véspera do Gre-Nal do Brasileirão, entrei numas de que o Inter perderia se não fizesse. Bom, foi 2 a 2, né? – relembra Alan Ribeiro.
A promessa de agora ganhou adesão de outros colorados, principalmente depois do 1 a 0 no Coritiba. O professor Enílson Silva, o engenheiro Cláudio Gabiatti, o funcionário público Fabrício Marques e o analista fiscal Diego Hebling vão acompanhar Michael na caminhada pela BR-392. E aguardam adesões.
Na sexta-feira à tardinha, eles se reuniram para fazer uma das fotos que ilustra esta página. Apesar de ouvir as buzinadas dos motoristas que passavam, renovaram a esperança de ter um feliz reencontro para os 60 quilômetros de sacrifício quando chegar o dia da salvação:
– Mal vejo a hora de a gente se ver de novo, livre disso tudo – resumiu Alan.
O careca barbudo
Foi na derrota para o Vitória de Argel Fucks que o bacharel em relações internacionais Fernando Carvalho (sim!) percebeu que só ir ao Beira-Rio e se esgoelar cantando e apoiando o time seria insuficiente. Seu retorno ao estádio na Capital foi diante do Coritiba. E, em frente à estátua de Fernandão, teve uma epifania.
– Tomava uma cerveja e conversava com ele (Fernandão). Sabe como é, pedia uma ajuda, pontaria ao ataque e proteção à defesa. Ou um milagre. Quando o Danilo defendeu o pênalti, não tive dúvida: precisava raspar o cabelo e deixar a barba. Tinha de homenagear o goleiro – conta.
A caminho de casa, avisou o pai Luís Felipe, também colorado, e antigo defensor dos cabelos curtos para o filho, de que aceitaria a proposta de passar a máquina na cabeça e seria ele (o pai) o eleito para escolher o número da lâmina.
– Meu pai, sacana, transferiu para meus amigos a responsabilidade. Dia desses, avisaram que será a zero.
Neste sábado, contra o Santa Cruz, Fernando Carvalho estará no Beira-Rio, com sua camisa de 2002, lembrança da última cruzada colorada contra o rebaixamento. Antes da partida, "tomará uma cerveja e conversará com Fernandão, para pedir pontaria no ataque e proteção na defesa".
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