O Inter empatou em 0 a 0 com o Juventude em Caxias, venceu nos pênaltis e conquistou o tricampeonato gaúcho. Um título justo pelo que o Inter fez durante toda a competição; injusto pelo que o Juventude fez durante a partida deste domingo.
Antes do jogo, o técnico Lisca lembrou o confronto do primeiro turno, quando o Inter goleou por 4 a 1, e revelou como enfrentaria esse novo duelo:
- Em Porto Alegre nós tentamos atacar o Inter e nos demos mal. Hoje vamos fazer diferente.
Fizeram diferente. O Juventude não se arriscou. Teve paciência. Esperou. Sabia como devia agir. E agiu como devia.
Quando o Inter estava com a bola, todos (mas todos!) os jogadores do Juventude recuavam para o campo de defesa e fechavam os espaços, como peões protegendo o rei num jogo de xadrez. Os dois atacantes, Bergson e Zulu, abriam feito dois laterais e bloqueavam os avanços dos laterais adversários, Gabriel e Fabrício.
No meio, todos (mas todos!) prestavam atenção à marcação, não perdiam divididas, chegavam antes nos rebotes. A saída do Inter era tentar o famigerado "chuveirinho", mas, no centro da área, Rafael Pereira afastava de cabeça qualquer levantamento. Assim, não adiantava o Inter ter a bola, porque não sabia o que fazer com ela.
O Juventude, sim. O Juventude, ao recuperar a bola, acicatava a defesa colorada com contragolpes que começaram acanhados e foram se tornando cada vez mais ousados.
O jogador mais perigoso nessas lancetadas era Bergson, que roubava a bola, partia para o drible e cruzava com grande eficiência, irritando os colorados. O Juventude ficava menos tempo com a bola, mas, quando a tinha, incomodava.
Aos 12 minutos, a estratégia de Lisca deu resultado: numa cobrança de escanteio, Rafael Pereira cabeceou para baixo e fez o gol. Só que o árbitro Márcio Chagas anulou o lance ao ser iludido por Willians, que se jogou ao chão de braços abertos e espinha vergada, simulando ter sido empurrado.
Mesmo assim, o Juventude não se desconcentrou. Sete minutos depois, poderia ter marcado, quando Bergson tirou a bola de Gabriel na ponta esquerda e cruzou para Zulu, que errou a cabeçada na frente do gol. Aos 24, Gabriel, descontrolado, chutou Fabrício. Poderia ter sido expulso, mas o árbitro deu só cartão amarelo.
O Inter jogava mal em todos os setores. Forlán e Damião não ganhavam uma única jogada, Fred era dispersivo, Willians se atirava no chão a cada dividida. Na direita, Moledo e Gabriel não conseguiam conter Bergson e, na esquerda, Fabrício era envolvido pelas tramas de Zulu e Moisés.
O desafogo do Inter aconteceu quando D'Alessandro passou a jogar bem aberto na direita, trocando passes com Gabriel, que tentava a penetração em diagonal, ou com Willians, que se aproximava por trás para dar opção de passe. Desta forma, o Inter conseguia escanteios, 13 ao todo. Agora, situação de gol, nenhuma.
O Juventude, ao contrário, esteve perto de marcar. Aos quatro minutos do segundo tempo, Diogo Oliveira cabeceou para o meio da área e Zulu chutou de voleio, obrigando Muriel a praticar uma defesa dificílima. A partir daí, o Juventude recuou ainda mais, como que desistindo do contra-ataque. O jogo tornou-se pastoso.
Aos 27, Damião sentiu lesão na virilha e foi substituído por Caio - lesão, aparentemente, grave, que pode comprometer sua convocação para a Copa das Confederações.
Aos 32, quem saiu foi Bergson, justamente o jogador que mais afligia a defesa colorada. O jogo continuou como havia começado: com o domínio improdutivo do Inter e a esperança do Juventude em marcar um gol numa jogada fortuita. Que não ocorreu. No final, Lisca reclamou do árbitro:
- Ele já me tirou um campeonato; agora me tirou outro.
Ainda haveria a cobrança de pênaltis, mas Lisca foi profético. D'Alessandro cobrou a primeira e errou: Fernando defendeu. Mas depois Rogerinho acertou no travessão. A primeira rodada acabou em 3 a 3.
Caio chutou e fez o quarto gol e marcou. Finalmente, o bom lateral Moisés chutou à meia-altura e Muriel defendeu. O Inter saiu de campo com a taça. O Juventude de mãos vazias, mas com o peito inflado e a cabeça erguida.
Disputado
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