Camilo é um recuperador de times. Do começo da carreira, no Marília em 2006, até o Inter, hoje, o meia rodou: Cruzeiro, Santo André, Ceará, América-MG, Botafogo-SP, Avaí, Mirassol, Sport, Chapecoense, Botafogo. Em nenhuma dessas passagens, encontrou uma equipe pronta, segura, firme, consolidada. Pelo contrário: quando tudo se ajeitava, era hora de ir embora.
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O Cruzeiro que jogou recém estava sendo montado por Adilson Batista. Quando achou a escalação ideal – que inclusive levaria a equipe para a decisão da Libertadores –, Camilo saiu para o primeiro empréstimo, ao Santo André. Com a estrela Marcelinho Carioca, que mantinha seu pé de anjo já nos últimos dias da carreira, e o jovem em ascensão Romulo, gaúcho que viraria italiano e de seleção azzurra, tentaram, até o fim, manter o time da região metropolitana de São Paulo na primeira divisão. Não deu. Mas mesmo naquela barca naufragada, conseguiu se destacar.
– Éramos muito amigos naquele tempo. Agora sigo acompanhando no Instagram. O Camilo é cara muito legal, ama muito a família, um cara exemplar, sério mesmo, admiro bastante ele fora de campo pelo comportamento, otimismo e perseverança – comenta Rômulo.
E é no Instagram que Camilo reforça a imagem de pai devotado e marido apaixonado. Ele e Paloma tiveram recentemente Matheus, segundo fruto da união que já tinha dado ao mundo a pequena Fernanda. Aliás, a história da primogênita foi contada pelo meia em um programa que mostra bem quem ele é.
Por isso, para quem quiser conhecer um pouco do novo reforço colorado, a sugestão é escrever no YouTube: "De papo com o Galinho – Camilo". Um vídeo de sete minutos de um bate-papo entre o então camisa 10 com o Botafogo com o eterno camisa 10 do Flamengo revela um jogador descontraído, divertido e consciente. Zico foi um dos ídolos de Camilo. Quando fez categoria de base no América-RJ, chegou a tirar uma foto com o craque. Por isso estava tão à vontade, como mostra um dos trechos:
– Você esteve na China, mas antes dos milhões, né? Roeu o osso. Aliás, comeu carne de cachorro lá? – brinca Zico.
– Comi carne de tudo, coisas que nem me lembro. Mas foi lá que fiz minha filha – responde Camilo.
– Como assim? – indaga o Galinho.
– A gente tinha uma TV e só passava programa chinês. Não entendia nada. Então falei para a minha esposa: não temos nada para fazer, vamos fazer um filho.
E os dois caem na gargalhada.
A volta da China teve uma passagem pelo Botafogo-SP e a ida para o Avaí de Argel Fucks, seu primeiro adversário em vermelho, na terça-feira à noite, no Beira-Rio. E com o agora técnico do Goiás, o meia teve uma relação de amizade que passou do campo de futebol. Nas folgas, os dois viraram parceiros de futevôlei nas areias de Jurerê.
– Admito, ele me carregava nas costas – confessou Argel.
Aquela campanha não garantiu acesso ao Avaí, mas passou longe de qualquer risco de queda.
No ano seguinte, Camilo participou de um dia histórico no Paulistão. Em meio tempo, seu Mirassol aplicou 6 a 2 no Palmeiras. Fez o sexto gol daquele dia, nos acréscimos do primeiro tempo.
Era um prenúncio de outra goleada. Camilo também fez o último gol de um inacreditável 5 a 0 da Chapecoense sobre o Inter de Abel Braga em 2014. E para quem não lembra, o "goleiro" que buscou a bola na rede foi Rafael Moura – Dida havia sido expulso.
A ligação do meia com Chapecó transcendeu o futebol. Apaixonado pela cidade, tomou uma decisão corajosa. Levou seu pai, Geraldo, alcoolista em tratamento, para buscar ajuda em uma clínica de reabilitação.
Botafoguense fanático, Geraldo se emocionou quando ficou sabendo que o filho sairia da Arábia, para onde havia sido transferido em busca dos famosos petrodólares, para o glorioso alvinegro carioca. Era a chance de finalmente ver o filho com aquela camisa que tanto tentou empurrar-lhe na infância, nas apertadas vielas da Cidade de Deus. Não foram poucas as tentativas de convencê-lo a torcer pelo Fogão. E olha que era o time campeão de 1995, com Túlio e Donizete Pantera. Mas Camilo gostava mesmo era do Palmeiras e a parceria com a Parmalat, uma máquina de fazer gols.
Gostava, no caso, refere-se à infância. Porque ele não teve piedade no 6 a 2, como já mencionado. É que, no profissional, o time de Camilo acabou sendo, mesmo, Geraldo. Foi uma vitória livrar o pai da bebida. Para isso, converteu-o à religião evangélica.
No Botafogo, Camilo foi o avalista da campanha de recuperação da equipe, recém-promovida da Série B. Com a camisa 10, foi o maestro do time de Ricardo Gomes e Jair Ventura. Contra o Inter, fez gol. Contra o Grêmio, golaço. Na última rodada do primeiro turno do Brasileirão, recebeu um cruzamento da direita e pedalou uma bicicleta que deixou Bruno Grassi estático. Foi o gol mais bonito da edição de 2016 do campeonato, segundo eleição da CBF.
Suas atuações destacadas chamaram atenção de Tite. Então, foi a vez de Camilo viver sua grande emoção. Comovido pela morte dos amigos da Chapecoense, naquele trágico acidente, o meia foi convocado para o jogo festivo contra a Colômbia, em agradecimento à solidariedade do povo.
No Engenhão, entrou nos minutos finais.
– Esse o momento só de agradecer. É um dia que vai ficar marcado na minha vida. Sou muito grato a Deus por isso – declarou.
Deveria deslanchar em 2017. Com o investimento em Walter Montillo e as boas atuações nas fases preliminares da Libertadores, o Botafogo começou a sonhar em uma boa campanha na Libertadores. Pois, como sempre aconteceu com Camilo, quando o time se ajeitou, ele saiu.
Um desentendimento com o grupo, um pedido de desculpas, uma queda no rendimento, a reserva, o interesse do Botafogo em Brenner. Tudo se somou à vontade do Inter em trazer um substituto/parceiro para D'Alessandro.
Era hora de reerguer outro clube. No pior momento da história colorada, Camilo surge como uma força extra de criatividade em uma Série B que se apresenta mais dura do que se pensava.
– Estou extremamente feliz de vestir essa camisa. Vou dar meu melhor, reforçar o time e qualificar o grupo. É uma grande oportunidade, novos ares, quero buscar meu espaço e ser feliz. Quando me convidaram, não pensei duas vezes.
Resta, ao Inter, esperar que Camilo continue sua sina. É um recuperador de times.
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