O iminente rebaixamento à segunda divisão encerrará ciclos no Inter. Acabará com qualquer plano futuro do presidente Vitorio Piffero e de seu ex-vice de futebol Carlos Pellegrini, que ficarão marcados para sempre, mas também fará com que Fernando Carvalho perca a sua aura de incriticável. Tudo indica que não sairá tão chamuscado como Piffero, mas, a pessoas próximas, o dirigente já teria comentado: nunca mais assumirá um cargo no clube.
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Com Fernando Carvalho à frente do futebol do Inter nas duas conquistas da Libertadores e no Mundial, o ex-presidente parecia transformar em ouro tudo aquilo que tocava. E Piffero sempre foi dependente de Carvalho. Em 2016, não foi diferente. Ainda que o atual presidente repetisse o bordão de que "clube grande não cai", sabia que os resultados medíocres levariam o grupo que ele montou ao abismo do Z-4.
Por isso, ainda no primeiro turno do Brasileirão, quando o encanto de Argel Fucks já havia chegado ao fim, passou a insistir com Carvalho para que assumisse o futebol. Na eleição que conduziu Piffero a sua terceira gestão, Carvalho não fez campanha, mas abriu o voto ao amigo no pleito contra Marcelo Medeiros.
– Fernando foi trocando ideias com Vitorio, relutava, para não ser obrigado a voltar. Até que, após a goleada para o Cruzeiro, seguido do empate em casa com o Fluminense, já naquele time do Falcão, entendeu que precisava ajudar, que não tinha mais jeito – comenta um amigo comum de Carvalho e Piffero.
Ungido a vice de futebol, Fernando Carvalho convidou Ibsen Pinheiro para compor o departamento. Ibsen é seu conselheiro desde as agruras de 2002. Com Falcão fora dos planos, o dirigente foi atrás de um novo treinador. Abel Braga não aceitaria voltar, o nome de Lisca foi voto vencido – ainda que Carvalho já aventasse a sua contratação – e Celso Roth acabou sendo a solução encontrada. Apesar de o clube estar na 13ª colocação, o desempenho em campo já apontava para uma queda vertiginosa. Mas Carvalho acreditava em Roth. Talvez essa seja a sua grande dor: apostou e perdeu.
– Não demorou para que Fernando Carvalho se surpreendesse com a fragilidade do elenco e se decepcionasse com algumas pessoas. Mas não podia voltar atrás – diz uma pessoa com acesso ao vice de futebol.
Carvalho vem buscando apoio nos filhos, Samantha e Martin, seus parceiros inseparáveis. O sono abandonou o presidente campeão mundial. Dorme entre três e quatro horas por noite. Vem exibindo olheiras permanentes e um ar pesado. Se o ex-presidente era visto como o Super-Homem colorado, o atual presidente foi a sua kriptonita. Piffero comentou em recente viagem se arrepender de ter puxado o amigo junto para o fundo do poço em que se transformou o Inter de 2016.
Após a derrota para o Corinthians, Carvalho nem sequer teve condições de dar entrevista. Sempre foi o escudo de Piffero – que estava em uma situação cômoda, sem precisar explicar os fracassos, pós-jogos. Mas, no Itaquerão, o vice de futebol desabou. Estava arrasado e parecia sem esperanças, sem forças para reagir. Logo ele que afirmou que jamais atiraria a toalha enquanto o clube ainda tivesse chances matemáticas.
– Quase ninguém acredita na salvação do Inter. Será um duro golpe para o Fernando. Ele não merecia isso. Mas se há algo positivo para o clube nesse rebaixamento é o fim da "Fernandodependência". O Inter será obrigado a cortar o cordão umbilical, seguir a vida, parar de depender sempre do Fernando Carvalho – finaliza outra fonte ligada ao dirigente.
*ZHESPORTES