Parte dos torcedores do Inter vai espinafrar esse texto nas redes sociais, acusar seu autor — sócio do Inter — de falso coloradismo, apontar um estratagema da mídia contra o Clube do Povo. Tudo porque, de vez em quando, é preciso criticar D’Alessandro, como ao tentar calar torcida e companheiros após as vaias pela derrota diante do Ceará, mas muitos colorados acreditam que o camisa 10 está acima do bem e do mal. D’Ale conquistou esse status com garra e futebol, é verdade, mas também porque o Inter está dependente de um único jogador ano após ano. Isso é ruim para a instituição e para o atleta.
Faz mal para o time porque, para ganhar títulos importantes, é preciso mais do que apenas uma referência técnica em campo. E faz mal para o jogador porque falta alguém com quem trocar passes e dividir responsabilidades. Fernandão tinha Alex, Clemer, Iarley. D’Alessandro paira sozinho sobre o Beira-Rio, tão soberano, tão acima de tudo e todos que deixou de ser apenas um jogador. É uma entidade com natureza jurídica própria dentro do clube.
Combinado a seu temperamento sanguíneo, esse status tem levado o atleta a cometer exageros a ponto de, no sábado, ter tentado silenciar a torcida e impedir os demais jogadores de dar explicações por meio da imprensa. O argentino, ídolo indiscutível, não pode jogar sobre o colo dos jornalistas, a cada tropeço, as falhas de atletas, técnico e dirigentes. Não pode esperar que a torcida grite ou se cale a seu comando, conforme seu estado de espírito.
É preciso humildade para reconhecer erros e pedir desculpas. Nenhum jogador é maior do que o clube. E o clube jamais será maior do que o seu torcedor. Milhares de colorados pagam preciosos reais para ver o time atravessar o lamaçal da Série B. No sábado, enfrentaram a chuva com expectativa de comemorar o iminente regresso à Série A, mas assistiram a (mais um) péssimo jogo.
Os jogadores tinham de receber a vaia com toda a compreensão, afinal, perderam um confronto de Série B dentro do Beira-Rio. Deveriam baixar a cabeça e pedir perdão. Ao argentino, como líder, caberia dar o exemplo em vez de tanger os companheiros para fora do campo como quem toca uma boiada. Isso quer dizer que D’Alessandro é um problema? Não. O problema é o Inter estar dependente de um único atleta ano após ano. A “D'Aledependência”, para o bem de todos, precisa acabar.