A vaia é o vestibular do mundo adulto. Se você já recebeu e matou no peito é porque deixou a infância onde tudo eram afagos e elogios. A vida adulta é trabalho e critica, e a forma mais dura da cobrança é a vaia. Pessoalmente não acredito na sua eficácia. Ela fala mais da impotência e da falta de educação de quem a produz do que da performance de quem a recebe. Ela, por si mesma, não tem uma força educadora, construtiva, mas ela está aí, cada dia mais.
Fabrício, anteontem, não matou a vaia no peito. Ele tem o preparo para ser jogador, mas não para ator, para encenar uma personagem que o ultrapassa. Não compreendeu que as vaias fazem parte do contrato que assinou e que o futebol é também um espetáculo catártico, um catalisador de emoções, um lugar onde buscamos um sentido épico que a vida nos nega. Temos gladiadores modernos que deixamos que saiam vivos da arena, mas nem por isso cobramos menos sangue. Fabricio escutou isso do modo errado e voluntariamente abriu suas veias para nós. Seu destempero o afundou e gozamos de sua falência moral. A torcida o derrotou.
Fabricio recebia vaias pelo conjunto da obra, deixou o time na mão várias vezes com expulsões desnecessárias, comprava brigas tolas, se excedia de todas as formas. Existem jogadores que derrotam as vaias. Valdomiro usou-as para se aperfeiçoar. Trabalhou mais e mais até ser o melhor cobrador de faltas que já pisou no Beira-rio. Não acreditava na predestinação e no talento, mas sim no trabalho exaustivo que deve ser aliado ao dom natural. Fabrício queria uma admiração sem contrapartida, um incentivo mesmo no erro. Ele não lapidou seu talento, não domou sua fúria, permaneceu como uma criança mimada e birrenta. Não entendeu que existe um outro mais mimado em campo, a torcida.
O Internacional tem uma torcida maravilhosa. Quantas vezes juntou o time do chão e o empurrou para a vitória. Mas nessa quarta-feira, sem querer, deu um tiro no pé. Posou de consumidor exigente e criou mais um problema para um time ainda em montagem. Creio que o momento é de guardar as vaias para desestabilizar os adversários.
Dizem que o treinador Rubens Minelli preparava o time para enfrentar 12 adversários. Os 11 da equipe adversária e o juiz. Insistia: o juiz não é nosso amigo, ele não vai nos compreender nem nos perdoar. Ele é mais um pedra na nossa chuteira. Espero que os treinadores do Internacional não precisem dizer que temos que enfrentar 13 adversários, como o juiz, a torcida também não é nossa amiga, não vai nos compreender nem nos perdoar.