"Estou te esperando há 28 anos", disse o senhor de sotaque castelhano ao avistar um de seus maiores ídolos, Diego Aguirre, após um treino no CT Parque Gigante. Aos 72 anos, o uruguaio Carlos Lorenzo pouco acreditava que um dia poderia rever o jogador que lhe dera a alegria do gol do título da Libertadores de 1987, pelo Peñarol.
Naquele ano, dias depois de comemorar a conquista de seu time do coração, recebeu a ligação de Ricardo, um amigo que trabalhava em uma cafeteria em Punta Del Este.
- Carlos? O Diego está aqui! - afirmava, eufórica, a voz no outro lado do telefone.
O torcedor sacou a bandeira do Peñarol, tacou no banco de trás do carro e se dirigiu para a cafeteria. Pouco tempo depois, estava munido de uma caneta e com a bandeira estendida diante do artilheiro de seu time.
- O que ficou muito marcado em mim foi a amabilidade com que ele me recebeu. Não teve nenhum tipo de inconveniente, por mais que ele estivesse com outras pessoas - recorda Carlos.
A bandeira é considerada uma relíquia na família. Já esteve sob a posse de filhos e netos, mas agora é Carlos quem a mantém guardada no apartamento onde mora, no bairro Auxiliadora, em Porto Alegre. A peça não é exposta, conta o torcedor, pois se trata de algo muito precioso, íntimo, mas saiu do guarda-roupas na manhã desta terça-feira: o uruguaio reencontraria Aguirre.
Morador de Porto Alegre há 40 anos, o comerciante chegou à Capital numa época em que era impossível, conta, um torcedor do Peñarol simpatizar com o Grêmio: Ancheta, zagueiro gremista, tinha recém saído do Nacional, maior rival do time de seu Carlos. E o Inter tinha Figueroa, campeão uruguaio duas vezes pelo Peñarol.
- E outra: como iria torcer para um tricolor? O Nacional e o Grêmio são tricolores. Então meu time é o Inter!
Foi instantâneo: simpatizou com o Inter e carrega até hoje uma bandeira que estampa apenas uma das quatro estrelas de títulos nacionais colorados.
- É minha bandeira de guerra - fala, apontando para o adereço desbotado que lhe é enlaçado nos ombros em dias de jogo no Beira-Rio.
A bandeira, já surrada pelos 40 anos de uso, sabia ele, seria autografada por aquele que lhe deu tantas alegrias como jogador e agora dirige seu novo time. Na véspera do jogo contra o Atlético-MG, pela Libertadores, seu Carlos acomodou as duas bandeiras em uma pasta de couro e, já na sala de imprensa do CT Parque Gigante, aguardava, ansioso, pelo momento.
Quando Aguirre despontou na porta da sala, seu Carlos saltou da cadeira, cumprimentou o técnico colorado e puxou o pedaço de tecido para exibi-lo ao treinador:
- Vamos ver se você recorda. Sabe onde autografaste isso? No El Greco, em Punta Del Este, depois da final.
Não precisou dizer mais nada: o semblante de Aguirre - que olhava distante como se tentasse puxar alguma memória distante - mudou num estalo.
- Cheguei da final e passei uns dias de folga em Punta Del Este. Foi ali então! - afirmou o técnico.
Quase 30 anos mais tarde, a cena se repetia: seu Carlos pediu que Aguirre autografasse sua bandeira - só que, dessa vez, do Inter. O treinador, porém, pediu a do Peñarol:
"28 anos depois
Para Carlos, com carinho
Respeito e Amizade
Diego Aguirre"
Emocionado, o comerciante alcançou as outras bandeiras ao técnico. Enquanto dobrava as peças, olhou com gratidão ao treinador.
- Veja só. Eu acredito muito em ti - disse seu Carlos antes de abraçar e se despedir do treinador.
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*RÁDIO GAÚCHA