Poucas vezes — ou nunca — um jornalista e um clube de futebol foram tão identificados como Paulo Sant'Ana e o Grêmio. À época servidor da Polícia Civil, Sant'Ana foi publicamente torcedor desde o primeiro dia em que usou o microfone do Sala de Redação, na Rádio Gaúcha, no início dos anos 1970, como convidado do apresentador Cândido Norberto. Neste 7 de abril, Dia do Jornalista, a editoria de Esportes de GZH escolheu homenagear um dos pioneiros entre os profissionais que revelaram sua paixão clubística e se notabilizaram por algo que virou uma tendência atualmente.
Não levou muito tempo para que, em 1971, o porto-alegrense do bairro Cidade Baixa passasse a ter uma coluna esportiva em Zero Hora, o que manteve por 19 anos. Depois, Sant'Ana passou a ocupar a penúltima página do jornal, com um espaço para assuntos gerais — entre os quais, volta e meia, estava o Tricolor.
Após a morte de Sant'Ana, em 2017, o companheiro de Sala de Redação Lauro Quadros lembrou o pioneirismo do cronista ao se declarar gremista dentro da imprensa gaúcha. O comunicador foi o primeiro torcedor do Grêmio e a ter participação fixa no programa de debates da emissora.
— Ele quebrou um tabu histórico. Aqui, nessa dicotomia regional, nessa grenalização, como é com Peñarol e Nacional, com Cruzeiro e Atlético, o Sant'Ana quebrou um tabu. Surgiu um cara identificado com o Grêmio. "Como é que é? Um jornalista que é gremista?". Hoje, alguns jornalistas não veem problema nenhum nisto – comentou em entrevista à Rádio Gaúcha.
Multimídia e pitoresco
Paulo Sant'Ana se tornou ainda mais popular no Rio Grande do Sul com os comentários no Jornal do Almoço, na RBS TV. Ali, apresentou-se em diversas oportunidades com a camisa do Grêmio. Ele também surpreendeu, como na vez em que se vestiu de baiana (por ocasião da final do Brasileirão de 1988, entre Inter e Bahia), quando entrou ao vivo com chapéu de mosqueteiro e um peixe cravado em um espeto (o Grêmio havia eliminado o Santos na Libertadores de 2007), ao imitar os pulos do goleiro Kidiaba nos estúdios da televisão ou ao vestir a camisa do rival (como prometera ao duvidar da vitória colorada sobre o Flamengo pela Copa do Brasil de 1996).
Ser um representante gremista na imprensa não impediu Sant'Ana de ser um crítico voraz de jogadores, técnicos ou dirigentes do clube. As opiniões, contudo, não afastaram o jornalista dos braços dos torcedores, que, inclusive, tiveram a oportunidade de o ver dentro de campo (isso mesmo!) em jogos do time.
Um dos momentos mais simbólicos da mistura entre Sant'Ana e Grêmio ocorreu na vitória sobre o Hamburgo, no Mundial de 1983. Ao final da partida, o cronista, além de participar da jornada da Rádio Gaúcha de dentro do campo, tirou fotos com os atletas, deu volta olímpica e até colocou a mão na taça para "erguê-la", afinal, também se sentia parte ativa daquela conquista. Antes da final contra a Portuguesa, no Brasileirão de 1996, Sant'Ana percorreu o estádio para empolgar as arquibancadas do Olímpico. Em 2012, emocionou gremistas ao caminhar pela pista atlética do Velho Casarão, com a placa "Adeus, Olímpico", em alusão ao que era para ser o último jogo do estádio, o Gre-Nal de 2 de dezembro de 2012.
Paulo Sant'Ana morreu em 19 de julho de 2017, aos 78 anos, em Porto Alegre, vítima de insuficiência respiratória e infecção generalizada. Imortal como o lema do Grêmio, continua vivo para gerações de gremistas, colegas e leitores em geral, que aprenderam a amar, conviver ou discordar do velho Pablo — como se chama uma de suas personalidades.
Quem foi
Francisco Paulo Sant'Ana
- Nascimento — 15 de junho de 1939, em Porto Alegre
- Morte —19 de julho de 2017, em Porto Alegre (78 anos)
- Onde trabalhou — Passou por veículos como Rádio Gaúcha, RBS TV, Zero Hora e TV Difusora