O Grêmio estendeu a mão para ajudar Luan. A torcida o abraçou com festa na chegada a Porto Alegre no começo da tarde de quinta-feira (27). A primeira parte do processo de retorno do ídolo gremista está concluída. O próximo passo será colocar o novo contratado em condições de jogo.
Então, surgirá a tarefa de Renato Portaluppi de encaixar no seu time um jogador que não entra em campo desde o fim do ano passado e tem uma qualidade técnica que faz os gremistas suspirarem, mas traz consigo uma especificidade de posicionamento de fazer o técnico matutar sobre como escalá-lo.
Um Luan em seus tempos áureos tinha a qualidade técnica de um meia, a capacidade de driblar como um atacante de lado e a precisão de arremate de um atacante de área. Embora a reunião dessas características seja positiva do ponto de vista técnico, pode ser problema para posicionar ele e o time, já que não é um camisa 10 clássico, nem ponta driblador, tampouco um centroavante matador. A soma de suas valências o colocam em uma posição que perambula pelas outras três.
Foi um pouco assim que funcionou na sua primeira passagem pelo Grêmio, entre 2014 e 2019. Naquele período, teve duas funções marcantes. Uma delas foi jogar como falso 9 que em determinados momentos recuava e revezava como jogador mais adiantado com Douglas. Depois, atuou como meia central na linha de três atrás do centroavante Barrios.
— Nos dois posicionamentos, ele teve o mesmo tipo de movimentação, de flutuar entre a defesa e o meio-campo adversário, com liberdade e pouca obrigação de marcação. Talvez venha daí a dificuldade que ele teve de se encaixar em outros cenários, quando teve de dividir a atenção com jogadores que têm a mesma necessidade do que ele — avalia Rodrigo Coutinho, comentarista do SporTV.
A questão é que para este quadro, o técnico Renato Portaluppi teria de mudar o esquema, abandonando o sistema com três zagueiros pelo 4-2-3-1 utilizado no começo do ano, quando montou linha com Bitello, Cristaldo e Vina. Caso a ideia seja retomada, Luan ingressaria na vaga que era do ex-jogador do Ceará, com Cristaldo atuando pelo lado esquerdo.
Nos quatro anos de Corinthians e no semestre em que passou no Santos, o camisa 7 também teve posicionamento centralizado. No clube da Capital paulista atuou em um esquema com três zagueiros quando o técnico era Vagner Mancini. Parece um caminho simples, mas nem tanto. Mancini utilizava uma diagramação diferente de peças.
Aquele Corinthians tinha dois atacantes e Luan centralizado atrás deles. Os três zagueiros de Renato contam com dois meias que jogam de fora para dentro e apenas Luis Suárez como atacante. Mesmo assim, segundo Raul Ando, analista de desempenho do Canal Categoria, há espaço para o Rei da América de 2017.
— No esquema utilizado em Grêmio e Flamengo, o Luan poderia jogar no lugar do Bitello e no do Cristaldo, embora não seja um cara que faz o meio de campo sendo mais exigido na marcação. Acho que não tem mais condição física para cobrir o corredor, de jogar pelas pontas. Vai precisar de dois homens de contenção atrás dele, sem desfazer os três zagueiros. Acho que é mais uma adaptação individual do Luan do que propriamente mudar o esquema para encaixar o Luan — opina.
O uruguaio pode ser outro elemento importante na decisão de Renato de posicionar o novo camisa 7. Se as dores no joelho do centroavante o fizeram ser desfalque, Luan pode atuar como falso 9, emulando seu início de carreira.
— Já que Renato não tem opção de banco confiável para o centro de ataque, ele poderia jogar como um falso 9 quando o Suárez não jogar. No esquema do Renato, o Luan encaixa com bola, pela liberdade de movimentação, mas tem essa especificidade de voltar pouco para marcar. Mas o Renato sabe usá-lo. Não precisa mudar o esquema, desde que tenha menos obrigação defensiva — comenta Coutinho.
Esses são os desafios que Renato e Luan terão daqui para frente.