Ao começo de todo Campeonato Gaúcho a grande expectativa é que Grêmio e Inter decidam a hegemonia estadual. No entanto, o "novo normal" é bem longe de finais com clássicos Gre-Nais. Do começo do século XXI até a edição de 2024, o Gauchão foi decidido entre as duas maiores equipes do Estado em apenas sete das 24 edições — 2006, 2010, 2011, 2014, 2015, 2019 e 2021.
E o hábito dos últimos anos ocorrerá mais uma vez nesta temporada. A partir do próximo sábado, às 16h30min, Grêmio e Juventude começarão a decidir o campeonato no Alfredo Jaconi (o jogo de volta será no dia 6 na Arena). O time de Caxias é uma das sete equipes do Interior que conseguiram impedir que o Gauchão acabasse com um Gre-Nal, inclusive é o que mais vezes esteve na decisão depois dos dois clubes da Capital (cinco oportunidades - 2001, 2007, 2008, 2016 e agora 2024).
Ao lado da Papada, estão 15 de Novembro (2002, 2003 e 2005), Ulbra (2004), Caxias (2009, 2012, 2020 e 2023), Brasil-Pel (2018), Novo Hamburgo (2017) e Ypiranga (2022).
A verdade, é claro, passa muitas vezes pela incapacidade da dupla Gre-Nal de passar por fases preliminares, até mesmo se eliminando em quartas ou semifinais. No entanto, o mérito também é das equipes menores que, mesmo com investimento inferior, conseguem superar a força de Grêmio e Inter. De 2001 para cá, o Gauchão também passou por mudanças de fórmulas, com divisões em turnos ou, então, fases preliminares e depois mata-matas. Em 2013, por exemplo, o Colorado venceu o primeiro e o segundo turno e nem final existiu.
Além disso, em alguns momentos, a Dupla priorizou outros campeonatos, começando o Estadual com uma equipe alternativa, como foi em 2018 com o Grêmio. Na "ressaca" da conquista da Libertadores e da disputa do Mundial, o time de transição iniciou a disputa do Gauchão. Isso, na sequência do torneio, fez com que Tricolor e Inter se enfrentassem nas quartas, com o time de Renato Portaluppi levando a melhor.
Em 2005, quando o campeonato ainda contava com 18 times, um fenômeno do Interior se consolidava na elite gaúcha. Depois do vice-campeonato em 2002 e 2003, o 15 de Novembro, de Campo Bom, chegava a sua terceira final em quatro anos. Com o Gauchão dividido em duas fases antes da decisão, o time da Região Metropolitana superou o Grêmio na chave e garantiu vaga na final.
— Esse trabalho foi tão bom que ele serve de referência para esse desenho das coisas que eu entendo de futebol hoje, como técnico. Era um time que tentava jogar o tempo, principalmente contra a Dupla. Era um grupo tecnicamente muito forte também, que gostava de jogar o jogo, que gostava de viver o processo— afirma Luizinho Vieira, atleta do 15 de Novembro à época.
Atual técnico do Amazonas-AM, Luizinho também levou o Ypiranga à final do Gauchão de 2022, quando liderou a fase preliminar e decidiu o título contra o Grêmio.
— O pilar principal para mim do sucesso do Ypiranga de 2022, ele passa muito pelo modelo, pela ideia central de jogo que eu tenho hoje. Um time de proposição, um time que sempre tentasse ser dominante ao adversário, seja ele quem for, aonde for. Até pintou o apelido do Canário Mecânico, porque tudo se encaixou, mas passa por esse modelo agressivo — explicou.
O único time tirando a Dupla Gre-Nal que conseguiu chegar à final no século e sair com o título foi o Novo Hamburgo em 2017. E com justiça. A equipe do Vale do Sinos liderou a fase preliminar, eliminou o São José nas quartas com duas vitórias por 1 a 0 e bateu o Grêmio nas semifinais nos pênaltis. Na final, o título foi decidido mais uma vez na marca da cal, com o Noia vencendo o Inter.
— Eu acredito que o principal foi a união. Eu acho que nós construímos uma grande família, um trabalho muito bem comandado pelo professor Beto Campos, onde vinha da comissão já essa parceria, essa união, e isso passou para o vestiário. Eu acho que isso foi fundamental e que nos levou àquele título inédito — recorda Preto, capitão e campeão com a equipe de Novo Hamburgo.
Nos últimos cinco anos, o Caxias conseguiu chegar duas vezes à final do Gauchão, ambas contra o Grêmio — 2020 e 2023. Na primeira, era comandado por Rafael Lacerda. Naquele ano, o campeonato era dividido em dois turnos. O primeiro foi conquistado justamente pela equipe da Serra. Em jogo único, venceu o Tricolor por 1 a 0.
Com o time de Renato Portaluppi vencendo o returno, as duas equipes se reencontraram na grande decisão. O Grêmio venceu em Caxias por 2 a 0. O Grená até venceu na Arena, mas por 2 a 1 e ficou com o vice-campeonato.
— A gente pensou numa equipe experiente (para chegar à final). Era o meu primeiro trabalho como técnico profissional. E a gente montou uma espinha com jogadores experientes. Um goleiro, um zagueiro, um volante, um meia e um centroavante. E o outro fator principal foi a coragem dos atletas. A coragem de enfrentar o Grêmio, o Inter, os jogos grandes. E eles acreditaram no meu trabalho e nas minhas ideias e acabou dando tudo certo — relembra Lacerda.
Todas as finais do Gauchão do século XXI
- 2001 - Grêmio x Juventude
- 2002 - Inter x 15 de Novembro
- 2003 - Inter x 15 de Novembro
- 2004 - Inter x Ulbra
- 2005 - Inter x 15 de Novembro
- 2006 - Grêmio x Inter
- 2007 - Grêmio x Juventude
- 2008 - Inter x Juventude
- 2009 - Inter x Caxias
- 2010 - Grêmio x Inter
- 2011 - Inter x Grêmio
- 2012 - Inter x Caxias
- 2013 - não teve final, Inter venceu os dois turnos
- 2014 - Inter x Grêmio
- 2015 - Inter x Grêmio
- 2016 - Inter x Juventude
- 2017 - Novo Hamburgo x Inter
- 2018 - Grêmio x Brasil-Pel
- 2019 - Grêmio x Inter
- 2020 - Grêmio x Caxias
- 2021 - Grêmio x Inter
- 2022 - Grêmio x Ypiranga
- 2023 - Grêmio x Caxias
- 2024 - Grêmio x Juventude
*Os times da esquerda foram campeões