O Inter e a Simon Engenharia, empresa que faz estudos estruturais no Beira-Rio desde a fase do projeto da reforma, garantiram que a rachadura em uma viga do estádio filmada por um torcedor gremista após o Gre-Nal não causa perigo à construção. O vídeo mostra a fissura movendo-se com a oscilação da estrutura.
Publicada no site YouTube, a filmagem ganhou notoriedade e um número significativo de cliques. Colocada à disposição na terça-feira, tinha mais de 60 mil acessos até às 18h20min da quarta. Para um leigo, as imagens impressionam e assustam. Em meio aos cânticos da torcida tricolor, é possível ver a rachadura na parede e o estádio "balançando".
Por mais que as imagens tenham gerado questionamentos sobre a segurança do Beira-Rio, os especialistas em construção civil que tiveram contato com o estádio garantem que não há com o que se preocupar. A rachadura corre na região em que há uma junção de duas áreas de materiais diferentes. No caso do local filmado, o concreto da viga que sustenta a arquibancada e a alvenaria de uma parede construída para isolar um dos bares do Beira-Rio, no corredor de acesso. A diretora de patrimônio do Inter, Diana Oliveira, lembra que é normal a formação de fissuras nesses locais.
- São dois materiais diferentes. Nesse local, é comum formar-se uma rachadura - afirmou.
Uma das reclamações dos gremistas que estiveram no Beira-Rio foi justamente que o estádio "balançava" com os pulos dos torcedores nas arquibancadas. O Inter explica que o estádio é construído prevendo que exista uma movimentação da estrutura, já que a construção totalmente rígida não é segura. Charles Simon, da Simon Engenharia, explica que a laje oscilou com a movimentação dos gremistas no corredor.
- É uma oscilação normal. Aquela região do estádio tem vigas com um vão maior, já que a distância entre um pilar e outro é de 12 metros, enquanto no restante do Beira-Rio é de 6. Isso aumenta a vibração. Mesmo assim, está dentro do nível seguro - afirma.
Simon lembra que a construtora Andrade Gutierrez contratou uma empresa especializada em medições de oscilações em estruturas para determinar se o Beira-Rio estava seguro para receber torcedores. Os relatórios foram feitos em dois jogos do Campeonato Brasileiro, em meio à briga judicial que chegou a interditar o estádio (veja retrospectiva abaixo). Não foram detectadas anomalias em nenhum setor da construção.
Entenda o caso:
A polêmica que cerca as condições do Estádio Beira-Rio de receber torcedores em meio às obras de reforma para a Copa do Mundo se estende há pouco mais de três meses. No final de maio, o Ministério Público Estadual pediu a interdição do Beira-Rio, o que ocorreu quase um mês depois. No início de julho, uma liminar liberou o local para jogos do Brasileirão e, pouco antes do clássico Gre-Nal, a Câmara Cível do Tribunal de Justiça considerou o Beira-Rio apto a receber partidas. No jogo do último final de semana, um torcedor filmou uma rachadura na junção entre a estrutura da arquibancada e a parede de alvenaria. O local balançava com o movimento dos gremistas nas arquibancadas, gerando dúvidas sobre a segurança do local.
24 de maio
O Ministério Público do Estado ajuíza ação civil pública pedindo a interdição do Beira-Rio. Alega que a obra não possui alvará de Prevenção e Proteção contra Incêndios.
22 de junho
O juiz Ricardo dos Santos Costa, da 16ª Vara Cível, defere o pedido do MP, interdita o Beira-Rio para jogos e shows, além de fixar em R$ 1 milhão a multa por descumprimento.
27 de junho
O presidente Giovanni Luigi reúne-se com o MP e busca um acordo com os promotores, mas não tem sucesso na conciliação.
2 de julho
A desembargadora Mylene Maria Michel, da 19ª Câmara Cível, concede liminar ao Inter e reabre o Beira-Rio. Mas autoriza a utilização apenas do anel superior do estádio. Sob a liminar, o Inter realizou seis jogos no estádio.
14 de agosto
Por três votos a zero, a 19ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça decide manter o Beira-Rio aberto e o considera em condições de receber jogos, mesmo com grande parte do estádio em obras. O MP promete seguir buscando a interdição, possivelmente no Superior Tribunal de Justiça, em Brasília.