O destino coloca o Estudiantes e a animada torcida local do Estádio Uno novamente no caminho do Grêmio na Libertadores. Um confronto que tem implicações que podem lembrar o que o Tricolor enfrentou na Batalha de La Plata, em 1983. Na época, deixou a Argentina com o objetivo alcançado.
Agora, 41 anos depois, o futuro gremista na Libertadores depende novamente de um resultado positivo a partir das 19h desta terça-feira (23). Após duas derrotas contra The Strongest e Huachipato, o time de Renato Portaluppi precisa vencer para não ser virtualmente eliminado nesta noite.
Projetando a terceira rodada, o melhor cenário possível é um empate ou vitória do Huachipato contra o The Strongest. Caso essa sequência de resultados se confirme, os chilenos liderariam o grupo com cinco ou sete pontos. O time boliviano, com dois jogos a fazer na altitude de La Paz, empataria com o Estudiantes em quatro ou seguiria com três. E nos três jogos restantes, com duas partidas na Arena contra os argentinos e o The Strongest, a classificação estaria ao alcance gremista.
Antes de pensar no futuro, o Tricolor precisa resolver o problema do presente. E que traz lembranças de um passado de glórias.
Em 1983, na fase semifinal, o Grêmio tinha Estudiantes e América de Cali como adversários no seu grupo. Na penúltima rodada, o Tricolor viajou à Argentina e abriu uma vantagem confortável. Vencia o jogo por 3 a 1, incluindo um gol de Renato, e com o camisa 7 pedindo para a torcida fazer silêncio. Depois, avançou à final contra o Peñarol, quando conquistaria seu primeiro título da Libertadores.
— Alguém chegou nele e pediu para não fazer. Renato já estava invocado. Só provocou uma revolta maior. Se terminasse com vitória, não sei se estaríamos conversando. Foi um livramento. Só ficamos seguros dentro do vestiário. E isso que tinha segurança a mais contratada pelo Grêmio — relembra o lateral-direito Paulo Roberto.
"Guerra"
Antes mesmo de a bola rolar, a delegação já teve problemas para chegar ao estádio. O grupo foi recebido com pedras e o que mais as mãos dos argentinos pudessem arremessar.
— Chegamos lá com o ônibus com as janelas estouradas. Nos apedrejaram. Alguns deitaram no chão para se proteger na chegada ao estádio. Dentro de campo, superamos tudo. Aquela guerra campal que teve foi difícil. Foi um jogo difícil. Era um time que se mantinha na Libertadores. Mas dentro de campo resolvemos — disse Osvaldo, autor do primeiro gol gremista da partida.
No intervalo, Caio foi agredido e teve que deixar o campo. Preso entre torcedores e jogadores do adversário no túnel de saída do gramado, o centroavante acabou preso do lado de fora do vestiário. Por sorte dos demais jogadores, um segurança barrou a entrada de mais agressores no local. Cesar entrou em seu lugar e fez o segundo gol do Grêmio na partida.
Já com dois jogadores a menos, e com mais ou menos 20 minutos para terminar a partida, o lateral-direito Camino foi expulso. Seis minutos depois, o atacante Tevez também recebeu o cartão vermelho. E a reação improvável dos donos da casa se confirmou com um gol de Gurrieri e outro de Russo para terminar o 3 a 3.
Na realidade atual, La Plata ameaça mais pela qualidade do time do que por eventuais problemas extracampo. Uma realidade que já se observou em outros jogos no estádio. E que se confirmou sem o clima bélico nos anos seguintes, como foi em 1997 e depois em 2018.
— La Plata mudou. A década de 80 foi marcada por muitos distúrbios causados pela torcida local. Só o Grêmio teve problemas naquele jogo de 1983 e depois outro em 1990. A recepção foi o retorno do Grêmio a La Plata de tantos tumultos. O fato de estarem retornando da punição naquele jogo, criou um ambiente altamente cordial. O estádio estava dotado de melhor estrutura, para a torcida e também para a imprensa — diz José Alberto Andrade, repórter da Rádio Gaúcha.
Com ou sem torcida barulhenta como adversária, o Grêmio aposta seu futuro no jogo desta noite. Uma partida que colocará o Tricolor novamente no caminho da decisão, como foi em 1983, ou encerrará antecipadamente a jornada gremista na Libertadores.